Crise da cervejaria Backer pode respingar no setor? Especialistas comentam

Cervejaria mineira é alvo de investigação sobre contaminação que resultou em mortes

Pablo Santana

(Divulgação)
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SÃO PAULO – A contaminação de cervejas da marca Backer com as substâncias dietilenoglicol e monoetilenoglicol tem movimentado o mercado de cervejas artesanais, que se articula para não sofrer grandes impactos com a crise.

A cervejaria mineira, responsável por mais de 20 marcas, é a maior artesanal do país em volume de produção, com quase 800 mil litros mensais, mas teve a comercialização dos seus produtos proibida pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) após auditoria feita na fábrica constatar que havia água contaminada com dietilenoglicol em uma etapa anterior ao tanque de fermentação, onde o composto químico já tinha sido encontrado.

A substância, detectada em lotes de uma das suas principais cervejas, a Belorizontina, está relacionada com a síndrome nefroneural – causadora da morte de quatro pessoas nas últimas semanas.

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Dos 18 casos suspeitos de intoxicação por dietilenoglicol, segundo a Secretaria de Estado Saúde de Minas Gerais, quatro foram confirmados, entre eles Pachoal Dermatini Filho, de 55 anos, falecido em Juiz de Fora.

Minimizando o impacto

Diante da crise, a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) encaminhou um pedido aos órgãos reguladores solicitando a proibição das substâncias utilizadas para resfriar a produção.

A entidade solicita ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que elaborem norma específica para a utilização de agentes anticongelantes no sistema de resfriamento de cerveja com a permissão de apenas substâncias de grau alimentício, em virtude da possibilidade incidental de contato com a cerveja nas etapas de fabricação.

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Na semana passada, o Ministério da Agricultura interditou a fábrica da empresa, na Região Oeste de Belo Horizonte apreendendo 139 mil litros de cerveja engarrafadas e 8.480 litros de chope. Na ocasião, tanques e demais equipamentos de produção foram lacrados.

Sob investigação, a cervejaria Backer informa seguir apurando internamente o que poderia ter ocorrido com os lotes de cerveja apontados pela polícia e reitera que em seu processo produtivo, utiliza, exclusivamente, o agente monoetilenoglicol.

Apesar do comunicado, as análises realizadas pelos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária identificaram a presença do contaminante dietilenoglicol em oito produtos da Cervejaria. Além das Belorizontina e Capixaba, o composto foi encontrado em lotes das marcas Backer D2, Backer Pilsen, Brown, Capitão Senra, Fargo 46 e Pele Vermelha.

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Um levantamento feito pela Abracerva entre os seus associados aponta que 1,5% dos fabricantes usam o etileno glicol, que tem um índice de toxicidade muito inferior ao dietilenoglicol, durante o processo de produção da bebida.

A maior parte das cervejarias artesanais (87,4%) utilizam álcool nas suas fábricas para refrigerar a produção, 6% utilizam propilenoglicol, composto presente na lista positiva de aditivos alimentares (que não é tóxico ao ser humano) e 5,1% usam outros métodos.

Mercado pode sofrer?

O mercado de cerveja artesanal cresce a cada ano no Brasil. A popularização é impulsionada pelo amadurecimento da experiência de consumo e de uma maior ofertas de cursos de formação para atuação na área. Outro fator, apontado pelos especialistas são os ‘ciganos’ (agentes que terceirizam a produção de suas cervejas) contribuindo para essa expansão e acirrando a competição.

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O caso da Backer, porém, não deve afetar o segmento como todo, de acordo com Mayra Viana, analista do núcleo de Alimentos e Bebidas da Unidade de Competitividade do Sebrae Nacional.

“Ainda é cedo para avaliar qualquer impacto preciso. De uma forma geral, o consumidor está entendendo que o caso é isolado. No geral, os empresários não estão preocupados e nem sentindo uma queda de vendas” afirma Viana.

A consultora aponta que mercado de bebidas é bem robusto no Brasil, sendo o terceiro maior do mundo com 13,3 bilhões de litros produzidos, atrás de China (46 bilhões) e dos Estados Unidos (22,1 bilhões) e que o consumidor das cervejarias artesanais não tende ser ameaçado pela crise da Belorizontina, pois são fiéis a outros rótulos.

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“Quem já conhece o setor é um cliente esclarecido que vem até ajudando outros a entender todo o processo de produção das bebidas e explicar o que está acontecendo. O cliente que consome artesanal às vezes pode sofrer algum impacto quando apresentado a cervejas que ele não conhece”, pontua.

O presidente da Abracerva, Carlo Lapolli, acredita que o episódio é uma exceção e não deve prejudicar o crescimento do setor. Segundo Lapolli, o consumidor pode continuar consumindo cervejas de outras fábricas sem problemas.

“O caso é inédito neste mercado. Estamos à disposição, assim como as indústrias, para mostrar o processo e para que o consumidor veja que o negócio da cerveja artesanal é sério, profissional e passa por acompanhamento constante dos órgãos de fiscalização”, afirma.

O receio segue sendo em relação a Minas Gerais, terceiro estado com maior quantidade de Cervejarias Independentes, segundo o 1ª Censo das Cervejarias Independentes Brasileiras, realizado pelo Sebrae Nacional.

“A cervejaria Backer tem uma fatia do mercado bem grande [44%], então, o setor de lá tem reagido com preocupação e realizando ações para retomar a confiança dos consumidores, como a criação de um selo de qualidade”.

Em relatório, analistas do Bradesco BBA, mantêm a classificação para a Ambev (TP de R$ 20,00), pois acreditam também que o caso é isolado e não deve gerar grandes mudanças no consumo de cerveja artesanal para grandes marcas de cervejarias, que já possuem sistemas de qualidade em vigor.

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Pablo Santana

Repórter do InfoMoney. Cobre tecnologia, finanças pessoais, carreiras e negócios