Apesar de demanda firme, CVC (CVCB3) quer melhorar eficiência e geração de caixa

Empresa registrou alta do ticket médio no ano, mas avalia o custo de capital e as ineficiências operacionais como desafios para o futuro

Rikardy Tooge

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Vender viagens não foi o principal desafio da CVC Corp (CVCB3) em 2022, na visão do CEO Leonel Andrade. O executivo avalia que a demanda, que há muito vinha reprimida por conta da pandemia, permitiu o repasse de custos para os consumidores finais. Em contrapartida, a necessidade de caixa para antecipar fornecedores em um cenário de juros altos foi o maior obstáculo da companhia durante o ano.

“Meu maior custo é o de capital. Eu tenho que pagar as empresas em 15 dias enquanto eu recebo parcelado. Obviamente, precisamos encontrar soluções para gerar caixa”, disse Andrade, durante encontro com jornalistas.

“Não diria que foi difícil repassar preços, mas precisamos ser mais criativos para gerar eficiência operacional”. Nos nove primeiros meses de 2022, o ticket médio dos clientes da CVC subiu 79%, de R$ 840 para R$ 1,503, enquanto as viagens realizadas quase que dobraram no período.

Já sobre a estratégia de melhorar a alavancagem operacional da empresa, o CEO diz que o investimento em tecnologia e a junção de marcas dentro das verticais de B2B e B2C ajudaram a cortar redundâncias e a economizar nos custos. “O mercado sempre se perguntava quando a CVC ia se digitalizar e, neste ano, avançamos no nosso front office”, argumenta.

Para o BofA, a CVC vem apresentando melhora operacional, mas o cenário de aperto monetário continua a limitar o avanço da companhia. O banco tem recomendação neutra para o papel, com preço-justo de R$ 9.

“Esperamos uma recuperação morna até os níveis normalizados e ganho. A necessidade de capital de giro continua a alimentar nossas preocupações de uma captação adicional de recursos”, escreveram os analistas Robert Aguillar, Melissa Byun e Vinicius Pretto.

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Novo fôlego

Há mais de dois anos na companhia, Leonel Andrade chegou à CVC Corp no início da pandemia de covid-19, em março de 2020. Vindo de uma experiência de seis anos no comando da Smiles, o executivo enfrentou um dos períodos de maior tensão para o setor de viagens por conta das restrições causadas pela doença.

“Eu posso dizer que a CVC foi uma das empresas mais afetadas na pandemia. Entramos nela com R$ 2,2 bilhões de endividamento e nossos acionistas confiaram no nosso trabalho e salvaram a companhia colocando R$ 1,5 bilhão [em quatro follow-ons]”, lembra Andrade.

Leonel Andrade, CEO da CVC: ‘acionistas salvaram a empresa’ (Divulgação)

Com o fôlego obtido nessas operações, a companhia conseguiu baixar seu endividamento líquido para R$ 631,6 milhões ao fim deste terceiro trimestre – patamar considerado saudável pela gestão da empresa. A avaliação é de que o pior momento já passou e Andrade diz que a CVC agora pode vislumbrar um 2023 melhor que os ótimos anos.

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“Se em 2020 tivemos que fazer o básico para retomar a confiança, em 2021 nós voltamos ao jogo. E, neste ano, começamos a ver uma situação completamente diferente, o que nos deixa otimistas para o próximo ano”, prossegue o CEO.

Otimista, mas conservador

Embora o operacional esteja entrando nos trilhos, Leonel Andrade diz que a gestão segue sendo conservadora, sem se alavancar para ganhar clientes. “Eu não tenho como vender passagem com mais de 12 meses – e os consumidores também não deveriam fechar negócio dessa forma. Nem existem passagens disponíveis neste período e nós não vendemos passagem a descoberto”, explicou.

Outro assunto na agenda do CEO da CVC é cobrar mais celeridade de seus diretores na gestão de margens e criatividade para seguir aproveitando a demanda reprimida. “As classes A e B não vão deixar de viajar, mas temos que buscar soluções para a classe C”, ponderou o executivo.

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Por fim, uma aposta para garantir mais geração de caixa é o marketplace de crédito lançado em outubro. A iniciativa tem como objetivo garantir que a companhia receba no ato pelas viagens parceladas, o que traz mais alívio ao fluxo de caixa.

CVCB3 na Bolsa

As ações da CVC Corp operam com queda de 62,5% neste ano. Na quarta-feira (30), os papéis subiram 6,11%, a R$ 5,03, em um pregão positivo para as empresas de consumo.

Entre janeiro e setembro deste ano, a companhia registrou R$ 10,7 bilhões em reservas consumidas, que são as viagens já feitas, alta de 99,8% em relação a igual intervalo do ano passado. No período, a receita líquida do grupo foi de R$ 900,2 milhões, com alta de 75,9% sobre 2021.

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O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, em inglês) alcançou R$ 83,5 milhões, revertendo o resultado negativo de R$ 199,6 milhões do ano passado.

Mesmo assim, a companhia registra prejuízo líquido de R$ 336,7 milhões, uma leve redução na comparação com o mesmo intervalo de 2021, quando o resultado ficou negativo em R$ 340,9 milhões.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br