As apostas da Dexco (DXCO3) para mexer com a construção civil 

Foram mais de R$ 230 milhões investidos desde 2021 para incentivar empresas que têm potencial para dar novo fôlego ao mercado 

Rikardy Tooge

Produção em fábrica de Jundiaí, no interior de São Paulo (Foto: Divulgação/Dexco)
Produção em fábrica de Jundiaí, no interior de São Paulo (Foto: Divulgação/Dexco)

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Há mais de uma década a Dexco (DXCO3) entendeu que precisava inovar para além da entrega de novos produtos aos consumidores. Conhecida pelas marcas Duratex, Hydra, Deca – e mais um extenso portfólio –, a empresa passou a buscar ideias que pudessem transformar sua operação – e por que não – o próprio mercado da construção civil.

De 2012 para cá, a ideia não só ganhou tração como orçamento. Em seu último plano de investimentos, anunciado em 2021, a Dexco destinou pelo menos R$ 250 milhões, ou 10% dos R$ 2,5 bilhões previstos em capex até 2025, para aplicar na inovação do setor.

E, desde o ano passado, pelo menos R$ 236,9 milhões já foram investidos em participações minoritárias de empresas pelo braço de venture capital da companhia, a DX Ventures. O tamanho do aporte não é trivial, uma vez que a ideia da Dexco é estimular o mercado e não se tornar um conglomerado de soluções para obras.

‘Comprando o risco’

Em uma tacada para incentivar um uso maior uso de madeira engenheirada (voltada para a estrutura da construção), a Dexco investiu na Urbem, empresa que produz esse tipo de madeira e na Noah, que atua no desenvolvimento de empreendimentos imobiliários a partir da matéria-prima. Os dois acordos movimentaram cerca de R$ 45 milhões

“Nossa visão é de que temos que fazer nossa parte por mais sustentabilidade na construção civil. Esses investimentos são uma forma de ‘comprar’ parte do risco para trazer novidades ao mercado”, argumenta Daniel Franco, diretor de TI, Desenvolvimento de Negócios e Inovação da Dexco.

Outro aporte, este mais expressivo, foi na ABC da Construção, uma varejista de materiais para obra com mais de 250 lojas pelo país e que possui um modelo de entrega ao estilo “just in time”. A Dexco investiu R$ 102 milhões por 10% da companhia.

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Daniel Franco, diretor da Dexco: 'comprando o risco' para estimular o setor
Daniel Franco, diretor da Dexco: ‘comprando o risco’ para estimular o setor (Divulgação)

Mais recentemente, em janeiro deste ano, a empresa aplicou R$ 89,9 milhões na Brasil ao Cubo, uma construtora especializada em obras modulares com entrega rápida, de cerca de 100 dias – além da Dexco, a Gerdau (GGBR4) também investe na construtrech.

“Nós queremos sair na frente para trazer o mercado para a inovação. Não se trata de concorrer com os nossos clientes [construtoras], mas incentivá-los. Se apenas estivéssemos olhando o viés financeiro de curto prazo, nós nem teríamos investido. Porém, acreditamos no impacto de longo prazo”, reforça Franco.

Acelerando ideias

Se os aportes milionários hoje figuram na estratégia da Dexco, o início foi bem mais modesto. Há uma década, a empresa abriu programa para que seus cerca de 14 mil funcionários contribuíssem com propostas que pudessem transformar a operação.

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Nascia ali o sistema “Imagine” (acrônimo para Ideias Mais Ações Geram Inovação na Empresa), que paga um bônus financeiro aos donos das melhores ideias. A metodologia evoluiu até virar uma spin-off – atualmente, Gerdau, o banco Safra e a Tenda utilizam o sistema desenvolvido pela Dexco.

Com o passar dos anos, a empresa notou o movimento de startups ganhar tração e foi buscar seu espaço neste novo universo. Em 2018, a empresa criou a primeira edição do programa Garagem Duratex, voltado para acelerar empresas que pudessem ser disruptivas no setor – foi neste momento que a Dexco teve seu primeiro contato com a Brasil ao Cubo, por exemplo.

Solução das dores

Com o surgimento da DX Ventures, a companhia mudou o foco de seu desafio de startups, agora voltado para solucionar problemas de sua operação e o projeto Garagem Duratex passou a se chamar Open Dexco.

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Neste programa, a Dexco seleciona startups que possam resolver algumas “dores” do negócio, como a rastreabilidade do estoque, a automação da checagem de defeito nas peças, até chatbots voltados aos usuários  e sistema para o processamento de pagamentos.

Na edição de 2022, iniciada em março, 250 empresas se inscreveram. Dessas, dez foram escolhidas para desenvolverem projetos piloto. São elas: Ledcorp (rastreabilidade), HarboR (inspeção de peças), Ubots (chatbots), PixForce (inspeção visual), Shooju (captura de lides), Nortegubisian (pagamentos), 1WorldSync (comunicação), Spectral (inspeção) e AMPLA Intelligence (solução para louças).

As dez startups foram bem avaliadas pela direção da Dexco. Agora, a companhia estuda de que forma vai avançar com cada uma delas. Daniel Franco explica que a ideia não é comprar nenhuma participação, mas, sim, oferecer um contrato longo de prestação de serviço para que o empreendedor possa escalar o negócio. “É um modelo ‘ganha-ganha’: nós conseguimos modular nossas necessidades enquanto a startup ganha fôlego com um grande contrato”, conclui o executivo.

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DXCO3 na Bolsa

Os papéis da Dexco, que é controlada pela Itaúsa (ITSA3), operam em 2022 com queda de 42,3%, acompanhando a visão pessimista do mercado com o setor de construção civil. Na quinta-feira (17), as ações da companhia fecharam a R$ 8,63, baixa de 3,35% diante das preocupações do mercado com a PEC da Transição.

No balanço do terceiro trimestre deste ano (3T22), a fabricante reportou lucro líquido de R$ 154,1 milhões, com queda de 39,6% em relação ao mesmo período de 2021. A receita líquida consolidada do grupo teve um leve recuo de 0,7%, indo a R$ 2,2 bilhões.

Já o Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado e recorrente encolheu 31,2% na mesma base de comparação, para R$ 415,6 milhões. A margem Ebitda teve retração de 8,5 pontos porcentuais, para 19,2%.

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À época, a Dexco explicou que o impacto nos resultados teve origem no aumento dos custos em função da pressão de insumos, combinada com a menor diluição do custo fixo decorrente do menor volume vendido.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br