Cristiano Teixeira é um executivo discreto. Pouca gente sabe de sua vida pessoal, não faz questão de estar sob os holofotes e está longe de ser “arroz de festa”. Tem fala calma e pausada e hábitos simples, como assistir pela tevê aos jogos de basquete da NBA ou buscar a tranquilidade do interior paulista nos fins de semana. Mas não se engane.
Teixeira tem uma visão privilegiada do que acontece no mundo, muito jogo de cintura e números que deixam muito executivo hypado com inveja. Desde 2017, quando assumiu a cadeira de CEO da fabricante de papel e celulose Klabin, até o terceiro trimestre deste ano, o retorno sobre o capital investido (ROIC, na sigla em inglês) da empresa saltou de 8,9% para 19,3%.
Ele é também o único latino-americano a ter sido convidado pelo governo britânico para fazer parte do grupo de “Business Leaders” de duas conferências mundiais do clima da ONU, a COP26, no ano passado, e a COP27, que está ocorrendo agora em Sharm El-Sheikh, no Egito.
O paulista Cristiano Teixeira é o primeiro convidado do novo projeto do InfoMoney, o C-Level, em que os principais executivos de empresas brasileiras são convidados para uma conversa informal e leve (em vídeo e que também sairá em podcast), mas com muito conteúdo. O C-Level também é mais um passo do InfoMoney na cobertura editorial do mundo de Negócios.
Nesse primeiro episódio, Teixeira contou como é ser CEO em uma empresa centenária e de controle familiar, mas com capital aberto em Bolsa. Além de investidores institucionais, a Klabin tem cerca de 360 mil investidores pessoa física em sua base de acionistas – eram cerca de 15 mil há três anos. Boa parte desses investidores é especialmente interessado na política de dividendos da companhia, em que 20% do Ebitda (lucro operacional) é distribuído aos acionistas.
Em meados deste ano, o conselho da empresa chegou a rachar porque os conselheiros que representam os investidores minoritários divergiram da decisão do controlador de realizar um novo investimento de R$ 1,5 bilhão no Projeto Figueira, uma fábrica de papelão ondulado no interior de São Paulo. Os investidores defendiam um programa de recompra de ações, com potencial de valorização do papel.
“Escolhas são feitas na alocação de capital. Temos uma cultura de pagamento de dividendos. E o crescimento da companhia aponta para um upside maior do que uma recompra”, diz o executivo. Aprovado, Figueira deverá ficar pronto em 2024, com uma capacidade de produção de 240 mil toneladas.
No cenário macroeconômico, Teixeira diz que a situação do Brasil “está longe de ser positiva por falta de controle fiscal”, prevê uma inflação arrefecida e um crescimento baixo em 2023, mas ressalta que está mesmo “com medo” de 2024 caso não seja adotada uma política fiscal mais rigorosa no ano que vem.
A crise energética mundial, especialmente na Europa, gerou oportunidades de curto prazo para a Klabin, já que os produtores europeus de papel e papelão deixaram de comprar madeira russa e passaram a adquirir fibras do Brasil. Mas já se percebe agora uma queda no preço da celulose na China porque a Rússia passou a escoar sua madeira para lá. “No médio e longo prazo, esse rearranjo não é bom para ninguém. Mas por termos um custo-caixa [medida de produtividade] competitivo, temos aproveitado a oportunidade.”
Toda a questão dos custos de energia é vista com muita atenção pelo executivo da Klabin. Teixeira acredita que a crise energética acelerou um movimento iniciado durante a pandemia de rearranjo da produção industrial no mundo. Outro efeito da crise, segundo o executivo, é percebido nas discussões sobre o clima. “A dependência geopolítica [do gás russo, por exemplo] vai fazer com que as pessoas caiam na real sobre a necessidade de reduzirmos o uso do combustível fóssil.”
Mas, de novo, não se engane. Teixeira está longe de ser um radical sobre as mudanças climáticas, como se pode observar pelo título desta matéria. Ele mesmo declara que não é “daqueles que acreditam em fim do mundo”. Quer saber por quê?
Assista ao vídeo no canal do InfoMoney e veja também por que ele diz que a gestão de riscos ambientais mudou para a Klabin e o mundo depois do rompimento das barragens da Vale (ocorrida durante a gestão Fábio Schwartzman, que foi antecessor de Teixeira na Klabin) e o que ele pensa sobre o posicionamento político de membros das famílias controladoras da empresa, entre outros assuntos.