Contra o coronavírus: startup de testes rápidos projeta faturar R$ 200 milhões em 2020

A Hilab desenvolve hardware e software para fazer exames em 15 minutos. Negócio aumentou em 50 vezes número de pacientes com demanda por testes de Covid-19

Mariana Fonseca

Equipamento da Hilab (Foto: Hilab/Divulgação)
Equipamento da Hilab (Foto: Hilab/Divulgação)

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SÃO PAULO – As startups que atuam na saúde, ou healthtechs, ficaram sob os holofotes em 2020. Não é para menos: o ano foi marcado pela chegada da Covid-19 e a adaptação ao novo cenário foi possibilitada, em muitos casos, pelos serviços prestados por empreendimentos escaláveis, inovadores e tecnológicos.

Uma das startups brasileiras que participaram desse movimento foi a Hilab. O empreendimento de testes rápidos canalizou US$ 10 milhões, captados no começo deste ano em uma rodada série B, para desenvolver uma solução focada em exames para o novo coronavírus. A agilidade rendeu um crescimento de 50 vezes no número de pacientes entre outubro de 2019 e outubro de 2020. A startup estima um faturamento de R$ 200 milhões neste ano – número que estava sendo projetado apenas para 2022.

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De telemedicina a testes rápidos

A Hilab, antigamente chamada de Hi Technologies, foi criada por Marcus Figueiredo e Sérgio Rogal. Os empreendedores se formaram em engenharia da computação e depois estudaram a aplicação da inteligência artificial na saúde.

A primeira versão da Hilab foi uma empresa que fazia sistemas de telemedicina. A tecnologia foi vendida em 2009. O valor foi usado para criar a segunda versão da Hilab: um oxímetro (medidor de oxigênio) usado no pulso e exportado para 15 países.

A terceira e atual versão da startup de saúde surgiu em janeiro de 2016, junto de um investimento da empresa de tecnologia Positivo (POSI3). A Hilab apostou em um equipamento de mesmo nome para realizar testes rápidos.

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Gotas de sangue coletadas do paciente são colocadas em cápsulas com reagentes químicos para exames como colesterol, dengue, gravidez, HIV e zika. As cápsulas são inseridas no equipamento Hilab. Os dados da reação química são digitalizados, enviados para a nuvem e analisados em tempo real por uma inteligência artificial e por uma equipe de biomédicos e bioquímicos próprias da startup de saúde. O resultado do exame sai em até 15 minutos.

Marcus Figueiredo, da Hilab (Foto: Hilab/Divulgação)
Marcus Figueiredo, da Hilab (Foto: Hilab/Divulgação)

As análises são feitas inclusive na madrugada e nos finais de semana. “O volume de exames é muito grande para ser analisado só por pessoas, aumentaria muito a chance de erro humano por cansaço. A inteligência artificial entra para fazer uma triagem, apontando pontos de atenção para os profissionais”, diz Figueiredo.

A Hilab tem 215 funcionários hoje, cerca de metade deles trabalhando com desenvolvimento e análise de laudos. A sede fica em Curitiba, no Paraná.

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Segundo a startup de saúde, o modelo de negócio verticalizado também seria um diferencial. “Temos tecnologias próprias de equipamentos, reagentes e inteligência artificial. A mesma estrutura serve para diversos exames, como se fosse uma máquina de bebidas da Nespresso.”

A Hilab faz checagens de qualidade laboratorial por meio da Controllab, que compara os resultados dos laboratórios a padrões de mercado e recebeu certificação de boas práticas de fabricação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e tem parceiros como a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz). A Hilab também está autorizada junto à Anvisa.

Outros investidores entraram para o quadro da startup de saúde, além da Positivo (investidora também na startup Agrosmart, por exemplo). Um aporte série A de US$ 3,9 milhões, feito pelos fundos Monashees (DogHero, Loggi, Neon) e Qualcomm Ventures (99, Loggi, Movida), foi fechado em 2018. Em janeiro de 2020, a Hilab captou uma rodada série B de US$ 10 milhões com os fundos Endeavor Catalyst (Contabilizei, Creditas, Dr. Consulta, Méliuz) e Península Participações (Cuidas, Wine). Ao todo, a healthtech já captou cerca de US$ 15 milhões com investidores externos.

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Procura por exames de Covid-19

A Hilab havia captado o investimento deste ano para manter um crescimento mensal de 30% ao mês, mas a chegada da pandemia mudou as prioridades da startup de saúde.

No final de fevereiro, a Hilab passou a focar em produzir a testagem rápida para Covid-19. As primeiras testagens com o próprio equipamento começaram no final de março, validadas pela Controllab e por comparações da própria Hilab com resultados de outros laboratórios. A healhtech duplicou a equipe em 90 dias, chegando aos atuais 215 funcionários.

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A demanda por testagem para Covid-19 também fez a startup de saúde expandir seus locais de atuação e quadruplicar o número de cidades atendidas. Antes, atuava apenas nas farmácias. Agora está em consultórios, laboratórios e postos públicos de saúde. Os equipamentos chegaram a aldeias indígenas, comunidades periféricas, estradas, presídios e até aos estudos clínicos para as futuras vacinas contra a Covid-19.

“Muitas vezes, as startups desenham uma visão e nunca a alcançam. Nós queríamos democratizar o acesso à tecnologia na saúde, sempre nos incomodou a divisão entre saúde pública e privada. Neste ano, vimos o mesmo teste sendo aplicado em diversos lugares”, diz Figueiredo.

Quem define o preço dos testes são as empresas e instituições de saúde – podem ir desde R$ 0 (no caso de postos públicos) até R$ 200 (para consultas privadas). Figueiredo defende que o Hilab é “um dos equipamentos mais baratos” nas negociações B2B (entre empresas) e ainda tem como valor agregado o acesso a dados anônimos de testagem. Por exemplo, um posto de saúde pode ver qual rua teve um maior número de resultados positivos para Covid-19.

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A Hilab atende 1.700 empresas e instituições. Exemplos de empresas atendidas são o Clube Atlético Paranaense, a rede de farmácias Pague Menos, o unicórnio imobiliário Loft e os planos de saúde Unimed e Porto Seguro. Esses clientes estão espalhados por mil cidades brasileiras, e cada um pode ter mais de um equipamento.

O equipamento tem um aluguel de cerca de R$ 50 mensais e contrata créditos para realização de exames, como um plano de celular pré-pago. O modelo garante previsibilidade de receita para a startup de saúde.

Na comparação entre outubro de 2019 e outubro de 2020, a Hilab ampliou o número de pacientes em 50 vezes. Hoje, são mais de um milhão de usuários – cada um pode realizar mais de um exame.

Entre janeiro e outubro de 2020, a Hilab realizou mais de 2 milhões de testes diversos. Outros 3 milhões de exames estão previstos em contratos assinados para o final deste ano ou para 2021. Contando ganhos realizados ou previstos em contrato, a Hilab deve faturar R$ 200 milhões em 2020.

“Tínhamos desenhado um resultado desses para daqui uns dois anos, e uma escala dessas para daqui uns três ou quatro anos. O número de pacientes aumentou 50 vezes, enquanto nossa equipe apenas dobrou. Atingimos uma economia de escala além do esperado, estimando um retorno mais rápido do nosso investimento”, diz Figueiredo. A Hilab desenhou R$ 100 milhões em investimento para 2020 e começo de 2021.

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O futuro da Hilab

A Hilab cobre 20 exames atualmente, mas espera chegar a 100 em 2021. A startup de saúde lançará nesta semana uma versão do seu equipamento para testes moleculares. Esse tipo de teste, tendo como exemplo o exame de método PCR para Covid-19, detecta antígenos do vírus, vistos logo no início de uma infecção.

O teste molecular demora mais, mas costuma ser considerado mais preciso do que o teste rápido – voltado a um estágio mais avançado de contágio. A Hilab pretende divulgar resultados de testes moleculares em uma hora. A startup de saúde tem capacidade atual de produção de 150 mil cápsulas por dia, ou 54 milhões em um ano. Uma cápsula pode realizar mais de um exame.

“Queremos ser uma plataforma de medicina diagnóstica, aplicando diversos tipos de exame, mas mantendo uma boa relação custo-efetividade”, diz Figueiredo. Outro objetivo da Hilab é internacionalizar. A startup de saúde ainda está estudando as regulações de cada país para definir seu próximo destino.

“Não é fácil para uma empresa brasileira sair expandindo, ainda mais em um setor tão regulado quanto o da saúde. Mas a diversidade regional que cobrimos, enfrentando desafios com internet e logística, é um bom indicativo para países que enfrentam os mesmos problemas”, afirma Figueiredo.

As metas para o próximo ano devem ser acompanhadas de um novo investimento externo. A Hilab já negocia uma rodada série C com fundos internacionais.

“São veículos que se interessaram pelo negócio no começo deste ano, mas o cheque era muito pequeno para eles. Mantivemos o relacionamento e eles acompanharam nosso crescimento. Estamos bem capitalizados, mas a rodada viria para consolidar nossa posição e atuar para além do Brasil”, diz o cofundador.

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.