Do grafite ao silício: Faber-Castell usa CVC para se conectar com novos tempos

Conhecida pelos materiais escolares, grupo alemão vê na tecnologia oportunidade para criar braços de negócios

Wesley Santana

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Todo começo de ano, as lojas do varejo são tomadas pela chamada “onda vermelha”, em que a marca e os produtos da Faber-Castell ganham destaque nas prateleiras em virtude do período de volta às aulas. Mas o amplo portfólio de itens de papelaria -que começou a ser construído no século 18- enfrenta os desafios de uma geração hiperconectada, sobretudo com crianças e adolescentes que tiveram aulas totalmente remotas durante a pandemia.

Neste cenário, um dos principais desafios da empresa alemã é se conectar com o novo comportamento do consumidor e com os novos desafios do setor educacional, que mudaram muito ao longo do tempo e deve continuar neste mesmo ritmo nos próximos anos, mesmo que a passos lentos. A adoção de tecnologias dentro das salas de aula é uma prova disso.

Embora o uso de lousas digitais em escolas de ensino fundamental tenha crescido pouco, de 12,6% para 15%, entre 2019 e 2022, segundo o Censo da Educação, do MEC, o uso de internet para ensino e aprendizagem saltou de 41,2% para 58,4%, também nas escolas de ensino fundamental.

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E toda a indústria de educação está de olho nesses movimentos, formando negócios bilionários ao redor do mundo. Em 2021, duas das principais edtechs, as norte-americanas Anthology e a Blackboard, se fundiram, em uma transação avaliada em R$ 15 bilhões, para criar um ecossistema global de educação digital com foco em todo o ciclo de vida dos alunos.

Nesta mesma linha, a Faber-Castell mantém uma área específica para cuidar da transformação digital, comandada por Bruna Tedesco, diretora de inovação e novos negócios. A executiva destaca que, entre outras verticais, a companhia tem um fundo de investimentos corporativo (CVC, na sigla em inglês), criado para analisar eventuais compras de participações em empresas de tecnologia e startups.

Embora a marca tenha sido fundada na Alemanha e atue em 120 países, a filial brasileira foi quem deu o pontapé inicial neste formato de capital de risco, com o objetivo de suprir as atuais demandas do setor educacional, no Brasil e no mundo, e lançar outros braços de serviços.

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“Nós montamos o CVC em uma parceria com a Endeavor, e fomos a primeira iniciativa voltada ao setor de educação, há dois anos, quando tivemos o primeiro contato com o ecossistema de startups. A partir deste momento, não só começamos a ser vistos por elas como potencial investidor, mas passamos a ter abertura com muitas delas para fazer um mapeamento de quais seriam interessantes para a nossa estratégia de negócio”, explica.

A carteira de investidas, hoje, conta com três startups, mas o total deve chegar a seis ainda neste ano, com a conclusão de negociações que estão em andamento. Para Tedesco, o principal objetivo do CVC é se aproximar de soluções criativas que possam, de alguma forma, interagir com o núcleo do negócio centenário.

“A educação é o nosso território natural, mas somamos a ele a questão da criatividade, pois somos uma marca que fomenta e desperta esse potencial nas pessoas. Olhamos para edtechs buscando ter uma troca maior e com o foco de fazer investimentos que sejam bem sucedidos. Dentro da nossa tese, um dos pontos é a observação de startups que estejam em fase de crescimento, com produtos que sejam interessantes e tenham base tecnológica”, comenta.

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Sem caderninho de aviso

A primeira startup investida pela Faber-Castell foi a Layers Education, que desenvolve um ecossistema de comunicação e engajamento escolar. Atendendo mais de 700 mil estudantes, a empresa mantém uma plataforma que reúne as principais ferramentas que uma instituição de ensino precisa para gerenciar o negócio de dentro para fora.

Uma das soluções é um aplicativo de celular que facilita a troca de mensagens entre pais e professores, dispensando o temido bilhetinho no caderno. O serviço ainda permite que os responsáveis vejam a galeria de fotos dos alunos -em uma espécie de feed-, acompanhem a agenda de eventos educacionais na tela do celular e façam autorizações digitais, como o de ida a uma excursão.

A carteira de clientes da Layer engloba desde creches a escolas de ensino médio, com diversos nomes reconhecidos no setor de educação, como Colégio Objetivo e o Grupo Marista. A rede de escolas do SESI (Serviço Social da Indústria), que tem mais de 100 mil alunos pelo país, também faz parte do portfólio.

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Danilo Yoneshige, CEO e cofundador da edtech, detalha que a meta é chegar a 8 mil escolas de diversos grupos educacionais, tendo como premissa não receber investimentos dos grandes conglomerados que dominam a educação no país. Ele explica que essa estratégia dá à startup um status neutro no mercado, permitindo que ela seja procurada por qualquer escola, independente da marca principal a qual esteja vinculada.

“Fizemos uma primeira rodada de investimentos em 2020, quando a Faber pegou uma fatia minoritária e, ao mesmo tempo, abriu sua própria área de CVC. Para nós, isso foi significativo pois trouxemos o primeiro sócio externo, entendendo que aquele era um negócio que valeria a pena para os dois lados”, destaca Yoneshige, que toca a direção junto do sócio Ivan Seidel.

Depois deste primeiro contrato, avaliado em R$ 500 mil, a startup fechou outras rodadas de investimento, até levantar, em janeiro de 2022, mais R$ 11 milhões. A transação teve participação dos fundos Endurance e Square Knowledge Ventures, além da própria Faber-Castell que ampliou sua cota.

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“A empresa não chegou até aqui por acaso. Só chegou porque inovou durante todo esse tempo, então é uma companhia que já tem uma veia inovadora desde o nascimento. Agora, a nossa meta é fazer com que a empresa seja relevante no mercado por mais 260 anos, pelo menos”, pontua Tedesco, diretora da Faber-Castell.

No metaverso e na Web3

Na semana passada, a Faber-Castell também deu seus primeiros passos para a entrada no metaverso e na Web3, solicitando o registro de três patentes de bens virtuais. Segundo documentos enviados aos órgãos norte-americanos, trata-se do desenvolvimento de representação digital (ou NFT, na sigla em inglês) de materiais de desenho, tipos de letra, canetas, giz de cera, lápis, borrachas, réguas, materiais de artista e cadernos.

No pedido, a empresa teria solicitado também o registro de uma loja virtual, onde supostamente estes itens colecionáveis seriam vendidos. A divisão brasileira não comentou o caso, mas, se confirmado, a marca estaria indo pelo mesmo caminho que outros líderes em seus segmentos fizeram para surfar na onda desta que é apontada como a internet do futuro.

A Adidas é uma das marcas que mais tem investido nesta vertente, com a hospedagem de diversos produtos no metaverso. No ano passado, a empresa chegou a criar uma versão NFT de tênis que lhe rendeu mais de R$ 100 milhões em vendas pela cotação do Ethereum na época.