Clubhouse: descubra por que empreendedores estão usando a rede social e como ela pode ajudar seu negócio

Nada de curtidas ou textos: app é exclusivo para conversas por áudio. Fundadores e investidores destacam conhecimento, aprendizado tecnológico e networking

Mariana Fonseca

(Unsplash)
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SÃO PAULO – Mais uma rede social tem ganhado os holofotes em nichos como o empreendedorismo tecnológico e o mercado financeiro: o Clubhouse, focado exclusivamente em conversas por áudio. Criado há menos de um ano, o aplicativo já é avaliado em US$ 1 bilhão e tem 6 milhões de usuários.

Só é possível entrar por convite de alguém que já está usando o Clubhouse. Os usuários acessam salas e podem ou falar ou apenas ouvir conversas de outras pessoas. Não há curtidas, compartilhamentos ou textos. As conversas também não são gravadas ou transcritas (veja mais sobre a rede social).

Empreendedores de tecnologia como Elon Musk e Mark Zuckerberg já fizeram reuniões por meio do Clubhouse. Ao entrar na rede, o usuário escolhe seus interesses – inclusive em temas como startups e venture capital – e vê salas sobre os tópicos pré-selecionados.

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O InfoMoney ouviu fundadores, investidores de startups e executivos focados em inovação para entender como eles estão usando o Clubhouse – e se outros empreendedores brasileiros precisam olhar para a rede social.

Conhecimento, tecnologia e networking

“O que mais me surpreende é a acessibilidade e o alto nível das conversas, que não param durante a madrugada ou nos finais de semana”, diz Livia Cunha, fundadora da startup de saúde Cuco Health, que usa o Clubhouse há uma semana. “Tenho trocado aprendizados com outros empreendedores, ouvido referências no mercado de saúde e criado salas que discutem as dores dos meus clientes.”

Tania Gomes Luz, fundadora da consultoria de marca Girlboss e diretora de marketing da foodtech Green Buddy, também entrou no Clubhouse há alguns dias. “Estou explorando esse novo território e buscando entendê-lo melhor. É uma rede em que você precisa minerar para acompanhar discussões relevantes. Tenho aproveitado para ouvir comunidades empreendedoras mais globais”, diz a empreendedora.

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Tania, porém, faz alertas em relação ao consumo do conteúdo. “Não vale ser plateia de gente com conteúdo duvidoso. Minha dica é sempre olhar o LinkedIn dos palestrantes que você segue”, aconselha a empreendedora. “Também só frequente se faz sentido para o seu momento. De nada adianta estar ligado em todas as redes sociais e não ter tempo de aplicar as boas práticas no seu negócio.”

Telas do aplicativo Clubhouse (Reprodução)
Telas do aplicativo Clubhouse (Reprodução)

Renata Zanuto, co-head do espaço de empreendedorismo tecnológico Cubo Itaú, usa o Clubhouse há cerca de duas semanas. “Existem diversos temas: qualquer pessoa pode criar uma sala e falar sobre um conteúdo que domina. Eu tenho visto discussões sobre como montar sua equipe, como escalar sua solução e como receber aportes, por exemplo”, diz Renata. “Como apresentadora, participei de uma conversa com diversos empreendedores fazendo apresentações de 30 segundos a investidores. Já como ouvinte, presenciei uma conversa de um fundador de sucesso no Vale do Silício com o Ben Horowitz [autor do livro ‘The Hard Thing About Hard Things’]. É uma forma de acessar debates que antes você só veria em eventos de grande porte, e ainda existe a possibilidade de os moderadores da sala aprovarem um tempo para perguntas.”

Flavio Pripas, um dos sócios do fundo de venture capital Redpoint eventures, entrou no Clubhouse há cerca de três semanas. Ele recomenda que os empreendedores usem a plataforma para avaliar a tecnologia. “O fundador de uma startup desafia o status quo e está sempre testando modelos de negócios e tecnologias. Experimentar uma nova ferramenta é importante.”

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Tania reforça o conselho. “Empreendedor, por natureza, é curioso. Quando uma inovação como essa ganha relevância, é importante conhecer e entender. Então, eu recomendo que os empreendedores entrem sim, explorem toda a plataforma e se engajem nos conteúdos que realmente possam tornar sua jornada menos difícil.”

Pripas também destaca o potencial de networking do aplicativo. “É muito nítido que ele recuperou algo perdido durante a pandemia, que é a serendipidade. São os encontros não marcados, as conversas com pessoas com que você não falava há semanas, meses ou anos”, diz. “Daí pode vir a indicação de uma startup ou um investimento conjunto, no nosso caso [da Redpoint eventures]. A serendipidade é importante para o ecossistema de empreendedorismo, porque são momentos nos quais descobrimos movimentos de mercado e tomamos decisões de negócio.”

Gustavo Caetano, fundador da Sambatech, já participou falando ou ouvindo conversas sobre empreendedorismo e inovação. Ele reforça a possibilidade de networking para o pequeno empreendedor. “Existe a chance de ter um contato direto com grandes empreendedores e investidores. O Edson Bueno [fundador da Amil, falecido] me disse uma vez que tubarão nada com tubarão, e sardinha nada com sardinha. O aplicativo permite que você nade com os tubarões.”

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Além de empreendedores e investidores, o Clubhouse também pode ser uma boa ferramenta para corporações de olho em inovações. “Nós estamos conversando com outras grandes empresas e com startups de saúde. Descobri uns dois ou três negócios que entraram para o nosso topo de funil”, diz Thiago Julio, gerente de inovação aberta da Dasa e curador da vertical de healthtech no Cubo Itaú. Julio usa o Clubhouse há uma semana.

Clubhouse tem desafios para ganhar o país

O InfoMoney explicou em matéria anterior que ainda existem alguns obstáculos para que o Clubhouse se popularize no Brasil. O primeiro deles é que o Clubhouse só está disponível para o sistema operacional iOS, dos celulares iPhone (Apple). Quem tem um smartphone com o sistema operacional Android precisa esperar uma nova versão, que o Clubhouse prometeu entregar “em breve”.

Resolvidas as barreiras de acesso, outros desafios serão garantir que seus usuários entendam a rede social e façam uso constante dela. “O risco que o Clubhouse corre no Brasil é o mesmo que vimos anteriormente com o Twitter: as pessoas precisam usar cada rede corretamente”, alerta Tania. “O Twitter foi uma rede pouco utilizada pelos brasileiros por muito tempo, mais voltada para check-ins em aeroportos e restaurantes. Ninguém sabia muito bem como se comunicar por lá, o que é bem parecido hoje com o Clubhouse. Usamos o Twitter muito bem atualmente, expondo opiniões com poucas palavras sobre temas em alta, atingindo muitas pessoas em pouco tempo. Passada essa euforia inicial, veremos a profundidade e o engajamento real do Clubhouse.”

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Um último desafio é lidar com a saturação de redes sociais. Facebook, Twitter, Telegram, Instagram, TikTok, Pinterest e muito mais: existem diversos players tentando abocanhar o tempo escasso do usuário. Dentro do ecossistema de empreendedorismo, pelo menos, o Clubhouse conseguiu despertar um primeiro interesse.

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.