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As fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) no mercado brasileiro perderam fôlego em 2022 no comparativo com o ano passado, tanto em volume quanto no tamanho do cheque. No entanto, as negociações registradas de janeiro a outubro superam com folga 2019 e 2020, o que indica também um novo patamar de M&As no país, para algo acima de 2 mil transações por ano, segundo agentes ouvidos pelo InfoMoney.
Para o próximo ano, a tendência é de uma retomada a níveis próximos aos vistos em 2021 por dois motivos. O primeiro deles é que muitos negócios “escorregaram” para o próximo ano em função das eleições e das incertezas econômicas do período de transição de governo. O outro argumento vem da expectativa para a retomada das ofertas públicas iniciais (IPO, em inglês), que aumentam o caixa das estreantes na Bolsa para aquisições.
Neste ano, de janeiro a outubro, o Brasil registrou 1.860 M&As, segundo levantamento mais recente da Deloitte com base em dados da plataforma Transactional Track Record (TTR). Isso representa uma queda de 14% na comparação com igual período de 2021, quando 2.174 fusões e aquisições haviam sido feitos – naquele ano, foram 2.817 transações no total.
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Até o fim de 2022, as prévias mostram que o número de aquisições deverá ficar acima de 2.100, superando o observado em todo o ano de 2019 (1.777) e 2020 (1.829). Na parcial deste ano, o setor de tecnologia foi dominante no volume de negócios – o que não indica necessariamente que foi o que mais movimentou dinheiro.
“É importante lembrar que 2021 foi um ano com muito M&A represado pela pandemia, e isso ajuda a explicar um número tão esticado. Apesar da queda neste ano, vale destacar o novo patamar no número de negociações. Indica maturidade do mercado”, avalia Reinaldo Grasson, sócio de Financial Advisory da Deloitte.
No levantamento mais recente da KPMG, que considerou apenas o primeiro semestre de 2022, o número de transações foi 26% maior em relação a 2021, chegando a 1.014 negócios, com o setor de tecnologia, financeiro e educação entre os principais negociantes.
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Foco no core business
Uma característica apontada pelos especialistas foi que muitas transações realizadas neste ano tiveram como característica priorizar a atividade-chave da empresa em vez de se apostar em novos segmentos ou de avançar na cadeia de atuação.
“Houve uma mudança de perfil em 2022 e muitas empresas fizeram operações mais táticas, muitos negócios que saíram eram considerados altamente prioritários para a estratégia das companhias”, reforça Guilherme Stuart, sócio da RGS Partners, que atua na assessoria financeira de empresas do middle market.
Um exemplo deste ano que ilustra isso foi a negociação da Companhia Siderúrgica do Pecém, no Ceará, da Vale (VALE3) para a ArcelorMittal por US$ 2,2 bilhões em julho. A venda reforçou a estratégia da empresa brasileira de desinvestir de operações non-core.
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A compra da fabricante de biscoitos Mabel pela Camil (CAML3) junto à Pepsico, em um negócio de R$ 152,8 milhões anunciado em agosto, também reforçou o olhar das companhias para o negócio principal.
A CVC é uma das empresas que foi às compras neste ano e adquiriu o app WeTrek e a preferência para assumir a plataforma Ōner Travel. De acordo com Marcelo Kopel, CFO da companhia, a empresa não mudou sua estratégia de aquisições neste ano e continua priorizando negociações com empresas menores, que possam acelerar a entrega de alguma entrega da companhia.
Já o mercado para consolidadores viveu efeito misto, com o setor de saúde a todo vapor, a exemplo da compra da SulAmérica Seguros pela Rede D’or em fevereiro, em uma transação que envolveu troca de ações da rede de hospitais com os acionistas da seguradora. Por outro lado, no agronegócio, a consolidação no varejo de insumos agrícolas desacelerou em relação a 2021.
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“Os negócios de consolidação não ocorrem por euforia, como foram muitas transações do ano passado. É uma transação mais madura, tem uma visão de longo prazo e, muitas vezes, são negociações mais demoradas para encontrar um valuation justo”, lembra Denis Morante, sócio da Fortezza, consultoria que também faz a assessoria financeira de M&As.
Cheque mais magro
Além de transações mais estratégicas, os M&As em 2022 apresentaram uma queda considerável no valor dos negócios. Segundo dados da Deloitte com base no TTR, o cheque médio das aquisições até outubro foi de R$ 248,8 milhões, ante R$ 462,3 milhões – uma queda de 46%.
Outro dado que reforça o cenário vem da RGS Partners, que utilizou a plataforma IQ Capital para estimar todas as transações acima de R$ 50 milhões que ocorreram no país de janeiro a junho. Sob este filtro, o volume de aquisições caiu 7%, de 116 para 108, com ticket médio caindo de R$ 180 milhões para R$ 101 milhões (-44%).
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“As aquisições no país são muito pulverizadas. A compra de uma participação em uma startup por R$ 100 mil também é um negócio contabilizado, então filtrar pelo tamanho do cheque traz um indicativo importante”, lembra Stuart, da RGS, que atuou recentemente na aquisição da Fazenda da Toca Orgânicos, do empresário Pedro Paulo Diniz, pela Mantiqueira, maior produtora de ovos do Brasil.
Negociações demoradas
Uma das grandes diferenças apontadas pelos entrevistados foi o clima das negociações. Se em 2021, a euforia era a tônica diante de um cenário de dinheiro barato no mundo, o forte aperto monetário causado no aumento da taxa de juros em mais de 10 pontos percentuais no Brasil fez o dinheiro minguar neste ano.
“Se todo mundo estiver com boa vontade, em um cenário normal, uma aquisição sai em seis meses. No ano passado, se a gente demorasse este tempo todo, perdia o negócio”, relata um agente de mercado ouvido pelo InfoMoney.
O advogado Daniel Gunzburger, sócio da área de M&A da banca Tauil & Chequer Advogados associado a Mayer Brown, tem notado essa mudança de postura na mesa de negociação, o que ele considera normal diante do novo contexto.
“As negociações ficam mais demoradas, o comprador e o vendedor ajustam mais seus modelos de valuation durante o processo, há mais diligência. Acho isso positivo, inclusive, assim as partes têm certeza de que o negócio atende ao objetivo”, afirma Gunzburger, que atuou na assessoria jurídica da negociação entre Vale e ArcelorMittal.
Para Filipe Bodenmuller, diretor de estratégia e M&A da Sinqia, o descolamento da realidade que se viu em 2021 fez muitos empresários não aceitarem a queda no valor de mercado das empresas. Em 2022, a Sinqia, que tem sido ativa no mercado de aquisições na última década, fez apenas uma compra até o momento, do software de gestão de risco Lote 45, por R$ 79,5 milhões.
“Estamos em um mercado difícil. Em 2020 e 2021, observamos uma irracionalidade nos valuations e preferimos fechar deals que estavam em andamento antes da pandemia. Neste ano, começamos a ver a normalidade voltar ao mercado e reabrimos algumas conversas”, afirma o executivo.
Novo ano, novo fôlego
Para 2023, a expectativa é de que o número de transações, pelo menos, seja maior. Daniel Damiani, sócio da JK Capital, afirma que muitas negociações que estavam em andamento no segundo semestre deste ano “escorregaram” para o ano que vem em função da eleição e das incertezas até que o novo governo tome posse.
Como parâmetro, Damiani relata que o número de mandatos que a JK possui em 2022 é o maior da história da casa, nascida há 10 anos. São 60 mandatos de negociação neste ano, ante uma média de 45 por ano.
“As transações ficaram mais difíceis, mas não tirou o apetite dos compradores – até porque eles voltaram a ganhar força na mesa de negociação este ano. A questão é que, pelo que vemos na JK Capital, tanto o estrangeiro quanto o local seguraram as negociações para o ano que vem” diz Damiani.
Na avaliação desses agentes de mercados ouvidos pelo InfoMoney a tendência, hoje, é que o número de M&As em 2023 supere este ano e chegue aos níveis vistos em 2021. Quanto ao tamanho do cheque, ainda não é possível afirmar, tudo vai depender do cenário macroeconômico e da volta dos IPOs. Entre os setores que devem dominar a mesa de negociações, o mercado de saúde, tecnologia, agronegócio, alimentação e educação deverão manter as primeiras colocações.
Os 5 principais M&As até outubro de 2022, segundo o TTR:
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Fusão Rede D’Or e SulAmérica Seguros: troca de ações, com valuation estimado em US$ 3,08 bilhões
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PetroRio compra campo de Albacora Leste da Petrobras: US$ 2,2 bilhões
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ArcelorMittal compra Companhia Siderúrgica do Pecém (CE) da Vale: US$ 2,2 bilhões
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Fusão Aliansce Sonae e BRMalls: troca de ações e pagamento de R$ 1,35 bilhão em dinheiro, com transação total avaliada em US$ 1,68 bilhão
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3R Petroleum compra Polo Potiguar da Petrobras: US$ 1,38 bilhão
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