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SÃO FRANCISCO, CALIFÓRNIA – Em uma noite de quarta-feira de 2016, o engenheiro veterano da Nasa Mark Moore entrou na sede da Uber para explicar, durante três horas, por que acredita que a humanidade, e sua tecnologia, estariam preparados para utilizar “carros voadores”.
“Seis meses depois dessa reunião, eles me ligaram para informar que queriam desenvolver um projeto e gostariam que eu comandasse a área”, afirmou Mark Moore, atualmente o diretor de engenharia da aviação da Uber, em entrevista ao InfoMoney.
A reunião, que envolveu os principais executivos da companhia, deu origem ao Uber Elevate — o ambicioso projeto da Uber que quer transformar a locomoção aérea em realidade.
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Com a criação dos chamados eVTOLs (sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem verticais), a empresa pretende colocar “ubers voadores” à disposição de seus usuários já em 2023.
Em um galpão industrial de 45.000 metros quadrados, com paredes de tijolos expostos e gigantescas janelas, um protótipo do eVTOL divide espaço com um carro autônomo, um patinete elétrico e uma bicicleta desenvolvidos pelo Uber.
O espaço, que fica a menos de cinco quilômetros de distância da sede administrativa da companhia, em São Francisco, é o Centro de Tecnologias Avançadas da companhia. “O Uber não é mais um aplicativo de carros, é uma empresa de mobilidade. Isso fica bem claro nesse espaço”, diz Moore.
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O engenheiro dos carros voadores
Há anos Moore é referência quando se trata de “veículos de propulsão elétrica com decolagem e aterrisagem vertical”, como ele mesmo define (Moore não é muito fã do termo “carros voadores”).
Durante os mais de 30 anos em que trabalhou na Nasa, a agência especial americana, o engenheiro desenvolveu pesquisas para construir veículos que decolassem e pousassem de maneira vertical — como helicópteros — mas que fossem mais baratos, não poluentes e silenciosos.
Na última década, as pesquisas de Moore inspiraram Larry Page, co-fundador do Google, a fundar e investir em duas startups focadas no desenvolvimento de carros voadores.
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“Eu trabalhei durante décadas para tornar um veículo como esse possível. Nos últimos anos, cheguei à conclusão de que finalmente essa tecnologia é algo viável, por isso procurei o Uber”, conta o engenheiro.
Em vez de apresentar o projeto a uma montadora ou a uma fabricante de aviões, Moore procurou a Uber por entender que o veículo só se tornaria viável com uma empresa que entendesse como transformar produtos complexos em ferramentas acessíveis ao consumidor final.
“Para mim era muito importante que fosse alguém que entendesse o consumidor final, que soubesse como transformar essa tecnologia em um produto útil”, explica.
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O ecossistema dos “carros voadores”
Para chegar rapidamente ao mercado, a Uber decidiu que não poderia construir um projeto como esse sozinha. Com isso, resolveu fazer algo pouco usual para uma empresa do Vale do Silício: fechar parceria com companhias tradicionais.
“No Vale do Silício, há muitas empresas que tentam desenvolver produtos revolucionários sozinhas. É o que acontece com muitos projetos espaciais, por exemplo. A gente entendeu que, para que essa iniciativa funcionasse, seria necessário unir a velocidade e visão do Vale do Silício com a qualidade aeroespacial e a segurança da indústria tradicional”, explica Moore.
Nesse sistema, a Uber reuniu mais de 25 parceiros que estão desenvolvendo todos os componentes necessários para esse tipo de transporte aéreo. Nessa divisão de tarefas, a empresa do Vale do Silício fica responsável por entender em quais cidades o projeto deve começar a operar e negociar com seus governantes, convencer os controladores de tráfego aéreo, desenvolver os espaços e a logística para pousos e decolagens e, obviamente, criar a demanda necessária para lotar esses carros no futuro.
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A fabricação dos carros está sendo desenvolvida por cinco diferentes parceiros comerciais, incluindo a americana Boeing e a brasileira Embraer. A lista completa inclui desde fabricantes de carregadores a empresas de engenharia para desenvolver os locais para decolagem e pouso.
“Temos parceiros trabalhando nesse projeto todos os dias. Sem parar e cada um em sua maior expertise. Enquanto conversamos, há veículos sendo testados em suas fábricas”, diz Moore.
Já no próximo ano os primeiros protótipos de eVTOLs devem ser testados; em 2023 a Uber espera realizar os primeiros transportes de passageiros nas cidades de Dallas e Los Angeles, nos Estados Unidos, e Melbourne, na Austrália.
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São Paulo entre as prioridades
Questionado sobre quando o serviço deve estar disponível no Brasil, Moore afirma que a cidade de São Paulo está na lista de locais prioritários, já que o propósito do Uber Elevate é justamente diminuir o tráfego nas cidades mais congestionadas do mundo.
“Apesar de ser prioridade, encontramos dificuldade em negociar com a força aérea [que controla o tráfego aéreo no Brasil] e com a ANAC [Agência Nacional de Aviação Civil]”, diz.
Ao se unir com outros parceiros para o projeto Uber Elevate, a empresa também reduz a quantidade de dinheiro que precisaria investir, caso decidisse construir todo o projeto sozinha. Queimar mais caixa é algo que a Uber definitivamente não pode se dar ao luxo.
A companhia teve um prejuízo de mais de US$ 7,3 bilhões nos primeiros nove meses do ano. Desde a sua abertura de capital, em maio, a empresa tem estado sobre escrutínio dos investidores.
Para piorar sua situação, a Uber ainda perdeu mais de US$ 1 bilhão em valor de mercado nesta semana após reportar 6 mil casos de agressões sexuais.
Para sair do mau momento, a companhia provavelmente vai precisar de algo ainda mais revolucionário do que os “carros voadores”.
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