Publicidade
Há boas razões para acreditar que os mercados brasileiros – inclusive a bolsa – vão se recuperar no segundo semestre. A principal delas, afirma o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, é que ainda faltam boas opções dentre os mercados emergentes, capazes de concorrer com o Brasil.
Aqui, a inflação está voltando para a meta, o que abrirá espaço para a taxa Selic retomar o patamar de um dígito em breve. E, mesmo sem oferecer uma agenda pública construtiva, o governo parece disposto a garantir alguma estabilidade fiscal e política, afastando assim os cenários mais pessimistas traçados no início do ano. Mas a onda positiva que começa a se formar deve alcançar sobretudo companhias consolidadas, com modelo de negócio sustentável. Para as chamadas ” empresas de crescimento”, com baixo retorno e elevada queima de caixa, o espaço é muito reduzido.
Leia também: Para CEOs, segundo semestre terá atividade econômica baixa, mas reforma tributária pode trazer confiança
Continua depois da publicidade
Finkelsztain falou com exclusividade ao InfoMoney pouco depois de ter retornado de uma viagem aos Estados Unidos, da qual voltou “mais animado”, diante dos relatos dos investidores com os quais se encontrou. Esses agentes se ressentem do “ruído excessivo” provocado pelo governo – que trouxe à mesa o risco de retrocesso em questões como o marco do saneamento ou a privatização da Eletrobras –, e isso impede a entrada de mais fluxo de recursos externos. “Mas o país não está mal posicionado”, afirma Finkelsztain.
Conta a favor, neste momento, a percepção de que há um certo equilíbrio de forças entre Executivo e Congresso, capaz de impedir o retrocesso em algumas conquistas do país. “Então, o mercado vai melhorar muito no segundo semestre. Não porque vamos ter uma grande agenda construtiva, mas por falta de má notícia. O arcabouço não é o que o investidor gostaria. Mas tem algum compromisso fiscal”, afirma.
O Brasil se beneficia, neste momento, da ausência de boas alternativas de investimento no mundo emergente. E da perspectiva de uma queda de juros a partir do segundo semestre, o que vai dar impulso tanto para a renda variável – que opera sob múltiplos baratos – quanto ao crédito privado, diz Finkelstein. “O efeito do juro é muito cruel para as empresas, mas acho que a partir do ano que vem a gente vai ter uma agenda corporativa bem positiva”, afirma. “Se tivermos uma estrutura de juros em que a taxa de curto prazo esteja em 8%, 9% , acho que o mercado de equities vai andar.”
Continua depois da publicidade
No mercado de crédito, já é possível enxergar alguma acomodação após a crise deflagrada pelo episódio da Americanas (AMER3), tanto dos fluxos como dos spreads pagos pelas debêntures. “Mas ainda não vejo os volumes que a gente esperava. Claramente era para ter um primeiro semestre mais forte, mas as empresas tiveram que adiar a ida ao mercado porque o investidor não estava lá”, diz, ressaltando que o cenário afeta mais diretamente empresas de pequeno e médio porte. “Para as grandes, se o mercado de capitais não está disponível, os bancos emprestam. Para as pequenas, não tem alternativa senão parar o projeto, não investir. Você não consegue fazer projetos com juro a 25% ao ano”, afirma.
A retomada do mercado de capitais deve ser liderada por companhias de setores mais tradicionais, como energia e saneamento, e de grande porte. Mas, no tempo, as de médio porte voltarão a captar recursos, desde que sejam lucrativas. “Em 2018, 2019, com juro zero, o investidor comprava empresas de crescimento. Não tem mais espaço para essas empresas justificarem que podem queimar caixa porque o dinheiro é infinito” afirma. “Não é essa a música que vai tocar nos próximos anos”.
You must be logged in to post a comment.