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SÃO PAULO – Amanhã, 19 de março, será realizada uma assembleia que pode mudar os rumos da HRT Participações (HRTP3), com a escolha do novo conselheiro fiscal da petrolífera. Entre um dos candidatos ao conselho fiscal, está um acionista minoritário, Renzo Bernardi, que possui menos de 0,1% do capital social da empresa.
Mas como Bernardi, este arquiteto de 45 anos, tornou-se um dos investidores mais ativos e que busca mudar a história da HRT? Em entrevista ao InfoMoney, ele falou um pouco da sua história com a companhia, que teve início em 2012 quando, após diversos insucessos da companhia em suas explorações, “as estatísticas poderiam se voltar finalmente a favor da HRT”. A companhia contava com certa solidez, estava bem estruturada, não tinha dívida e contava com caixa, além de estar bem depreciada.
Desta forma, o investidor adquiriu posições no papel HRTP3 e o memorando de entendimentos com a Petrobras (PETR3; PETR4), assinado em outubro de 2012 – de modo a viabilizar a produção e monetização de gás na Amazônia – parecido vir ao encontro com os dias de maior calmaria com a petrolífera júnior na bolsa brasileira. “A Petrobras endossou a confiança na HRT, trazendo maior credibilidade, uma vez que a estatal não se envolveria com uma empresa não confiável”, ressalta o investidor.
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Quando tudo parecia estar se “endireitando”, eis que começaram as perfurações na Namíbia, lembra Bernardi, ressaltando que a HRT contou com a maior parcela de investimentos, enquanto a Galp contou com apenas um pequeno percentual. Para uma empresa júnior, avalia Bernardi, o farm-out (operação comercial por meio da qual uma empresa vende parte de um bloco para outra e reduz a sua participação) deveria ter sido maior por parte da petrolífera brasileira, dado o risco e queima de caixa da empresa. Assim, a companhia incorreu em um risco desnecessário, avalia o investidor.
Mercado que já estava com pé atrás…
Os investidores, que já não apostavam todas as suas fichas na HRT, ficaram ainda mais desconfiado com os acontecimentos e tomaram a probabilidade de insucesso como um evento certo, avalia Bernardi. E, mesmo assim, os executivos da companhia seguiram ganhando bônus, enquanto a HRT enfrentava uma situação bastante complicada. “Para mim, só pode ter bônus se tiver lucro. Se os acionistas estiverem felizes, eles não reclamarão se os executivos da companhia ganharem remunerações extras”, pelo contrário, aponta o candidato ao conselho fiscal.
E, contribuindo ainda mais para a desconfiança, começaram a ganhar destaque os conflitos entre integrantes do conselho de administração, além da falta de transparência entre os executivos. Um dos exemplos foi a venda de ativos por executivos antes do anúncio de que havia encontrado um poço seco na Namíbia, o que maculou ainda mais a imagem ruim da companhia.
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Assim, a HRT passou a ser vista como uma empresa de alto risco, apesar de possuir caixa e ativos. Neste cenário, chamou ainda mais a atenção a disputa entre Nelson Tanure – da JG Petrochem – e a Discovery Capital, que adquiriram 19% e 17% respectivamente do capital da companhia e se acusaram mutuamente de atingir 20% do capital sem informar o mercado. Caso a participação no capital da companhia passe 20%, deve ser acionada uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) para adqurir o restante dos papéis em circulação.
No final de janeiro, a JG Petrochem e a Discovery firmaram um acordo de transação por meio do qual as partes concordaram em encerrar as disputas entre si como acionistas, mas ainda há muitas dúvidas sobre a real situação de disputa entre os acionistas.
Minoritário decidiu agir
Em meio ao cenário de deterioração da companhia, Bernardi procurou fazer alguma coisa e se unir com os outros cerca de 60% dos minoritários – aqueles que não eram nem a Discovery nem a JG Petrochem. Mesmo não esperando toda essa adesão, a união dos minoritários seria a única maneira de ter uma representatividade, afirma.
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Bernardi começou a sua empreitada ao observar mais atentamente e participar de fóruns de discussões de pequenos como ele, sem nenhuma organização e sem que houvesse alguém para ouvi-los e uma voz para representá-los. Desta forma, o investidor criou um grupo fechado, além de fazer reuniões com esses investidores.
A princípio, aponta, não seria ele o representante dos minoritários para membro do conselho fiscal, mas, como um dos mais ativos, acabou sendo incumbido desta missão. E afirma que optou pelo conselho fiscal uma vez que demandava de um menor percentual mínimo, enquanto pleitear por uma vaga no conselho de administração indica que o grupo deve possuir uma maior representatividade no capital da companhia.
Ele destaca que, caso integrante do conselho fiscal, será “o olho dos minoritários” da HRT. Não terá como participar ativamente das discussões sobre os passos tomados pela companhia, mas terá voz para destacar os problemas que enxergar caso seja eleito, afirma. “A empresa hoje é muito filtrada e ‘photoshopada’ e não se comunica com o mercado, como se não quisesse prestar contas ao mercado como uma empresa de capital aberto”, avalia Bernardi. “Como conselheiro fiscal, vou estar de olho”.
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“A união faz a força”
Uma das lições que Bernardi quer semear, independentemente de ganhar o posto de conselheiro fiscal, é de que os investidores “não podem ficar parados” ao verem uma situação de perdas e de desmantelamento de uma companhia.
Ele destaca que é muito difícil ser um pequeno investidor e conseguir fazer a sua voz valer individualmente quando se vê que as coisas estão caminhando de uma forma errada, mas juntos os minoritários podem ter mais voz. “Três dos candidatos ao conselho fiscal foram indicados pelo conselho de administração da companhia, em uma chapa única. Ao ver que um dos candidatos é da ‘oposição’, os minoritários acabam se animando a fazer mais”, afirma Bernardi.
“Rolezinho” na assembleia
Desta forma, Bernardi afirmou que a presença em massa dos minoritários na assembleia da próxima quarta-feira é de grande importância, sem que haja hostilidade e de forma a exercer o direito dos acionistas e mostrar insatisfação com os rumos da companhia. “Vamos fazer um ‘rolezinho’ no dia da assembleia da HRT”, brinca o candidato, ao falar do grande número de minoritários que devem tentar fazer o máximo para participar da reunião.
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Por outro lado, ele reclama da grande burocracia para que os minoritários votem, uma vez que demanda uma grande quantidade de documentos. “Quando consegue fazer a inscrição, a assembleia já passou”, afirma.
Contudo, Bernardi se mostra animado com o pleito e destaca o papel que terá caso seja eleito para o conselho fiscal, afirmando que “ficará de olho” nos acontecimentos da companhia. Assim, contribuir para que a empresa se torne produtiva e aumentar a comunicação da HRT. “A assembleia é o desfecho de um filme do movimento minoritário da HRT e nós devemos trabalhar para que a companhia não se torne uma OGX-2”, afirma Bernardi, lembrando da situação da atual Óleo e Gás Participações (OGXP3), que entrou em recuperação judicial e é alvo de diversas investigações por manipulação de ações e uso de informação privilegiada por parte de seus executivos.
E finaliza com um desejo para a HRT: “que a companhia encontre óleo negro, e não que negro seja o futuro da empresa”.