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Basta uma ida ao supermercado para ver a proliferação de alimentos vegetais, em sua maioria plant based (feitos à base de plantas). De leite a carnes, as prateleiras estão cheias de produtos que imitam o gosto já conhecido do público, mas não utilizam ingredientes de origem animal em sua composição.
Para conseguir criar itens que mantenham o paladar e a textura, os fornecedores usam a tecnologia como principal aliada. A NotCo, startup chilena de plant based, criou um sistema de inteligência artificial, apelidado de Giuseppe, para gerar as receitas, desde a combinação de sabores ao aspecto visual do produto.
O algoritmo é alimentado por várias equipes que têm funções diferentes no processo. A de tecnologia fica encarregada de alimentar o sistema com dados científicos dos ingredientes. Já a de engenharia alimentar, composta por chefes de cozinhas e outros profissionais, têm a responsabilidade de sugerir novas composições ao sistema.
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Conforme explica Maurício Alonso, diretor geral da foodtech no Brasil, o sistema de modelagem mistura diversos ingredientes, usando a ciência de análise molecular. A máquina, então, associa os dados e gera receitas que ficam parecidas com as tradicionais.
Foi assim que a companhia entendeu, por exemplo, que abacaxi e repolho poderiam ser usados para criar leite vegetal, pois os itens produziam notas leitosas e cremosas. Um dos módulos sugeriu, também, que acrescentar endro na composição tiraria a cor verde da mistura, o que se confirmou posteriormente no teste prático.
O algoritmo Giuseppe tem, ainda, um outro procedimento no campo da aromatização das fórmulas, uma vez que a mistura de vários ingredientes pode dar um cheiro desagradável ao produto final. Para essa etapa, a foodtech mantém parcerias com fabricantes de aromas para alimentos que concebem essências específicas e que complementam a receita no seu aspecto olfativo.
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“Da concepção de uma ideia até o dia em que colocamos o produto no mercado leva cerca de nove meses”, aponta Alonso, responsável pela divisão brasileira da NotCo. “Tudo isso é feito sem nenhuma fábrica própria nos países em que atuamos”, esclarece.
Preço ainda é problema
Por causa dos preços, a produção e distribuição de alimentos à base de plantas ainda é iniciante no Brasil. Em média, um produto deste modelo chega a custar 30% a mais que um de origem animal, caso do hambúrguer.
A solução para esse problema seria uma produção em larga escala, no qual a cadeia de produção amorteceria os custos de fabricação. Por isso, além de pessoas veganas, a empresa aposta em um público que tem crescido e já é maioria no país, os chamados flexitarianos
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Segundo um levantamento do Instituto The Good Food, mais de 50% dos brasileiros admitem que poderiam flexibilizar a alimentação, deixando de comer alimentos de origem animal. A maior parte desse grupo considera que a saúde é um dos principais motivos que o faz pensar em consumir um prato totalmente vegetal pelo menos uma vez por semana.
“Essas pessoas querem soluções rápidas, e não estão procurando uma mudança de vida muito forte ou ser veganos, por exemplo. Nossa companhia, então, olha esse segmento, pensando em como atingir os flexitarianos, pois estamos falando da maior parte da população”, explica Maurício.
“Para essas pessoas, é importante entregar uma experiência orgânica, de sabor, textura e acessibilidade. Se a pessoa faz compras no supermercado, nós temos que estar lá. Essa é parte da democratização da categoria de plant basead, que antes era voltada apenas para veganos”.
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Atualmente, o portfólio da NotCo conta com hambúrguer de carne, hambúrguer de frango, leite, creme de leite, sorvete e maionese. Na lista de investidores, a startup traz nomes de peso, como os fundos Tiger Global, Bezos Expedition (do fundador da Amazon), Maya Capital, Endeavor Catalyst, entre outros.
Alimentos à base de plantas na luta contra mudanças climáticas
Além de ser um segmento de mercado que vem como alternativa para evitar a crueldade animal, os fabricantes de alimentos à base de plantas se colocam como atores da luta contra as mudanças climáticas.
Isso porque a indústria de carne animal é responsável por uma fatia generosa da emissão de gases tóxicos na atmosfera, conforme mostrou um relatório do Greenpeace, publicado em 2018. O documento sugere, portanto, que a produção e consumo de proteína animal seja reduzido pela metade até 2050, como forma de desacelerar as mudanças climáticas.
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“Estamos fazendo hoje para melhorar o mundo de amanhã, independente da bandeira política. Eu acredito que deveríamos tirar a discussão partidária para entender como queremos melhorar o mundo porque, claramente, temos que melhorar”.
O executivo ainda destaca que deve haver esforços dos governos em conduzir uma mudança na matriz alimentar. Isso, segundo ele, pensando no bem-estar do planeta para os próximos anos.
“É preciso equiparar para acelerar”, opina, sobre os impostos que permeiam a indústria animal e a vegetal. “Deveria ser a mesma estrutura impositiva, no sentido de fomentar e incentivar uma maior produção, para que os preços não impactem o consumidor. Hoje, quem paga essa diferença é o cliente e, quando ele precisa pagar mais, ele opta por não pagar”, avalia.
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