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Em 2016, quando dava seus primeiros passos no mundo das startups, Pietro Bonfiglioli conseguia ‘planilhar’ em poucas células o número de investidores-anjo e fundos dispostos a investir em empresas que aliam crescimento acelerado com alto risco.
“Se hoje falam que o mercado está ruim para startup, não sabe como era no passado. Brinco com quem entrou depois de 2019 que eles estavam jogando no modo fácil, com centenas de fundos e gente disposta a investir. Agora que o jogo começou para valer”, diz Bonfiglioli, que é cofundador da Fisher, uma companhia nascida em 2017 e que atua em venture building, que, como o nome sugere, constrói startups.
Essa modalidade garante uma taxa de sobrevivência maior às startups, segundo estudo da Global Startup Studio Network (GSSN). A pesquisa aponta que 60% das empresas criadas dentro de venture builders conseguem alcançar o aporte Série A, que acontece quando a investida já possui receita e um modelo de negócio sólidos – momento em que fundos de private equity e venture capital entram no jogo.
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Construindo R$ 300 milhões
Sob esta premissa, a Fisher cofundou seis startups desde 2017. Com uma metodologia muito focada em desenvolvimento de novos produtos digitais, os sócios atuam para encontrar problemas no mercado e trabalham em soluções que possam ganhar escala.
Após identificar uma “dor” possível de ser sanada e com as premissas calibradas, a empresa busca um empreendedor com conhecimento do negócio para se associar e tocar o projeto. Neste modelo, a Fisher costuma ficar com uma fatia de 25% a 40% da startup enquanto os empreendedores e investidor-anjo ficam com o restante.
“Nós não damos consultoria e nem somos investidores de startups que já existem. Nossa ideia é criar do zero e trazer gente especializada para complementar nosso conhecimento. Se conseguimos validar o produto, aí nós oferecemos a solução para um dos 30 investidores que fazem parte do nosso ecossistema para aportar recursos”, explica Pietro Bonfiglioli.
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Atualmente, a Fisher possui um portfólio de startups avaliado em R$ 300 milhões, em cinco startups: Octa (com foco em peças de automóveis), Beaver (análise de documentos), goLiza (“login único” para empresas), Snaq (dconteúdo sobre tecnologia) e Ali (crédito consignado).
Dessas, a Ali é a que está mais madura. A startup passou recentemente por uma rodada Série A e captou R$ 135 milhões junto ao BTG Pactual (BPAC11). Outro case de sucesso é a Atta, uma startup de crédito imobiliário que foi vendida ao QuintoAndar no fim do ano passado.
Volta à normalidade
Vindo do mercado financeiro, o cofundador da Fisher lembra que sempre existiu um interesse especial dos investidores por startups, até pelo hype que se construiu em torno de cases como Uber, Nubank, entre outros. “Quando eu tentava captar recursos para alguma debênture, os fundos nunca tinham agenda. Mas, se o assunto fosse startup, a reunião ocorria no mesmo dia”, se recorda.
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Esse interesse foi ganhando cada vez mais escala até a pandemia, quando o mundo passou por uma chuva de dinheiro para conter os danos da Covid-19 às economias. O auge deste movimento ocorreu em 2021, com um ritmo intenso de aporte e aquisições de startups.
“A sensação que tínhamos é que havia um Fomo [sigla em inglês para medo de ficar de fora] entre os investidores. Muitas negociações ocorriam em tempo relâmpago sem que houvesse uma análise profunda das startups. Fugiu do usual”, afirma o cofundador da Fisher.
Mas uma hora o aspirador dos juros voltou a recolher dinheiro do mercado e o cenário mudou.
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As startups tiveram que pisar no freio enquanto viam novas rodadas de investimentos sumirem. Uma readequação foi necessária e dolorosa. Os valuations desinflaram e muitos funcionários foram demitidos para que essas companhias conseguissem se manter vivas.
Bonfiglioli avalia que o pior já passou. “Estávamos em uma situação insustentável, as empresas começaram a entrar em valuations traps, ou seja, estavam assumindo múltiplos que fugiam da realidade, e o prejudicado seria o próprio empreendedor no futuro”.
Perspectivas
Para ele, a experiência da época de “vacas magras” do início da Fisher foi fundamental para a empresa não cair na tentação do dinheiro fácil. “Passamos por muita coisa desde o início e não costumamos repetir erros do passado, essa é a vantagem da nossa metodologia”, diz.
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“E nem dá para dizer que estamos em um período ruim. O mercado este ano rodou com quase 20 vezes mais recursos do que tínhamos à disposição lá no nosso começo”. Para a primeira metade de 2023, Bonfiglioli projeta um cenário parecido com o do segundo semestre deste ano, com juros em patamares altos e maior cautela.
“Mas não vejo os investidores retraídos por muito mais tempo que isso, uma vez que eles também captaram dinheiro e há um prazo para que eles comecem a aplicar esses recursos”, conclui o executivo.
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