Cielo tem total condição de passar pelo cenário mais pessimista da crise, diz executivo

Para Paulo Caffarelli, momento atual une problemas de todas as crises anteriores

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Para Paulo Caffarelli, CEO da Cielo (CIEL3), a crise atual é uma soma de todas as anteriores. “Junta 11 de setembro, crise de 2008, crises que tivemos por conta de vírus, como o HIV, tudo em uma coisa só”, disse o executivo em teleconferência com jornalistas sobre os resultados financeiros do primeiro trimestre do ano, já abalados pelos efeitos da pandemia de coronavírus.

Mesmo assim, Caffarelli se diz confiante da capacidade da companhia de superá-la com tranquilidade. “Temos uma estrutura acionária forte, liquidez e capital disponível para superar esse momento”, garantiu.

Gustavo Sousa, diretor financeiro, mostrou em seguida que o nível de endividamento sobre o Ebitda da companhia, atualmente em 1,6 vezes, abaixo dos patamares do terceiro trimestre de 2019 (1,9), traz “total condição de fazer frente aos vencimentos, mesmo imaginando os cenários mais pessimistas”.

A receita líquida operacional do período totalizou R$ 2,83 bilhões, alta de 2% na comparação com os R$ 2,774 bilhões do ano anterior e com uma redução de e uma redução de 4,9% em relação ao trimestre anterior.

A Cielo registrou um lucro líquido de R$ 166,8 milhões no primeiro trimestre de 2020, queda de 69,4% na comparação com igual período do ano anterior, quando lucrou R$ 544,77 milhões.

Já o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), ficou em R$ 573,8 milhões no período, queda de 30,7% na base de comparação anual e abaixo da estimativa do consenso Bloomberg de R$ 642 milhões.

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Analistas do Bradesco BBI afirmaram que há sinais de melhorias, mas que “o mercado provavelmente ficará decepcionado” com o impacto limitado das renegociações de incentivos com bancos parceiros, comemoradas no trimestre anterior.

Menos clientes, de propósito

A contração de 7% na base ativa de clientes surpreendeu analistas do Morgan Stanley pela sua intensidade, mas os porta-vozes da empresa deixaram claro que o número tem uma razão de ser: a reestruturação da base pelo fim do subsídio de vendas de maquininhas.

“No ano passado, vendemos 1,5 milhão de maquininhas. Neste ano vamos vender bem menos”, disse Caffarelli. “Mas o importante agora é mudar essa equação e rentabilizar mais com clientes maiores”.

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Parte do mercado já comemora a estratégia. “O foco em clientes de maior qualidade deve ter impacto positivo para as receitas, e penetração de antecipação de recebíveis”, diz o relatório do BBI, prevendo uma recuperação gradual das atividades. “A chance da adquirente apresentar prejuízos nos próximos dois trimestres não deve ser ignorada”, alerta.

“Em relação ao quarto trimestre, a redução do volume transacionado, e consequentemente da receita, ocorreu devido à sazonalidade do negócio de adquirência da Cielo, da gestão de cartões da Cateno, assim como pelos primeiros efeitos da pandemia [de coronavírus]”, afirmou a companhia. Cateno, vale lembrar é parte relevante do valor da empresa.

O volume financeiro de transações foi de R$ 159,8 bilhões, alta de 1,8%. A margem Ebitda (relação entre o Ebitda e a receita líquida) foi de 20,3%, baixa de 9,6 pontos percentuais na comparação com os 29,9% registrados em igual período de 2019.
Os gastos totais consolidados (custos e despesas), totalizaram R$ 2,575,3 bilhões, um aumento de 17,9% na base de comparação anual e redução de 1,9% frente aos últimos três meses de 2019.

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Dividendos vão ter de esperar

A companhia resolveu alterar a periodicidade do pagamento de dividendos e/ou juros sobre o capital próprio do exercício de 2020 de trimestral para anual.

A mudança abrange, inclusive, os proventos calculados com relação aos resultados apurados no primeiro trimestre de 2020, tendo como justificativa a estratégia de preservação e gestão de caixa adotada pela companhia desde o início do surto do coronavírus.

“Diante de possíveis cenários de extensão do isolamento social e consequente alongamento de restrições de liquidez do mercado, a companhia acredita que possui capacidade de gerenciar seu caixa de forma a fazer frente a todos seus compromissos”, afirma em comunicado.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney