Coletivo que luta por direitos para mulheres vulneráveis no centro de SP pede apoio para manter atividade

Mais de 250 mulheres em situação de prostituição contam com acolhimento do Coletivo Mulheres da Luz, que completa oito anos e lança campanha digital

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Um pequeno porão cedido pela administração do Parque da Luz, localizado na região central de São Paulo, serviu durante anos como espaço para as reuniões do Coletivo Mulheres da Luz – Associação Agentes da Cidadania. Nos encontros, as mulheres em situação de prostituição que atuam no parque e entornos encontravam todo tipo de apoio dos voluntários e voluntárias: desde a escuta sobre a rotina permeada de vulnerabilidade até o acesso a aulas de alfabetização, atendimentos de saúde física e psicológica, oportunidades de frequentar programas de formação profissional e alimentação.

Mesmo sem infraestrutura básica, como água encanada e sanitários, o lugar serviu para fortalecer a atuação do grupo, que completa oito anos. Com o despontar da pandemia, entretanto, tudo mudou. O acesso ao porão foi inviabilizado, e o Coletivo se mobilizou para aumentar a rede de apoio e seguir atuando. Por meio de doações, foi possível alugar uma casa na região e seguir com os atendimentos.

No entanto, incertezas financeiras colocam em xeque mais uma vez a continuidade das atividades. “Por isso a gente acha que chegou o momento de conquistar um espaço próprio”, diz Cleone dos Santos, fundadora do grupo. O Coletivo começou neste mês de novembro uma campanha de financiamento coletivo  com o objetivo de arrecadar recursos para adquirir um imóvel no bairro da Luz e promover, portanto, a sua  sede definitiva. “Essa é a garantia de que a gente conseguirá seguir com as nossas atividades no futuro”, diz Cleone.

História do Coletivo

Cleone lidera o grupo com o conhecimento de quem viveu a situação de prostituição por quase 20 anos. “Era uma rotina permeada de maus tratos e vulnerabilidade”, lembra. Em meados de 2011, Cleone conheceu a freira Célia Regina, participante da ordem passionista de São Paulo da Cruz, que há três décadas trabalha com mulheres em situação de prostituição. Juntas, a partir de uma compreensão mútua das dificuldades das mulheres em situação de prostituição da região do Parque da Luz, Cleone e Irmã Regina, tiveram a iniciativa de criar uma rede de apoio, que veio a se tornar o Coletivo Mulheres da Luz.

Assim nasceu, em 2013, o Coletivo Mulheres da Luz, que faz parte da Associação Agentes da Cidadania, com o intuito de promover a escuta e possibilitar formação profissional como alternativa à rotina de vulnerabilidade. Dessa maneira, elas podem vislumbrar outras possibilidades de renda e deixar a atividade. “O nosso objetivo é tirar essas mulheres da invisibilidade, fazer com que se sintam cidadãs”, diz Cleone.

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Mulheres vulneráveis

Todas as manhãs, dezenas de mulheres deixam as suas casas em bairros periféricos e vão para a região do Parque da Luz, no centro de São Paulo. É neste ambiente, cercado por árvores, que garantem algum anonimato, que elas aguardam. O ambiente bucólico do parque se contrapõe com as suas rotinas e a situação social de seus entornos. São mulheres que geralmente têm mais de 40 anos, pele preta, garantem a principal fonte de renda da família, e encontraram na situação de prostituição a tentativa do sustento de filhas, filhos e netos.

Muitas vêm de outros estados buscar oportunidades em São Paulo, viveram ou ainda vivem em situações de abuso doméstico ou no trabalho. Sem formação profissional – a maioria não tem sequer alfabetização-,  elas buscam uma fonte de renda em meio a precarização e vulnerabilidade da atividade.

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A maioria acaba em situação de prostituição para complementar a renda ou pagar alguma dívida. Todas encaram essa alternativa como um momento passageiro em suas vidas. Mas poucas conseguem sair. A mais velha do grupo, hoje, tem 75 anos. Vivem uma vida dupla, pois são mulheres que circulam pelos bairros onde moram e se relacionam com as suas famílias sem mencionar a origem dos recursos financeiros, o que as sufoca ainda mais. “Elas falam que trabalham como empregadas domésticas, faxineiras, diaristas ou cozinheiras”, conta Cleone.

Parcerias com empresas são bem-vindas

Ao longo dos últimos anos, parcerias com empresas e com outras instituições do bairro incentivaram programas pontuais de formação e geração alternativa de renda. “Tem um grupo fazendo curso de cuidadora e outro produzindo sabão na Casa do Povo, centro cultural do bairro do Bom Retiro”, diz Cleone. Ela reitera que o grupo segue em busca de parcerias com companhias dispostas a apoiar iniciativas de profissionalização no longo prazo, e que também ofereçam oportunidades de trabalho para as mulheres colocarem em prática a teoria, se recolocando no mercado de trabalhado e possibilitando uma atividade alternativa à prostituição.

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Outra frente importante da ação do Coletivo é possibilitar o acesso das mulheres à saúde pública. Por conta da necessidade de manter a situação de prostituição em sigilo, elas não podem frequentar os postos de saúde dos seus bairros. Durante quase uma década, o grupo auxiliou um número cada vez maior de mulheres. Hoje, a ação do Coletivo conta com o trabalho de dezenas de voluntárias e voluntários, tem mais de 250 mulheres cadastradas e beneficia, de maneira indireta, mais de mil pessoas a contar filhas, filhos, netos e bisnetos.

As doações podem ser feitas pela página da campanha. É possível acompanhar em detalhes a atuação do grupo pelas redes sociais, como Instagram e Facebook.

As empresas que estiverem dispostas a realizar algum tipo de parceria ou contribuir para o projeto, podem entrar em contato pelo e-mail: coletivomulheresdaluz@gmail.com.

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