“Brasil cresce o que o mundo permite que ele cresça”, diz Bradesco

De acordo com economista-chefe do banco, Brasil registrou crescimento baixo nos últimos trimestres devido a fatores atípicos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em encontro com a  Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais) nesta terça-feira (28), o economista-chefe do Bradesco (BBDC4), Octávio de Barros, acredita que o Brasil vem registrando taxas de crescimento baixas devido ao ambiente de desaceleração mundial. Entretanto, as perspectivas são de melhora, avaliando que o PIB dos terceiro e quarto trimestres podem subir de 3,5% a 4% em termos anualizados em 2012.

Barros ressalta ainda que o País continua bastante dependente da China, que vem sofrendo um movimento de desaceleração, que deve continuar nos próximos anos. Para o economista, a China não exercerá o mesmo processo de locomotiva mundial exercido nos últimos anos, ressaltando a desaceleração da indústria do país, além dos indicadores de queda nos preços dos minérios devido à menor produção no país.

De acordo com Barros, o problema do crescimento brasileiro nos últimos trimestres foi observado por fatores “idiossincráticos”, e não por um processo de esgotamento do modelo brasileiro. Barros ressalta que o País teve o seu crescimento afetado entre 0,8 a 1 ponto percentual por fatores atípicos, como as fortes secas no Sul e do Nordeste – que gerou uma queda de mais de 8% no PIB agrícola -, os problemas na área de infraestrutura, além da estagnação da produção de petróleo, que foi considerada uma surpresa pelo mercado. 

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Apesar de ver que o modelo de crescimento brasileiro não se esgotou, Barros avalia que ele já não apresenta a mesma forte de anos atrás e que deverá ser mudado ao longo do tempo, precisando de novos vetores de crescimento. Os quatro pilares do crescimento dos últimos oito anos – crédito farto, políticas sociais inclusivas, câmbio apreciado e gasto público, não podem ser mais observados ou desenvolvidos atualmente com a mesma força.

Assim, os novos desafios são pela busca de maior competitivade, menor gastos de custeio, maior foco em investimentos reais públicos e privados, menores juros e melhores condições de financiamento e reformas de produtividade e eficiência. 

Agricultura e indústria em recuperação
A atividade agrícola, que registrou forte queda no trimestre, será um grande catalisador para o crescimento brasileiro, uma vez que apresentará recorde de área plantada de soja e elevação da produção. Isso em razão dos efeitos do “el niño”, que devem trazer chuvas regulares para o centro sul, favorecendo a produtividade. Além disso, os preços internacionais devem continuar elevados, ressalta o economista, o que deve promover o crescimento econômico.

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Com relação à economia industrial , o economista observa que ela está parada desde março de 2010 em escala mundial, devido à sobreoferta de produtos manufaturados. Enquanto isso, as vendas brasileiras vem crescendo, sustentada pelas importações. Do ponto positivo para o setor, está o descompasso entre o maior faturamento e a produção, já que as indústria vêm se tornando varejistas, operando com custos menores graças aos fornecedores externos.

Além disso, as expectativas com relação à indústria em 2013 são melhores, afirma o economista, devido ao fim dos ciclos de estoques, câmbio depreciado, juros menores e medidas de maior protecionismo. 

Os investimentos também parecem reagir, avalia o economista, com a mudança de percepção do mercado, com maior moibilização do setor privado através das ações do governo através de parcerias públicos-privadas. Em complemento ao cenário de maior otimismo, está o cenário de maior confiança empresarial.  Além disso, o consumo continua se mantendo a ritmo invejável internacionalmente, ainda mais levando em conta a recuperação do consumo das famílias. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.