Fusão Credit Suisse-UBS não altera mandatos no Brasil, mas novos negócios devem desacelerar

Transações que já estão em andamento no país, como emissões de dívida, oferta de ações e M&As, tendem a seguir normalmente

Rikardy Tooge

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A compra do Credit Suisse pelo UBS não deverá alterar o andamento de operações já em curso no Brasil, como emissões de dívidas, fusões e aquisições (M&A, em inglês) e ofertas de ações, de acordo com profissionais ouvidos pelo InfoMoney. No entanto, a captação de novos negócios, tanto por parte da filial brasileira do CS quanto do UBS BB, tende a desacelerar até o fechamento da transação.

“Atrasos no pipeline são razoáveis neste momento, mas não isso deve afetar as operações que já estão ‘na rua’”, reforça um experiente gestor ouvido pela reportagem.

Para Matheus Zilioti, sócio do Santos Neto Advogados e especialista em direito empresarial, a expectativa é de que os mandatos sejam cumpridos normalmente pelo Credit Suisse Brasil, uma vez que há contrato estabelecido e é pouco usual que a troca de controle seja motivo para a rescisão.

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“Pode ocorrer de algumas empresas chamarem o banco para conversar e entender o que está acontecendo, mas dificilmente haveria espaço para um vencimento antecipado”, afirma. “Existem cláusulas de resilição involuntária [quando uma parte não consegue cumprir o contrato por um motivo de força maior, como falência, por exemplo], o que não é o caso”.

Matheus Zilioti, sócio do Santos Neto Advogados (Divulgação)
Matheus Zilioti, sócio do Santos Neto: mandatos deverão ser cumpridos normalmente (Divulgação)

Outro advogado que já trabalhou para os suíços reforça que, na teoria, nada deveria mudar, mas faz um alerta. “Em algumas operações, como emissão de dívidas, o mandato só é assinado próximo ao fim da operação, o que daria uma saída para as empresas”, explica.

“Mas contratos de M&As e oferta de ações dificilmente vão para a ‘rua’ sem o contrato assinado”, acrescenta. Exemplo recente é a oferta pública de aquisição de ações (OPA) promovida pela Alliar (AALR3), que seguirá sob coordenação do Credit Suisse Brasil.

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Bruno Salama, sócio do Santos Neto especialista em direito bancário, lembra que, apesar do anúncio relâmpago da fusão de UBS e Credit Suisse, existirão algumas etapas regulatórias até o fechamento de fato do negócio. Esse ínterim pode ser o suficiente para que as operações em andamento sejam finalizadas e o desenho da nova operação brasileira seja estabelecido.

“Em situações de estresse como essa, os reguladores e os executivos não têm muito tempo para ver os detalhes. Isso começará a ser visto a partir de agora. É um negócio de proporções globais e é natural que o closing leve alguns meses”, argumenta.

Bruno Salama, sócio do Santos Neto advogados (Divulgação)
Bruno Salama, sócio do Santos Neto advogados: closing da fusão CS-UBS deverá demorar (Divulgação)

Até lá, prossegue Salama, as duas operações brasileiras seguirão atuando de maneira independente, o que afasta ainda mais a possibilidade para as empresas rescindirem os contratos de maneira unilateral.

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Operação brasileira deve ser ‘parruda’

Para profissionais com passagem pelas instituições suíças, a tendência é que o resultado da fusão seja positivo para o mercado brasileiro. Segundo dados do sistema IFData, do Banco Central, Credit Suisse e UBS teriam juntos R$ 43,9 bilhões em ativos no Brasil.

Depois de vender o controle do Pactual para o BTG em 2009, o UBS retornou ao Brasil no ano seguinte e opera como banco desde 2013. Ele possui escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Recife e tem cerca de R$ 1,24 bilhão em equity no país. Desde 2020, o UBS atua em uma joint venture com o Banco do Brasil (BBAS3) para as operações de investment banking.

Já o Credit Suisse tem uma presença maior no mercado, com R$ 42,7 bilhões em ativos, em especial por sua atuação em banco de investimentos e em gestão de fortunas.

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“Vão juntar os melhores profissionais dos dois bancos. Obviamente, haverá um tempo para realocar todos os profissionais por conta da semelhança de cargos. Mas vejo que sairá uma instituição ‘parruda’”, diz a fonte.

Outra avaliação é que dificilmente o UBS encerrará sua parceria com o BB, de acordo com outro profissional que participou da formação da JV, há cerca de dois anos. “Não vejo a possibilidade da joint venture acabar, a tendência é a JV absorver o Credit”, projeta.

Bancos não comentam

Em uma corrida contra o tempo, o governo da Suíça fechou no domingo (19) a compra do Credit Suisse pelo UBS por US$ 3,2 bilhões. A pressa tinha o objetivo de garantir a estabilidade do sistema bancário do país. Após o anúncio da fusão, sobraram mais dúvidas do que certezas sobre o negócio.

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Certo é que o UBS deverá diminuir a divisão de investment banking do Credit Suisse em escala global e adotar uma postura mais conservadora, de acordo com presidente do UBS, Colm Kelleher.

Procurados pelo InfoMoney, UBS BB e Credit Suisse Brasil disseram que não têm comentários adicionais aos feitos pela suas matrizes.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br