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SÃO PAULO – A queda de 55,9% no lucro líquido da Ambev (ABEV3), maior fabricante de cerveja e refrigerantes da América Latina, no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2019, é apenas uma prévia dos efeitos da Covid-19 que a empresa deve sentir daqui para frente, apostou o analista André Hachem, do Itaú BBA em relatório publicado na manhã desta quinta-feira (7), logo após a publicação do balanço.
Betina Roxo, da XP, afirma que a ação da companhia deve permanecer pressionada no curto prazo. Na visão de Pinar Ergun, do Morgan Stanley, o segundo trimestre irá “deteriorar” e, para Leandro Fontanesi, do Bradesco BBI, a recuperação da empresa parece ainda mais difícil após os números apresentados.
O lucro líquido da companhia R$ 1,211 bilhão no primeiro trimestre deste ano. O lucro líquido ajustado, que exclui itens extraordinários, totalizou R$ 1,227 bilhão, 55,6% menor na comparação anual.
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“Num contexto global de diminuição do consumo de bebidas alcoólicas por conta do COVID-19, a Ambev teve leve redução de 1,6% em sua receita líquida consolidada em comparação ao primeiro trimestre do ano anterior, totalizando R$ 12,6 bilhões. O volume consolidado da companhia, em comparação ao mesmo período de 2019, teve queda de 5,6%”, destacou a empresa no release de resultados, informando que os números antes da pandemia vieram em linha com o esperado.
Se os problemas advêm do contexto de pandemia, natural que estejam apenas no começo, já que os efeitos da Covid-19 nas principais regiões de de atuação não começaram antes da segunda quinzena de março e, portanto, afetarão com força consideravelmente mais significativa os números a partir de abril. A própria Ambev antecipou na divulgação do balanço que apresentou queda de 27% no volume de cervejas vendidas no mês passado.
“O impacto total da pandemia da covid-19 em nossos resultados futuros permanece bastante incerto, mas esperamos que o impacto nos nossos resultados do segundo trimestre de 2020 seja materialmente pior do que no primeiro trimestre de 2020”, diz a companhia. Além disso, com a queda do volume e a mudança em direção ao canal off-trade (vendas fora de bares e restaurantes), a empresa espera um grande impacto na rentabilidade em razão da baixa alavancagem deste movimento.
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Brasil mais pressionado
O faturamento no Brasil teve queda de 9,6% no 1º trimestre, a R$ 6,5 bilhões, enquanto o volume total de vendas (cerveja + não alcoólicos) foi 9,1% menor. No segmento Cerveja Brasil, os volumes caíram 11,5% na base anual, acima da estimativa do consenso de 10%.
E a pandemia não é o único problema da companhia no âmbito nacional. Betina Roxo, da XP Research, mantém o ambiente competitivo como uma das maiores preocupações para uma empresa pressionada por novos players, crescimento de nomes como a Heineken no país e mudanças nos hábitos de consumo da população.
“Os volumes foram impactados por uma indústria fraca e por um mix desfavorável, uma vez que o segmento premium, no qual a empresa tem menor participação de mercado, teve um desempenho consideravelmente melhor que a indústria total”, avalia Betina. O surto de Covid-19 resultou no fechamento da maior parte do canal on-trade (bares e restaurantes) a partir de meados de março, levando a uma redução no volume de 29,1% naquele mês. De acordo com a Nielsen, a indústria cervejeira caiu um dígito médio no trimestre.
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Para Fontanesi, do BBI, o tamanho da queda no Brasil é o dado “mais preocupante” do balanço, dado que a queda nas vendas de bares e restaurantes, que em março foi de 35%, dobrou para 70% no início do segundo trimestre, conforme dados da Elo. “Como resultado, nossa estimativa [anterior] de declínio de 38% em volume de vendas de cervejas no Brasil no segundo trimestre parece muito otimista”, opinou.
O analista lembra que a companhia tem presença muito mais forte que seus competidores neste segmento, estimando um alcance de 1 milhão de pontos de venda, contra algo entre 600 e 700 mil para Heineken e Brasil Kirin. Também aposta na possibilidade de uma mudança mais profunda no consumo, caso o hábito de ficar em casa cresça após a pandemia.
Na tentativa de driblar o problema, a companhia vem apostando em online com o site Cerveja.com.vc, um novo ecommerce de bebidas, além de fortalecer os canais Zé Delivery, Empório da Cerveja e Sempre Em Casa. “Mesmo que, em volume, ainda estejam muito distantes do equivalente aos canais tradicionais, foram fundamentais para que as marcas da companhia se mantivessem próximas aos consumidores. Em março, foram mais de 600 mil entregas realizadas pelo Zé Delivery, número que aumentou para 1 milhão em abril”, disse a companhia.
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Outros mercados
Já nos mercados internacionais, a Ambev apresentou aumento no volume de vendas na região LAS (Latin America South) e no Canadá, de 6,4% e 3,1%, respectivamente. Na zona CAC (Central America and the Caribbean), o volume atingiu 2,7 milhões de hectolitros, uma queda em comparação aos 3,1 registrados no primeiro trimestre de 2019.
Há alguns motivos para esse resultado. Na região da América Latina, houve aumento de preços e a base de comparação mais fraca no ano anterior ajudou a impulsionar o crescimento. Na região do Canadá, além de uma mudança para marcas premium recente, há uma preferência pelo consumo dos produtos Ambev diretamente em supermercados, e a corrida por compras no início da pandemia veio a calhar neste sentido.
Na América Central e Caribe, a quarentena foi mais severa desde o início, e outras pressões de custos foram sentidas devido à maior participação de produtos importados no portfólio da região.
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Lado bom
Os números da companhia não foram de todo negativo, lembram analistas do Morgan Stanley. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), foi de R$ 4,23 bilhões no 1º trimestre deste ano, um recuo de 18% em comparação ao ano passado, mas o Ebitda Normalizado caiu 13,7%, superando a expectativa média do mercado (queda de 14,7%).
A margem Ebitda recuou de 40,5% para 33,6% no trimestre. Segundo a empresa, isso ocorreu por fatores cambiais (depreciação do real) e à “desalavancagem operacional devido a menores volumes de vendas”. O fluxo de caixa operacional foi de R$ 1,54 bilhão, queda de 25,8%, enquanto os investimentos cresceram 146,6% para R$ 1,34 bilhão. A receita líquida da Ambev no 1º trimestre foi de R$ 12,60 bilhões, queda de -0,3% em comparação ao 1º trimestre de 2019.
Por isso, os resultados dos primeiros três meses do ano foram classificados como “mistos” pelo analista Pinar Ergun, do Morgan. Para os analistas do BBA, liderados por André Hachem, “os resultados futuros devem ser impactados de forma mais severa e há pouca visibilidade atualmente”.
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