Como o General Atlantic escolhe os próximos unicórnios brasileiros

Bill Ford, CEO do General Atlantic, falou durante o congresso Abvcap Experience sobre a experiência do fundo de private equity no mercado brasileiro

Mariana Fonseca

Bill Ford, CEO do General Atlantic (Jemal Countess/Getty Images for mothers2mothers and Marigay McKee & Bill Ford)
Bill Ford, CEO do General Atlantic (Jemal Countess/Getty Images for mothers2mothers and Marigay McKee & Bill Ford)

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SÃO PAULO — O General Atlantic é um dos maiores fundos de private equity do mundo, com 40 anos de história. Sua tese de empreendedorismo globalizado, transformação digital e crescimento econômico, principalmente nos países emergentes, se traduziu em aportes em quase 400 companhias nos Estados Unidos, na China, na Europa, no Sudeste Asiático e na América Latina. São mais de US$ 40 bilhões sob gestão.

Parte dos recursos foram para startups brasileiras como Gympass e Quinto Andar, que alcançaram uma avaliação de US$ 1 bilhão ou mais e adquiriram o status de unicórnio.

Segundo a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), nunca a presença do capital internacional nos mercados de venture capital e private equity foi tão importante. Hoje, o capital internacional representa mais de 60% do setor.

Bill Ford, CEO do General Atlantic, falou durante o congresso Abvcap Experience sobre a experiência do fundo de private equity no mercado brasileiro. O executivo trabalha no setor de private equity há mais de 25 anos.

“Quando chegamos a uma nova geografia, temos a mentalidade de que ficaremos para sempre. Fazemos um compromisso de longo prazo. Foi o que aconteceu na China, na Índia e no Brasil.”

O Brasil sob a ótica do General Atlantic

O General Atlantic fez seu primeiro investimento no Brasil em 2007. Segundo Ford, era uma época de estabilidade política, crescimento e real forte. “Naquela época, investimos em 19 companhias e tivemos 10 exits [eventos de saída para os investidores]. E exits são difíceis em qualquer lugar do mundo”, afirmou o CEO. “Foram retornos de mais de 40% em dólar e mais de 60% em real. O case de private equity no Brasil se tornou forte para os investidores internacionais.”

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Diversas instabilidades surgiram no país de lá para cá – mas Ford faz uma ressalva: “[É] o lugar mais volátil em que investimos, no câmbio e na política, mas que gera também os melhores retornos”.

Segundo o executivo, uma tática para mitigar os riscos é construir equipes locais. Elas são responsáveis por entender o contexto macroeconômico e político da região e decidir se é hora de aguardar ou de aproveitar as oportunidades.

“Toda geografia é diferente em termos de oportunidade, risco, características locais que se relacionam com fazer investimentos e obter exits. Nós sempre nos adaptamos e construímos uma estratégia própria para cada região, combinada com nosso potencial global”, afirmou o CEO do General Atlantic. “Nós só investimos em uma companhia que esteja em um setor e em um país que entendemos.”

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Na visão do gestor, um dos obstáculos que o país ainda deve superar é a transparência tributária – ser hostil ao capital estrangeiro criaria um incentivo para que empresas brasileiras estabeleçam estruturas offshore.

Por exemplo, abrir capital nas bolsas internacionais foi uma forma encontrada pelas brasileiras para fornecerem uma saída viável aos seus investidores internacionais atuais, além de atrair novos aportadores de capital. “Eu apelo que o governo pense em políticas mais transparentes e mais alinhadas aos interessantes internacionais. Podemos pagar impostos, mas eles devem ser mais claros”, disse Ford.

Como encontrar os próximos unicórnios

Para o CEO do General Atlantic, a valorização atual das startups é diferente da situação que vimos com a bolha da internet, em 1999. “As pessoas estavam experimentando a internet e criando ideias que só funcionaram depois. A qualidade dos modelos de negócios melhorou muito, os investidores sabem como avaliá-los e temos escala. Hoje, são bilhões de pessoas conectadas e disponíveis para o e-commerce e para as redes sociais”, afirma.

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Embora boa parte dos últimos 12 meses tenha sido marcada pela pandemia e incerteza econômica, a avaliação dos negócios de tecnologia cresceu entre 20% e 30%, nas estimativas de Ford.

Mas como escolher as melhores oportunidades? O CEO do General Atlantic defende que a vantagem competitiva de um fundo de private equity está em sua experiência em setores e geografia, mas também no valor que ele agrega às empresas investidas.

“Antes, cortar custos era o mais importante para fundos de PE. Hoje, pode ser fornecer capital humano ou estratégias de precificação eficientes”, afirmou. “Para nós, a meta sempre foi crescimento e não cortar custos. Nosso valor agregado é ajudar a companhia a expandir mais rápido.”

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O General Atlantic olha para o tamanho do mercado e a avaliação de valor da empresa, conferindo a possibilidade desse valuation ficar ainda maior. Outra métrica valiosa é o crescimento da receita.

“Perguntamos quão grande essa companhia pode ser, qual seu potencial de ser líder de um mercado e se seu produto é inovador o suficiente para isso”, diz Ford. “Passamos muito tempo nessas perguntas. Se interpretarmos esse potencial de crescimento errado, perdemos dinheiro.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.