De olho em IPO, Trocafone se capitaliza e investe em serviços para donos de celulares

Companhia foca na tese ESG e aposta em diferencial em relação a players famosos, como Enjoei, OLX e Mercado Livre

Rikardy Tooge

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Em outubro de 2021, a Trocafone esteve próxima de realizar sua abertura de capital por meio de uma oferta pública inicial (IPO, em inglês) de ações. Mas a janela de oportunidades se fechou antes que a companhia de venda de celulares e tablets seminovos seguisse adiante com o processo.

“Nós chegamos tarde na janela de IPOs, mas fizemos roadshows importantes para apresentar o nosso modelo de negócios e receber retornos de como poderíamos ser mais atraentes para os investidores na próxima oportunidade”, reconhece o co-fundador e CEO da Trocafone, Guille Freire.

O executivo mantém no radar a expectativa de entrar na Bolsa nos próximos 18 meses e, para manter o patamar de crescimento de dois dígitos, negociou um aporte com seus investidores para esse período. Na lista de financiadores da Trocafone estão Sallfort, Wayra, 500Startups, Lumia Capital e Quasar Ventures.

“Quando decidimos que não dava para sair [o IPO], buscamos nossos investidores e fizemos uma nova captação. São recursos para esses 18 meses, em que esperamos ter uma nova chance de IPO”, reforça Freire, que não divulgou o valor do aporte.

A Trocafone vem reportando crescimento robusto em seu faturamento nos últimos anos. Se em 2021, a companhia arrecadou US$ 59,4 milhões (o equivalente a R$ 302 milhões na cotação de hoje), para 2022 esse número chegou a US$ 87 milhões (R$ 442 milhões). Caso o ritmo de crescimento se mantenha, a empresa espera faturar US$ 130 milhões, ou R$ 661 milhões neste ano.

Segundo uma pesquisa feita pela consultoria IDC, o faturamento do mercado de smartphones usados no Brasil foi estimado em R$ 2,8 bilhões em 2021, com expectativa de atingir R$ 5 bilhões em 2024.

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Ampliando frentes de atuação

Enquanto o plano de abrir capital está na gaveta, a Trocafone acelera iniciativas para além da compra e venda de celulares e tablets usados. Nesta frente, a companhia fez a aquisição do Grupo PLL, especializado no reparo desses equipamentos, no ano passado em um investimento de R$ 125 milhões.

O foco da aquisição é acoplar ao ecossistema da Trocafone mais um serviço para operadoras e seguradoras. Além dos reparos, a empresa já é parceria em programas de troca de aparelhos promovida por companhias de telefonia, como Vivo (VIVT3), Claro e Tim (TIMS3) e de grandes marcas de celulares, no chamado “trade-in”. Na prática, a Trocafone adquire, com um desconto, os aparelhos usados obtidos nesses programas de fidelidade e revende ao mercado com um spread.

Neste sentido, a Trocafone acaba por se diferenciar de outros players já listados na Bolsa, como Enjoei (ENJU3) e Mercado Livre (MELI34) além da OLX, uma vez que ela é a responsável pela venda direta do produto. Também não pode ser comparada com grandes varejistas, como Magalu (MGLU3) e Via (VIIA3), já que atua apenas como aparelhos seminovos. Isso, na visão do executivo, é um diferencial.

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“Nós somos líderes na venda de seminovos, e é um mercado que cresce muito porque ele é contracíclico. Nossa marca virou referência desse tipo de venda, é uma credibilidade que construímos ao longo dos anos”, afirma o CEO.

Dê olho nesse mercado, a Allied Tecnologia (ALLD3), criou a Trocafy, uma marca que tentará concorrer com a Trocafone.

Guille Freire, CEO da Trocafone (Divulgação)
Guille Freire, CEO da Trocafone: Companhia não tem peers na Bolsa (Divulgação)

Para garantir a integridade dos aparelhos revendidos, a Trocafone afirma que toda a parte técnica como a de segurança são investigadas antes de adquirir um aparelho. Para isso, a empresa utiliza a base de dados GSMA, em que é considerada uma das principais fontes do segmento.

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“Por meio dessa lista, consultamos o IMEI, o número de identificação individual de cada aparelho, para saber de todo seu histórico. Com isso, evitamos que smartphones provenientes de furtos, por exemplo, entrem em nosso estoque”, explica a companhia.

Tese ao mercado

Além do diferencial que possui em relação a outros players de mercado e de ser um negócio que consegue avançar em momentos de retração econômica, outra tese que a Trocafone pretende validar com o mercado é a de reduzir o lixo eletrônico, apostando na pauta ESG (ambiental, social e governança, em inglês).

A empresa se posiciona no segmento de economia circular e aponta que tem obtido êxito em evitar o desperdício de eletrônicos. Desde 2014, quando a Trocafone foi fundada, a empresa afirma que reintegrou 2 milhões de aparelhos ao mercado, evitando mais de 17 milhões de toneladas de lixo eletrônico.

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Caso os celulares e tablets em posse da Trocafone se tornem obsoletos, a companhia diz que faz o descarte correto dos equipamentos.

Equipamento da Trocafone para venda de celulares usados (Divulgação)
Equipamento da Trocafone para venda de celulares usados (Divulgação)

“Celulares adquiridos ou descartados por clientes em lojas, e que não podem seguir em nosso ciclo de economia circular, são encaminhados para parceiros homologados, responsáveis pela desmontagem, separação de peças e destinação de cada tipo de componente, seja para reutilização ou reciclagem”, reforça.

Em outra frente, a Trocafone quer avançar no mercado de seguros para celulares, por meio de parceria com operadoras e lojas de eletrônicos. Há também planos para colocar de pé uma vertical de serviços financeiros para que a empresa possa capturar oportunidades também no financiamento dos aparelhos vendidos por ela.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br