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O estopim de uma crise bancária nos Estados Unidos e a incerteza sobre o setor na Europa tendem a atrasar o plano de empresas brasileiras captarem recursos no exterior, na avaliação de economistas e gestores ouvidos pelo InfoMoney.
“É razoável esperar um pouco de turbulência nas próximas semanas até que as expectativas dos investidores sejam ancoradas novamente”, avalia o economista Roberto Troster. “É um momento de aversão ao risco e não existe nada mais covarde que o dinheiro.”
A premissa de buscar recursos no mercado externo se deve ao alto custo de capital no Brasil, que gira em torno de 16% até 20% ao ano, considerando uma Selic de 13,75% ao ano mais spread.
Nos Estados Unidos, que está com juros básicos entre 4,5% e 4,75% ao ano por exemplo, seria razoável encontrar captações que tenham juros ainda em um dígito – sempre considerando a necessidade da construção de um bom hedge cambial.
Bancos de investimento ouvidos antes da crise pelo jornal Valor Econômico apontavam demanda crescente pela emissão de bonds (títulos de dívidas de empresas emitidos no exterior). Um dos exemplos foi a captação de US$ 1 bilhão feita pela Braskem (BRKM5) no mês passado com uma demanda extra de US$ 6,1 bilhões que chamou a atenção do mercado.
No entanto, na avaliação de um experiente gestor de renda fixa ouvido pelo InfoMoney, embora o custo de captação no exterior siga nos mesmos patamares observados antes da crise, o apetite já não deverá ser o mesmo.
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“O mercado está aberto [para emissões]? Creio que não, estamos falando de um problema de crédito. Isso significa que muita gente está ‘machucada’ e sendo obrigada a tirar risco da mesa”, diz a fonte.
O InfoMoney tentou contato com diversos bancos de investimentos que atuam no sell side para comentar o atual momento. Mas nenhum quis dar entrevista.
Outro agente de mercado especializado em reestruturações de dívidas lembra ainda que, mesmo que o mercado dê sinal verde para as emissões, elas não são para todos os tipos de empresa. Exportadores e companhia com receita estável e com poder de repasse, como o setor utilities, tendem a ter vantagem neste tipo de operação.
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O economista André Perfeito, é mais um que reforça que fuga do risco deverá ser a tônica do momento. “[A crise] Gera dificuldade para emitir lá fora, mesmo que os juros [nos EUA] deixem de subir tanto.”
No mercado de emissões de dívidas, o gestor ouvido pela reportagem projeta que a tendência é que os fundos, que são os fornecedores de liquidez para os bonds, migrem ainda mais para títulos soberanos.
“Em termos de fluxo global, o movimento é de resgate de fundos de ações e de crédito e alocação enorme em títulos de curto prazo do Tesouro americano, alemão, por exemplo”, explica.
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“Ou seja, também pelo fluxo não há apetite para novas emissões e sim pressão de venda [de ativos] para pagar resgates”, conclui.
Bancos sob desconfiança
Desde a semana passada, o mercado americano viu o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank quebrarem e o Federal Reserve (Fed) precisou resgatar os bancos e ofertar liquidez para que todos os depositantes conseguissem reaver seu dinheiro.
Na Europa, o abalo vem do gigante Credit Suisse. Nesta quarta-feira, o Saudi National Bank, maior investidor da instituição financeira afirmou que não poderia fornecer mais assistência financeira ao banco suíço, segundo informações da Reuters. Os papéis do Credit caíram mais de 20% no pregão.
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No fim da tarde desta quarta, Banco Nacional Suíço, autoridade monetária do país, informou que o Credit Suisse está atualmente bem capitalizado, mas que o banco central fornecerá liquidez adicional, caso seja necessário. A notícia fez os papéis apresentarem recuperação nesta quinta-feira (16).
Outros grandes bancos europeus foram atingidos, com as ações dos dois maiores bancos internacionais da França, Société Générale e BNP Paribas, ambos caindo mais de 10% nesta quarta-feira. As ações do alemão Deutsche Bank AG caíram 8%.