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SÃO PAULO – Com parte das atividades industriais suspensas, as impressoras 3D do país estão sendo utilizadas na luta contra a pandemia de coronavírus.
Mais de 45 mil casos da doença foram confirmados no Brasil e, com os números de morte e internações aumentando, profissionais de saúde relatam a falta de equipamentos de proteção individual (EPI) no atendimento a pacientes infectados com Covid-19.
Entre meados de março e abril, a Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), juntos, receberam quase 8 mil denúncias sobre falta de EPIs, o que poderia levar ao agravamento do surto.
Diante do cenário, empresas públicas e privadas, lojas, escolas, universidades e grupos autônomos se mobilizam para produzir milhões de protetores faciais de plástico para profissionais de saúde.
Gigantes de tecnologia e transporte, como Apple, Fiat e PSA, dona das marcas Peugeot e Citroën, realizam adaptações em algumas linhas de montagem de suas fábricas para se dedicar à impressão de protetores faciais, enquanto instalações de impressão 3D em universidades e escolas, como UFES, UFRJ e unidades do Senai entram para ajudar a fornecer moldes e intensificar a impressão de protetores faciais para hospitais locais.
Rede de solidariedade
Fora das grandes instituições, há grupos autônomos em prol da causa. O Makers Contra Covid-19 é um grupo autônomo que se organiza através da internet para atuar no combate ao vírus. Os voluntários utilizam da tecnologia de impressão 3D para produzir máscaras faciais a partir das experiências vividas na China e Itália.
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De acordo com o grupo, garantir a segurança dos profissionais de saúde é primordial para que o Sistema Único de Saúde (SUS) garanta a sobrevivência da população, principalmente das camadas mais vulneráveis.
Além de enviar protótipos para impressão, protocolos de limpeza e demais orientações para garantir a produção de forma segura, o Makers Contra Covid-19 ainda atua em outras frentes, ajudando na montagem, logística e distribuição das máscaras, produção de vídeos e captação de recursos e doações.
Todo o processo é feito por voluntários entusiastas da cultura maker, que aposta nas redes entre grupos e pessoas aliada à tecnologia para criar soluções mais acessíveis.
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Essa forma de mobilização permite que indivíduos e pequenos fabricantes também produzam protetores faciais de proteção. Pessoas como Charles Esteves Lima, professor e proprietário do fab lab Adoro Robótica, utiliza desse ambiente colaborativo para compartilhar informações e ajudar durante a pandemia.
Através do grupo Impressão e Prototipagem, que conta com mais de 400 integrantes de todo território brasileiro, o professor e outros membros discutem sobre melhores práticas para agilizar o processo de produção dos equipamentos de proteção.
“Trocamos informações técnicas sobre os elementos à base de resinas plásticas que vamos utilizar e qual o melhor formato para a impressão. Além disso, também compartilhamos quem precisa utilizar os equipamentos 3D, quais estão disponíveis em determinadas áreas e quais os hospitais e centros de saúde que estão mais necessitados”.
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Segundo o professor, essa rede conecta polos em cada estado, para que máscaras e outros itens cheguem a quem precisa.
“As faces shields, por exemplo, são impressas utilizando bobina de acetato, porém em alguns lugares não é possível encontrar o material. Neste caso, também aceitamos doações de acetato em A4, mas precisamos orientar os makers sobre como moldar os parâmetros para este formato”, explica o professor.
Em Minas Gerais, pesquisadores, engenheiros e designers da comunidade Trem Maker se uniram a startup de educação online, Hotmart, para produzir protetores faciais por meio de impressão 3D e contribuir na segurança dos profissionais de saúde do estado.
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O projeto está sendo desenvolvido desde o mês de março e para ajudar no custeio e distribuição dos equipamentos, a Hotmart criou um fundo de R$ 1 milhão.
“Estamos tentando proteger principalmente os pontos que, se quebrarem, afetam muitas pessoas, como por exemplo hospitais e escolas. Se um profissional de saúde parar, ele deixará de atender centenas de pessoas no período de 30 dias”, afirmou João Pedro Resende, CEO da Hotmart.
Empresas mudam rotinas
A rede de materiais de construção Leroy Merlin desde o final de março produz máscaras usando impressoras 3D no espaço Bricolab, localizado na unidade da Marginal Tietê, em São Paulo.
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A produção é fruto da parceria entre a empresa com o Movimento Brasil Contra o Vírus para criar 12 mil máscaras em três meses, que deve ajudar cerca 450 profissionais de saúde. O material é produzido por voluntários em oito máquinas e a expectativa é de aumentar a produção, segundo o gerente de inovação da empresa, Rodrigo Spillere.
A PSA, controladora das marcas Citroen Peugeot, deixou de produzir alguns modelos de veículos, antes da quarentena, para adaptar parte de suas instalações da fábrica de Porto Real, no Rio de Janeiro, para a confecção de protetores faciais. Os EPIs serão doados para autoridades de saúde dos municípios da região.
A empresa é responsável pela montagem da máscara, impressão de duas peças do equipamento e higienização. O corte dos componentes e a fabricação do outro item são feitos em parceria com a FabLab da Firjan, no Senai da cidade de Resende.
A Fiat Chrysler Automobiles (FCA) também está produzindo protetores faciais plásticos com suas impressoras 3D. A meta da empresa é fabricar cerca de 2.000 peças, destinadas aos serviços de Saúde de Minas e Pernambuco, onde estão situadas suas fábricas.
As primeiras unidades produzidas em Betim foram entregues para profissionais do Instituto Médico-Legal (IML) de Belo Horizonte.
Universidades e entidades se unem à sociedade civil
Empresas públicas também endossam a rede de produção de protetores faciais. O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (INTO), unidade de referência em traumatologia e ortopedia de alta complexidade, vinculado ao Ministério da Saúde passou a confeccionar máscaras de proteção em Impressora 3D para o próprio corpo profissional.
A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) também passou a produzir EPIs utilizando impressora 3D para proteger os operadores das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) que estão na linha de frente para a continuidade dos serviços essenciais.
(Divulgação Caesb)
O projeto foi desenvolvido com apoio do Hospital Universitário de Brasília (HUB), e o objetivo da companhia é expandir a produção e fazer máscaras para profissionais da saúde, através de doação para a Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
Produzindo, em média, 20 protetores por dia, a Marinha produz máscaras utilizando as impressoras 3D do laboratório do Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais.
A Receita Federal também colaborou na produção, cedendo impressoras 3D para o centro, que operam exclusivamente na criação dos EPIs. Além das oito máquinas de impressão, a Marinha conta também com outros equipamentos que permite a fabricação total do protetor facial em seu laboratório.
O projeto conta com apoio dos voluntários do coletivo SOS3D COVID19 que já doou mais de sete mil protetores faciais e tem apoio de instituições como a UFRJ e a PUC-Rio, que também possuem um outro grupo de trabalho com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) para a produção de protetores faciais utilizando impressoras 3D.
Os protótipos de protetores faciais desenvolvidos pelas universidades cariocas foram validados pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e seguem as diretrizes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A criação teve apoio de pesquisadores do Coppe/UFRJ e do Instituto Tércio Pacitti de Aplicações e Pesquisas Computacionais (NCE) seguindo os princípios de inovação aberta com base em Creative Commons, que permite a distribuição gratuita de uma obra protegida por direitos autorais. Esses termos identificam, modelo a modelo, as instituições responsáveis pelo seu oferecimento em prol do bem-estar da sociedade e da evolução do conhecimento técnico-científico.
As universidades federais em todo o país têm se mobilizado para suprir a carência de EPIs no sistema de saúde durante a pandemia.
A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) coordena um grupo que vai produzir 150 mil máscaras de proteção facial para os profissionais do estado. O projeto para confecção desses equipamentos reúne a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), as empresas GeoControl e ArcelorMittal e o grupo de desenvolvedores capixaba ProtetorES.
Na Bahia, o projeto Face Shield for Life 3D já imprimiu quase 4.000 protetores faciais e entregou cerca de 3793 equipamentos para a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia distribuir entre seus profissionais.
O projeto é gerido por pesquisadores da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (BAHIANA), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) e Centro Juvenil de Ciência e Cultura (CJCC). Para atender os profissionais de todas as microrregiões baiana, o grupo possui seis hubs de impressão 3D distribuído pelo estado.
Pesquisadoras e voluntárias da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em São José dos Campos se uniram para produzir 100 mil máscaras de acetato e doar a hospitais em todo o país.
O projeto Hígia – Protetores Faciais 3D é liderado pelo grupo Women in 3D printing Brazil formado por 130 mulheres de diversas cidades que trabalham com impressão 3D na pesquisa, desenvolvimento de produto e por hobby. Juntas, as voluntários conseguiram arrecadar mais de R$ 50 mil para a produção do equipamento de proteção.
Indústria conta o coronavírus
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e as Federações de Indústrias, entidades presentes em todos os estados brasileiros, também se mobilizaram e somam forças na corrente de impressões de máscaras em impressoras 3D.
Unidades do Senai em vários estados estão produzindo máscaras de acetato ou componentes do equipamento de proteção com impressoras 3D para doar para o sistema de saúde. Em algumas unidades, como na Bahia, as impressoras também estão sendo utilizadas para produzir peças quebradas de respiradores mecânicos.
Em parceria com o Instituto Alpargatas, a federação da Paraíba está produzindo 400 protetores faciais e outros equipamentos de proteção, como máscaras, jalecos, calças, toucas e lençóis.
O Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis, do Rio Grande do Norte, desde o início da pandemia já distribuiu cerca de 5 mil unidades das máscaras de acetato feitas por meio de impressoras 3D. Já em São Paulo, a federação está produzindo 200 mil máscaras por mês, desde março. O objetivo é doar 600 mil para o sistema público de saúde.
Apple e outras gigantes intensificam a rede mundial
O CEO da Apple, Tim Cook, anunciou no início do mês que a fabricante do iPhone começaria a projetar protetores faciais para trabalhadores nos Estados Unidos.
Cook disse que a Apple já entregou um lote de protetores faciais nas instalações do hospital Kaiser Permanente, localizadas no vale de Santa Clara, na Califórnia. Embora a distribuição tenha sido limitada aos EUA até agora, a Apple espera expandir para países além dos EUA.
A Apple adicionou uma página de suporte ao site que fornece mais informações sobre o equipamento de proteção, como limpar e ajustar os escudos. A empresa espera doar 20 milhões de máscaras para ajudar a combater a propagação do vírus.
A Blue Origin, de propriedade do CEO da Amazon, Jeff Bezos, possui cerca de 38 tipos de termoplásticos, que são usados para visores de impressão 3D, aos quais o protetor facial é anexado e ampliou a produção do equipamento em sua fábrica de foguetes.
A HP também está produzindo protetores faciais – juntamente com outros equipamentos. A empresa afirmou que estar trabalhando com a comunidade global de makers para produzir mais de 50 mil peças.
A gigante da tecnologia também oferece o seu projetos em 3D para os protetores faciais gratuitamente.