Apesar do macro, Tarpon reforça aposta no ‘Brasil competitivo’

Gestora centra foco em setores que sofrem menos com aperto monetário e noticiário político do país

Rikardy Tooge

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Na Bolsa ou no private equity, a Tarpon mantém suas fichas no que considera o “Brasil competitivo” – núcleo formado por empresas ligadas ao agronegócio, energia e infraestrutura. Com cerca de R$ 6,5 bilhões em suas carteiras, a gestora aposta que seu portfólio é resiliente ao cenário de juros altos que o país está vivendo.

“Nós trabalhamos em teses que não soem óbvias. O mercado está ‘amassado’, mas nossa busca é por teses menos relacionadas à macroeconomia e que ofereçam competitividade com boa estrutura de capital”, aponta Rafael Maisonnave, sócio e gestor do fundo de ações “GT” da Tarpon. “A despeito da economia, são negócios que têm força para andar”.

Entre as investidas na B3, a companhia mantém posições em Kepler Weber (KEPL3), Wilson Sons (PORT3), Frasle Mobility (FRAS3), Omega Energia (MEGA3), Sinqia ( SQIA3), Lavvi (LAVV3) e a mais recente Hidrovias do Brasil (HBSA3).

“O que elas têm em comum? São empresas competitivas que oferecem margem e que, em alguns casos, há uma barreira de entrada. São teses com menor risco de ruptura”, alega Maisonnave. Em 12 meses até 10 de abril, o fundo entregou retorno de 5,4% ao cotista em um momento em que o Ibovespa recuou 12,9%. Desde o início, em 2010, o fundo entregou 838,1% ante 61,8% do Ibovespa.

Rafael Maisonnave, gestor da Tarpon (Divulgação)
Rafael Maisonnave, sócio da Tarpon Capital: busca por negócios que ‘andem’ a despeito da macroeconomia (Divulgação)

Maisonnave lembra ainda que a Tarpon busca se aprofundar em setores que trabalhem com o vento a favor. “Não faz sentido para nós uma história de turnaround, por exemplo, embora outros agentes possam enxergar valor nesta frente”.

A aposta em teses profundas não chega a ser uma novidade para a Tarpon, que esteve listada na Bolsa entre 2007 e 2019. Fundada em 2002, a gestora sempre foi conhecida por concentrar seu portfólio em investimentos de longo prazo e viveu uma passagem conturbada pela BRF (BRFS3) entre 2013 e 2018.

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Apesar dos pesares, a empresa mantém seu DNA de encontrar oportunidades também fora da Bolsa com uma cartilha similar às estratégias vistas na B3.

Private equity

Na ponta do private equity, André de Escobar, sócio da Tarpon no segmento, afirma que acompanhar o momento da Bolsa é fundamental para “modelar” os cenários para os investimentos em empresas não-listadas. Cerca de R$ 4 bilhões dos ativos da Tarpon estão centrados na estratégia de private equity.

A gestora fez parte das ofertas públicas iniciais de ações (IPO, em inglês) de empresas conhecidas, como Arezzo (ARZZ3), BrasilAgro (AGRO3), Vittia (VITT3) e Direcional (DIRR3). Nesses casos, os desinvestimentos já foram feitos com lucro para a casa.

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Escobar lembra, no entanto, que nem sempre o IPO é o determinante para encerrar o ciclo de uma tese. “No nosso modelo, a empresa faz sentido enquanto vemos potencial de retorno nela. O exemplo recente é a Omega Energia, em que investimos, fizemos a oferta e ainda continuamos nela [com 31% do capital]”, afirma.

A frase “depende do caso”, inclusive, é das mais citadas pelos dois gestores Tarpon quando a questão envolve a seleção de investimentos. No caso do private equity, se o modelo de negócios fizer sentido dentro dos modelos de risco e retorno da casa, o tamanho do cheque pode variar.

“Existem empresas em que investimos R$ 30 milhões, mas também houve o caso da Somos Educação, em que assinamos um cheque de quase R$ 2 bilhões – isso mostra um pouco de até onde podemos chegar”, diz André de Escobar, citando o investimento de R$ 1,78 bilhão na Somos, que já era listada na época da transação.

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“A Somos, por exemplo, era uma empresa que nos víamos por anos nela, mas, por uma dinâmica de mercado, fez sentido para nós vendermos”, lembra Escobar do deal com Kroton (hoje Cogna) em 2018 para a venda da Somos Educação por R$ 4,6 bilhões.

André de Escobar, sócio da 10b da SK Tarpon (Divulgação)
André de Escobar, sócio da Tarpon: fundo de private equity não se limita por tamanho do cheque (Divulgação)

Atualmente, duas empresas estão amadurecendo além do esperado na carteira de private equity da Tarpon: a NSTech, empresa de software de logística, e a Agrivalle, uma empresa de bioinsumos.

Somando as duas teses, a Tarpon desembolsou mais de R$ 500 milhões para avançar em segmentos vistos como resilientes e competitivos.

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“O mercado de SaaS [software as a service], como no caso da NSTech, está em consolidação e ela lidera esse segmento. No agronegócio, o uso de inseticidas biológicos faz todo o sentido na pauta de sustentabilidade”, afirma Escobar.

Para novas aquisições, a despeito de um provável poder de barganha para o comprador, Escobar lembra que, no atual contexto econômico, não é trivial convencer o empresário a vender seu negócio.

“O momento é, sim, favorável para investir, mas as ‘melhores histórias’ dificilmente vão querer vender agora. Se elas têm caixa, não veem sentido para vender com um valuation depreciado. Podem existir algumas oportunidades, mas é necessário avaliar muito bem o retorno”, completa.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br