Cogna: como gestores avaliam os planos da nova Kroton

Gestores definiram planos como ambiciosos e afirmam que resultados ainda devem demorar a aparecer

Letícia Toledo

KROTON: em apresentação ompanhia anunciou mudança de nome (Divulgação/Kroton)
KROTON: em apresentação ompanhia anunciou mudança de nome (Divulgação/Kroton)

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SÃO PAULO – O discurso de transformação digital da maior companhia de educação do país, a Kroton, atingiu novos patamares nesta segunda-feira (07). Em seu investor day a empresa anunciou a criação de uma holding, com o nome de Cogna, e a separação dos negócios atuais em quatro empresas.

As mudanças foram bem avaliadas por gestores entrevistados pelo InfoMoney que acompanharam a apresentação. Mas para aqueles que esperavam que a Kroton anunciasse a abertura de capital de suas operações do ensino básico (como circulavam alguns boatos no mercado) a notícia não é das mais animadoras: há muito trabalho a ser feito antes de chegar lá.   

“Para uma empresa grande como a Kroton ganhar agilidade é necessário dividir os negócios entre aqueles que já estão em um estágio maduro e aqueles que ainda têm muito a crescer. Foi isso que a companhia fez”, afirma Henrique Bredda, gestor da Alaska Asset Management.

“A Kroton tem executivos fortes, possui escala e tecnologia. O plano apresentado hoje é agressivo. É uma estratégia de longo prazo que está apenas começando a ser desenvolvida”, afirma Ricardo Campos, sócio fundador da gestora Reach Capital.

Os planos para cada empresa

A holding Cogna terá quatro companhias. A marca Kroton continuará a ser utilizada para a empresa de ensino superior que reúne faculdades e os polos de ensino a distância do grupo. Nessa empresa, o foco agora será melhorar a geração de caixa, que sofreu nos últimos anos com a redução do Fies e o aumento nas despesas com material, pessoal e administrativas.

Na educação básica, a empresa que reunirá todas as suas 54 escolas é a Saber. Para essa área de negócios o objetivo inicial será azeitar todos os processos e tornar a operação o mais eficiente possível. Com a casa arrumada, num segundo momento a Saber deve partir para aquisições. “Hoje temos apenas 1,2% do mercado de ensino básico, temos muito espaço para crescer”, afirma Rodrigo Galindo, CEO da Cogna.

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Nas outras duas empresas do grupo o foco será o crescimento acelerado. A Platos é a empresa de ensino superior focada em oferecer serviços de graduação e pós-graduação para outras universidades fora do grupo. Já a Vasta Educação é focada na prestação de serviços para outras escolas de educação básica. 

Para impulsionar o crescimento tanto da Platos quando da Vasta, essas empresas podem ganhar novos sócios. “Tudo está no radar neste momento, não descartamos nenhuma possibilidade”, afirmou Rodrigo Galindo durante o evento quando questionado se faria sentido para essas empresas trazerem novos sócios, como um private equity ou um venture capital ou captarem dinheiro no mercado por meio de uma abertura de capital para acelerar o crescimento.

“O que faz mais sentido é eles trazerem um venture capital ou um private equity para as operações, para elas ganharem corpo e, daqui alguns anos, fazerem a abertura de capital dessas empresas”, afirma Bredda. 

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Além das quatro empresas, a Cogna também criará um fundo de venture capital no próximo ano, com capital 100% próprio, para investir em startups que possam impulsionar um dos negócios do grupo ou ainda trazer inovação para o mercado de educação. 

Conflito de interesses?

Um ponto que chamou a atenção do mercado na nova estrutura da Kroton está no fato de a Platos, de serviços para o ensino superior, e a Vasta, de produtos para a educação básica, oferecerem produtos e serviços tanto para as companhias do grupo quanto para seus concorrentes

“A Cogna vai ter que convencer as outras escolas e universidades de que não vai usar toda a base de dados que adquirir em benefício próprio, para as empresas do grupo. Eles ainda não souberam explicar como vão criar uma ‘chinese wall’ entre as operações”, afirma um gestor.

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“É a mesma lógica de um marketplace como o da Magazine Luiza, que traz outros varejistas para vender em sua plataforma. É um modelo que funciona em outras áreas, mas ainda vai precisar ser adaptado para a educação. Ninguém fez isso ao redor do mundo. Vai ser um desafio para a Kroton”, afirma Bredda. 

Mercado potencial de R$ 174 bilhões

O modelo das quatro empresas já está definido e 100% pronto para o mercado? Galindo é o primeiro a esclarecer que não. “Ainda há muita coisa na Vasta e na Platos, por exemplo, que vamos testando e descobrindo se vai ou não dar certo”, afirma.

Gestores são unânimes em dizer que o processo de construção das novas empresas ainda vai demorar alguns anos, entre cinco ou seis, até mostrar resultados consistentes. A Cogna estima que o tamanho total desse mercado esteja em R$ 174 bilhões no país e que hoje tenha 3,9% de market share. A gigante da educação brasileira afirma que está só começando.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.