Deságios altos sinalizam otimismo de transmissoras com a queda dos juros

Certame de R$ 15,7 bilhões em investimentos foi disputado por algumas das principais empresas do setor elétrico do país

Rikardy Tooge

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No primeiro grande teste para empresas de capital intensivo em 2023, o setor de transmissão demonstrou enxergar um horizonte mais positivo para os juros diante de sinalizações mais firmes do Banco Central de que um afrouxamento da política monetária está próximo.

Em um disputado leilão promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta sexta-feira (30), que demandará R$ 15,7 bilhões em investimentos nos próximos cinco anos, o deságio médio do certame ficou em 50,97%, acima do observado nos dois leilões promovidos pela Aneel em 2022, de 46,2% e 38,2%, respectivamente.

Antes do abrir dos envelopes, executivos apontavam que existiam muitos riscos operacionais e de custo de capital na mesa, o que tenderia a pressionar os deságios para baixo em relação aos certames anteriores.

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Mas grandes empresas, como Eletrobras (ELET6), Engie Brasil (EGIE3), ISA Cteep (TRPL4), Neoenergia (NEOE3), Alupar (ALUP11) e Taesa (TAEE11) participaram do leilão ativamente, com muitos lotes sendo disputados no viva-voz. “As empresas veem que as curvas de juros estão se estreitando, o que também permitiu que elas fossem mais competitivas nos lances”, analisa Eduardo Sattamini, CEO da Engie Brasil.

A empresa arrematou o lote 5 com deságio de 45,7% e prevê R$ 2,67 bilhões em investimentos até março de 2029. A Engie também terminou em segundo lugar no lote 2, o maior de todos, que prevê R$ 4,35 bilhões de investimentos e ficou com a Rialma Administração e Participações que levou o lote por um deságio de 51%, ou 0,07 ponto percentual maior que o da Engie.

Corrobora para essa percepção o fato de que as empresas deverão começar suas captações de fato daqui um ano, período estimado em média para que todas as licenças obrigatórias para o início das obras sejam obtidas. Atualmente os juros estão em 13,75% ao ano, com um spread em torno de 1,5% para operações do setor. Ao considerar apenas os juros futuros, a taxa é negociada a 11,7%, um alívio importante no custo de capital.

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“Foi um leilão muito difícil, envolve mega projetos e dúvida dos juros na hora da captação. Mas existe uma curva de juros em queda e todos os atores tiveram assessorias que apontaram essa queda. Isso permitiu uma maior competição nos deságios”, reforça Rui Chammas, CEO da ISA Cteep, que deu lance em oito dos nove lotes. A empresa levou os lotes 9 e 7, com deságios de 50,4% e 41,8%, respectivamente, assumindo R$ 2,46 bilhões em investimentos.

Primeiro leilão de transmissão de energia da Aneel em 2023 atraiu os principais players do mercado (Cauê Diniz/B3)

Tanto Sattamini quanto Chammas afirmam que, apesar de os percentuais de deságio chamarem a atenção, eles entendem que as empresas tiveram muita racionalidade na disputa. “São lances que fazem sentido [nos modelos] para serem competitivos o suficiente sem afetar a rentabilidade”, resume o CEO da Engie Brasil.

Outlier chamam a atenção

Apesar de os deságios oferecidos no decorrer do megaleilão terem sido muito próximos, a negociação do lote 1, que prevê R$ 3,16 bilhões em investimentos, chamou a atenção dos atores que acompanharam o certame desta sexta-feira.

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O vencedor foi o Consórcio Gênesis, composto pelas empresas The Best Car e Entec, com um deságio de 66,2% sobre uma Receita Anual Permitida (RAP) de R$ 514,6 milhões. Isso significa que o grupo topou receber R$ 174 milhões por ano para executar a obra – a título de comparação, a segunda colocada, a ISA Cteep, ofertou 44,8% de deságio, ou R$ 283,8 milhões de RAP. Vale reforçar que a oferta do Gênesis, considerada “fora da curva”, acabou por esticar o deságio médio do certame.

Profissionais ouvidos sob condição de anonimato mostraram um certo ceticismo em relação à oferta, vinda de um player pouco tradicional no setor. O consórcio também levou o lote 8, que prevê R$ 260 milhões de aporte, com 55,3% de deságio.

Denis Rildon, que se apresentou como CEO do Gênesis, afirma que o grupo tem capacidade financeira para lidar com os investimentos. Rildon não quis revelar se há outras empresas envolvidas no consórcio, nem mesmo de onde virá o funding para os projetos. Mas afirmou que o grupo possui escritórios em São Paulo, no Nordeste e nos Estados Unidos, além dos profissionais envolvidos no negócio terem ampla experiência em infraestrutura.

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Independentemente das dúvidas, todos os vencedores dos lotes deverão apresentar garantias de acordo com o percentual de desconto feito na proposta vencedora. Para deságios de até 50%, a garantia exigida será de 5% do investimento previsto. Deságios entre 50% e 60%, a garantia será de 7,5%, e deságios acima de 60%, a garantia será de 10%.

Caso algum grupo não atenda aos requisitos estabelecidos pela Aneel, o segundo colocado no certame ganha o direito de assumir o projeto sob as condições oferecidas por ele no leilão e assim sucessivamente.

O próximo leilão da Aneel está previsto para dezembro.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br