Com robôs cirurgiões, parque tecnológico da Rede D’Or (RDOR3) custou R$ 200 milhões

Empresas têm investido para assumir pioneirismo da saúde no país; Hospital Vila Nova Star tem primeiro robô de radioterapia do país

Wesley Santana

Da Vinci é um dos robôs médicos mais conhecidos do mundo. Foto: Divulgação/Intuitive
Da Vinci é um dos robôs médicos mais conhecidos do mundo. Foto: Divulgação/Intuitive

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Em julho de 2006, o InfoMoney publicou uma reportagem destacando o crescimento do uso de robôs auxiliares em cirurgias médicas. O texto apontava que a área poderia registrar uma alta acelerada nos anos seguintes e que novas tecnologias surgiriam, promovendo maior precisão nos procedimentos e cortes cada vez menores.

Passados quase 15 anos, esse futuro se confirmou, com diversos equipamentos tecnológicos que estão alocados dentro dos centros cirúrgicos pelo Brasil e o mundo. Um deles é o Da Vinci, fabricado pela Intuitive Surgical, empresa norte-americana bastante reconhecida nesta área.

Com quatro braços que atuam de forma independente, essa série de robôs permite que um cirurgião realize uma operação à distância -estando na mesmo sala cirúrgica- sem fazer contato direto com o paciente durante o procedimento. 

O InfoMoney foi convidado a acompanhar uma cirurgia realizada com o uso desta tecnologia em uma unidade do Hospital São Luiz, em São Paulo, um dos maiores centros médicos do país que pertence à Rede D’Or (RDOR3) . A cirurgia de correção de hérnia foi concluída em poucos minutos e não registrou nenhuma intercorrência, conforme pontuou o cirurgião do aparelho digestivo Carlos Eduardo Domene, responsável pelo procedimento.

Entre tantos benefícios, o especialista afirma que o robô promove uma visão completa da parte interna do órgão em tratamento, elimina tremores de movimento e trabalha com menos cortes que a cirurgia aberta. Na operação em questão, foram conduzidos apenas quatro cortes milímétricos na região da barriga do paciente, sendo três para introduzir os braços com os instrumentos e o quarto para a câmera de visualização 3D.

“Na cirurgia tradicional, os cortes são maiores, o médico tem uma visão menos privilegiada e, consequentemente, menor precisão no corte. É como se aqui estivéssemos usando um binóculos que permite ver exatamente onde está sendo cortado. Isso influencia tanto no tamanho do corte quanto no risco de sangramentos, pois há menos traumas e agressão ao tecido”.

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Ele completa dizendo que uma menor incisão induz maior resposta metabólica ao trauma, ou seja, o corpo reage melhor depois do procedimento. “O organismo tem menos inflamações e dores e, assim, mais facilidade e agilidade na recuperação pós-operatória”, explica.

Comandos dados ao robô Da Vinci são feitos a partir de uma máquina especial na mesma sala.
Comandos dados ao robô Da Vinci são feitos a partir de uma máquina especial na mesma sala.

Medicina robótica está crescendo, mas tem seus desafios

Um estudo da consultoria norte-americana Markets and Markets estima que o mercado de cirurgia robótica deve crescer 16% ao ano, chegando a movimentar US$ 18,4 bilhões até 2024. Essa projeção reúne desde investimentos com a pesquisa e desenvolvimento de novas máquinas até a chegada delas em países emergentes.

Mas esse estudo também ressalta que o alto custo dos equipamentos é um impeditivo para o fortalecimento do setor, que já poderia estar mais ‘espalhado’ pelo mundo.

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No Brasil, por exemplo, os convênios médicos não são obrigados a cobrir procedimentos feitos pelas máquinas. Por isso, quando há interesse do paciente, é preciso pagar o uso do robô à parte, o que pode custar caro, a depender do procedimento e do maquinário a ser usado.

Outro obstáculo é a disponibilidade dos equipamentos, que privilegia as capitais, especialmente do eixo Rio-São Paulo. No setor público a coisa não é muito diferente. Segundo fontes do setor, existem apenas quatro máquinas em unidades médicas populares do país.

A Rede D’Or (RDOR3) tem tentado levar esses equipamentos para outras regiões e, por isso, só no final do ano passado, investiu cerca R$ 200 milhões para formar o que seria o maior parque de cirurgia robótica da América Latina. Com 23 máquinas espalhadas por vários estados, o programa de cirurgia robótica da instituição estima que 20% do arsenal disponível no país esteja sob seus cuidados.

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“A rede tem distribuído os robôs estrategicamente por todas as regiões do país para estar o mais perto possível dos clientes. Temos um orgulho grande de sermos realmente tecnológicos, com um dos maiores parques do mundo”, comenta Domene, coordenador do programa e também presidente da SOBRACIL (Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica).

Exclusividade trouxe robô super avançado para o Brasil

O Hospital Vila Nova Star, também em São Paulo, ganhou fama por receber diversas personalidades públicas, como a cantora Anitta e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Inaugurada em 2019, a unidade luxuosa bate de frente com rivais e gigantes paulistas, como o Sírio Libanês e Albert Einstein.

E é este hospital que abriga um equipamento de seis toneladas, pioneiro e avançado no tratamento de tumores em movimento, o Cyberknife. O dispositivo foi comprado pela Rede D’Or em 2017, mas entrou em operação em 2019, como parte de um projeto de lançar o hospital como referência tecnológica na América Latina, contando com procedimentos inovadores e exclusivos no país.

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Segundo os especialistas, o equipamento funciona como um “bisturi virtual” que ataca os tumores malignos e benignos com uma precisão muito grande. A médica radio-oncologista Karina Moutinho, coordenadora de radioterapia da rede médica, explica que a máquina permite a criação de tratamentos personalizados com base na necessidade do paciente. Uma equipe multidisciplinar -de médicos, físicos e profissionais de TI- estuda caso a caso para entender o que de melhor o dispositivo pode entregar.

“Foi uma guinada da Rede D’Or em investimento na oncologia. O pensamento era sobre como conseguiríamos agregar valor para a cidade de São Paulo, que já tinha o maior parque radioterápico do país. Então a ideia foi trazer um tratamento que ainda não estava disponível aqui”, lembra a profissional, salientando que países vizinhos já tinham algum exemplar da Cyberknife.

Depois que conseguiu aprovação da diretoria para comprar a máquina que custa cerca de US$ 4 milhões, o desafio era montar a infraestrutura -como o isolamento radioativo- do local onde a peça está alocada. Também aconteceram discussões minuciosas com os órgãos reguladores, já que essa é a primeira e única máquina no país.

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Segundo dados do hospital, já foram realizadas 856 sessões de radioterapia em 196 casos diferentes. Do total de pacientes que já utilizaram o serviço, 60% vieram de fora do estado de São Paulo. O hospital também registra uma forte procura ativa pela tecnologia, e não só de indicações feitas por profissionais da Rede D’Or.

“Quando queríamos o Cyberknife era pela precisão dele. Hoje, o que mais me chama atenção é a entrega da dose [de radiação, no local exato]. Ter confiança na inteligência artificial para ajudar o olho humano e nas decisões não tem preço na execução dos tratamentos. Nós nos sentimos bastante seguros com a operação do equipamento”, finaliza.

Investimentos milionários

A corrida pela inovação tem levado diversas empresas do setor a investir em novas tecnologias. O Hospital Sírio Libanês, por exemplo, investiu R$ 35 milhões este ano para renovar o seu parque tecnológico.

Já a BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo, aplicou R$ 25 milhões na ampliação do seu parque com a expectativa de dobrar o número de procedimentos mensais via robôs, de 35 a 40 para 75 a 80 cirurgias robóticas por mês até o final do primeiro semestre de 2023.