E se ficar em casa for o novo normal? Bradesco BBI estima impactos para Ambev e frigoríficos

Consumo de cerveja cairia 21% no Brasil, diz estudo, enquanto o consumo de bebidas não alcoólicas deve subir

Paula Zogbi

Publicidade

SÃO PAULO – Na Segunda Guerra Mundial, a ocupação de postos de trabalho masculinos por mulheres era para ser uma situação temporária, enquanto os homens estavam nos campos de batalha. Tornou-se uma condição permanente – e os analistas do Bradesco BBI temem que algo semelhante possa acontecer após o término da pandemia da Covid-19.

Leandro Fontanesi, especialista em análise dos setores de alimentos e bebidas, disse, em relatório de 14 páginas, que o cenário-base da instituição é que o consumo de alimentos e bebidas fora de casa retome os patamares pré-crise, mas existe uma “preocupação” com uma mudança mais permanente de hábitos, com base em eventos passados e pesquisas.

“A epidemia de SARS entre 2002 e 2004 levou a um aumento significativo nas assinaturas de banda-larga e um impulso duradouro para o e-commerce”, exemplifica a publicação. Uma pesquisa da Nielsen na China, onde começa uma reabertura após o período mais grave de contaminação,  mostrou que 86% das pessoas planejam comer mais frequentemente em casa na comparação com o período antes da Covid-19.

Os efeitos

Um cenário com 50% menos consumo de alimentos e bebidas fora de casa levaria, por exemplo, a uma queda de 21% nas vendas de cerveja no Brasil, estima Fontanesi. Nacionalmente, 58% das pessoas preferem beber cerveja quando estão fora de casa, mas apenas 19% têm preferência pela bebida domesticamente.

Por outro lado, o mesmo cenário levaria a um aumento de 11% no consumo de bebidas não alcoólicas, pelos cálculos do BBI. O impacto para a Ambev (ativo=ABEV3]) seria de queda de 3% no Ebitda no caso mais moderado (diminuição de 10% nas atividades fora de casa) e de 14% no caso mais extremo (redução de 50%), estima o analista.

-10% no consumo externo -20% -30% -40% -50%
Impacto no Ebitda Ambev -3% -6% -8% -11% -14%

Do ponto de vista de alimentos, o estudo do BBI aponta para uma queda de 4% no consumo de proteínas na soma de Estados Unidos, China e Brasil em um cenário de reclusão de 50% – o que afetaria em cheio as empresas de proteínas listadas na B3. De forma segmentada, espera-se queda de 25% no consumo de peixe, 60% para porco e 15% alimentos processados.

Continua depois da publicidade

“Dado que os mercados de proteínas são interconectados (Brasil, China e EUA correspondem a cerca de 50% do comércio mundial de proteína), nos preocupamos que os preços para carne e frango globalmente sofram com tal queda na demanda”, escreve Fontanesi. É esperada, nesse cenário, queda de 12% para o Ebitda da BRF (BRFS3), 9% para a JBS (JBSS3) e 8% para Marfrig (MRFG3).

Confira os impactos para as ações avaliadas em cada cenário:

-10% no consumo externo -20% -30% -40% -50%
JBS -2% (Ebitda) -4% -5% -7% -9%
BRF -2% -5% -7% -10% -12%
Marfrig -2% -3% -5% -6% -8%
Média -2% -4% -6% -8% -10%

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney