Ambev deve apresentar resultados pressionados no trimestre. E o pior está por vir

Com concorrência acirrada no Brasil, melhores resultados devem vir de países vizinhos

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Entre analistas, é quase unânime: Ambev (ABEV3) deve ser uma das empresas a apresentar resultados mais deteriorados nesta temporada de balanços financeiros. Os números do primeiro trimestre, já com efeitos preliminares da pandemia de coronavírus, serão apresentados pela empresa no dia 7 de maio.

O Credit Suisse espera queda de volume consolidado de 6,2% na base anual, baixa na receita de 4,8% e um Ebitda 18,2% menor, além de lucro por ação 22,3% abaixo. Para a XP Investimentos, a queda esperada no Ebitda é similar: 22% na comparação anual (leia o relatório completo aqui). Tudo isso é apenas um ensaio do que está por vir neste ano, já que a Covid-19 só começou a impactar a empresa na última quinzena do trimestre em questão.

Para a analista Betina Roxo, da XP, a expectativa é de resultados fracos não apenas devido aos impactos da pandemia, mas também “à pressão de custos, já antecipada pela empresa no final de 2019 e ao ambiente de competição acirrada, principalmente por parte da Heineken.” Segundo ela, o Brasil tem o pior cenário, e mercados como Canadá, Argentina e Paraguai podem trazer certo alívio.

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Nacionalmente, a expectativa da XP é de queda de volume de 8,5% para cervejas na comparação anual com Ebitda de R$ 1,8 bilhão, 28% inferior ao mesmo período de 2019. A analista lembra de 55% das vendas do segmento vêm de bares e restaurantes, fechados devido à quarentena.

Não alcoólicos, por sua vez, perdem menos, mas devem, segundo a XP, cair 2% em volume e 4% em Ebitda, para R$ 348 milhões. “As quedas são menores do que as do segmento de Cerveja Brasil por dois motivos: a demanda por bebidas não alcóolicas é historicamente mais resiliente em momentos de crise; o canal de bares e restaurantes é menos relevante para o segmento, representando cerca de 35% das vendas”, diz o relatório.

Mercados que dependem menos de bares e restaurantes podem trazer algum alívio.

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“No primeiro trimestre, para América Latina, estimamos aumento de 3% em volume na comparação anual, uma vez que o mesmo período de 2019 foi bastante desafiador para o segmento”, explica a analista. Mais da metade do volume na AL fora Brasil vem da Argentina e do Paraguai, onde predominam os canais de supermercados e pequenas mercearias, que seguem abertos.

Outro mercado resiliente é o canadense, onde a estimativa é de aumento de 2% em volume na base anual. “O consumidor canadense tem poder de compra elevado e, culturalmente, já tinha o hábito de estocar alimentos e bebidas, então com o início da quarentena houve um primeiro momento de aumento da demanda, inclusive”, escreve Betina. O aumento para o Ebitda é estimado em 11%.

A notícia não é tão animadora, contudo, dado que, de acordo com estimativas do UBS, a exposição da Ambev à América do Norte é de 13% apenas, contra 74% na América do Sul.

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Enquanto isso, quarentenas severas na República Dominicana e do Panamá (onde foi aplicada uma lei seca) impactam os resultados na América Central. A queda no volume deve ser de 8,5% na base anual, de acordo com a estimativa da XP. O UBS também estima 13% de exposição à América Central.

Marketing: vacina contra mais efeitos da Covid-19?

A XP também avaliou os efeitos da estratégia de marketing da companhia durante a quarentena, que contou com patrocínios a algumas das transmissões online mais comentadas do país, incluindo a de Jorge e Mateus, com recorde de live musical mais vista do YouTube com 2,7 milhões de pessoas.

“Desde o início da quarentena oficial em São Paulo, em 24 de Março, até a primeira semana de Abril, o número de buscas pelas marcas Brahma, Skol e Bohemia estava abaixo do número do mesmo período no ano anterior”, lembra a analista da XP. “A partir de 4 de Abril, dia da live da dupla sertaneja Jorge e Mateus, o número de buscas atingiu um novo pico para o mês.”

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Fonte: XP

Outras frentes de marketing são a campanha da marca Stella Artois para apoiar restaurantes, a produção de álcool gel e máscaras e ampliação de leitos do hospital do M’boi Mirim.

Novo normal?

Analistas do Bradesco BBI também fizeram uma avaliação do potencial de longo prazo para a empresa caso o hábito de ficar em casa se alastre para além do período de quarentena.

O estudo (leia mais aqui) estima uma queda de até 21% no consumo de cerveja no país caso a população fique 50% mais de tempo em casa, com consequente perda de até 14% no Ebitda.

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney