Em que ficar de olho na reunião dos acionistas da Usiminas nesta terça-feira?

Os acionistas controladores da Usiminas devem retomar sua "eterna" disputa na justiça amanhã, disputando mais uma vez na 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Marina Neves

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SÃO PAULO – Vindo de uma longa novela desde o final do ano passado, a briga entre as duas companhias do bloco controlador da Usiminas (USIM3; USIM5) – a argentina Ternium-Technit e a japonesa Nippon Steel – deve ganhar desdobramentos ainda mais dramáticos nesta semana.

Acompanhando tudo com uma lupa, os investidores ficarão de olho nesta terça-feira (24), que promete ser o “dia D” da siderúrgica: os acionistas controladores da Usiminas devem retomar sua “eterna” disputa na justiça, segundo o Valor. Eles irão se defrontar outra vez na 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. O tribunal vai julgar o requerimento da Ternium de recondução de três executivos afastados de seus cargos em setembro do ano passado. Segundo assessoria de imprensa do tribunal, a audiência começa às 13h00 (horário de Brasília).

Em outubro, o desembargador Vicente Silva manteve a decisão do afastamento, negando a liminar pedida pela Ternium.

Mais uma vez, portanto, o investidor preparará a pipoca (e o home broker) para acompanhar de perto outro capítulo da novela que estrela a briga de Japão e Argentina. O analista da XP Investimentos Ricardo Kim explica que é difícil precisar como vai ser o novo confronto, mas que com certeza os novos desdobramentos poderão acentuar ainda mais a briga entre as duas e, além disto, terão influencias na assembleia extraordinária acionada pelos minoritários.

Ainda sem previsão de acontecer – mas esperada para ocorrer ainda em março -, a Assembleia Geral Extraordinária dos minoritários para anunciar um novo presidente para o conselho de administração deve ser o próximo grande ato da novela interminável da Usiminas, como explica o analista. Enquanto o mercado segue sem previsão, os analistas continuam acompanhando a novela. 

Hoje as ações preferenciais da companhia fecharam com perdas de 4,66%, a R$ 3,88, enquanto os ativos ordinários fecharam com queda de 10%, a R$ 16,20; no início deste mês os papéis ON dispararam na Bolsa com a entrada do BTG Pactual na briga por participação societária na siderúrgica, uma vez que está brigando para colocar alguém de lá na presidência do conselho de administração na assembleia que deverá ser acionada.

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A disparidade entre ativos ON e PN tem sido constantemente vista a cada novo episódio da briga societária, uma vez que somente os papéis USIM3 possuem a ferramenta de proteção de minoritários “tag along”, que estende a oferta dos controladores aos minoritários, caso algum destes queira sair em meio à saída de alguma das companhias do bloco.

Nos últimos capítulos…
O primeiro capítulo ocorreu no final do ano passado, quando os investidores viram a briga entre Japão e Argentina chegar na Bolsa de Valores após a destituição de três grandes executivos da Usiminas pelo recebimento de cerca de R$ 1 milhão ilegais; logo após, novo R$ 1,74 milhão foi descoberto pelo conselho de administração, o que acirrou ainda mais a disputa entre as duas, uma vez que a Nippon foi à favor que “as cabeças rolassem”, enquanto a Ternium defendia a permanência dos executivos na empresa já que foi ela quem os indicou para os cargos.

No final de janeiro, no entanto, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou um pedido da CSN (CSNA3), de Benjamin Steinbruch, para investigar a entrada da Ternium no bloco de controle da siderúrgica lá em 2013. Segundo a CSN, os argentinos sonegaram informações na época da aprovação da participação de 27,4% da Usiminas. A recordar: Steinbruch há muito tempo sonha em entrar no bloco de controle da siderúrgica mineira, tendo inclusive tentado isso adquirindo ações USIM3 direto do mercado em 2013, fato este que levou a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) a proibi-lo de realizar novas compras.

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Aqui vale relembrar que quando a Ternium comprou sua participação na Usiminas, eles deveriam ter acionado a ferramenta do “tag along”, que estende a oferta feita aos controladores para os minoritários, para proteger aqueles que queriam sair dos papéis; no entanto, a argentina não realizou a operação. A CSN, portanto, pede que agora a Ternium pague o que pagou na época para os controladores, aos minoritários, realizando um “tag along” atrasado – como uma espécie de “multa”.

Em comunicado na época, a Ternium declarou que a CSN está “tumultuando” a evolução dos negócios da siderúrgica. “A Ternium está segura de que tudo não passa de mais uma tentativa de má-fé da CSN de tumultuar o pleno andamento dos negócios da sua principal concorrente, a Usiminas, algo que a CSN já vem fazendo há algum tempo e, inclusive, já foi repreendida”, disse a empresa em comunicado.

No início de fevereiro, novos capítulos puxaram uma nova disparidade nos papéis ordinários e preferenciais da companhia. Na ocasião ocorreu um possível fluxo de compra de grandes investidores que procuravam participar do conselho da companhia, como explica a Guide Investimentos: o BTG Pactual está comprando USIM3 e disputando com o investidor Lírio Parisotto a presidência do conselho da siderúrgica. Quem tiver maior participação poderá indicar um novo presidente para ocupar uma cadeira no conselho em assembleia marcada para abril, caso as duas partes do bloco de controle da Usiminas não cheguem a um acordo. As informações são da Exame.

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Na teleconferência
Em meio aos capítulos da novela, o presidente da siderúrgica, Rômel Erwin de Souza, tentou tranquilizar os investidores em teleconferência sobre a briga societária na Usiminas e disse que o trabalho da atual administração é de continuidade. “Não há mudança, estamos alinhados na busca de melhores resultados”, afirmou.

Em setembro, ele substituiu Julián Eguren, que ocupava o cargo desde 2012, após a Ternium ingressar no capital da siderúrgica. Eguren e outros dois diretores foram destituídos pelo conselho da Usiminas, em reunião sem consenso e que provocou um racha entre seus dois acionistas controladores, Ternium e Nippon Steel. A Nippon alega que os executivos receberam bônus de forma irregular, o que justifica as destituições.

A Ternium nega e briga na Justiça de Minas Gerais sob a alegação de que houve quebra do acordo de acionistas, que prevê que para uma destituição é preciso haver consenso entre os acionistas do bloco de controle. O julgamento do caso ocorrerá na próxima terça-feira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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(Com Reuters)