Aegea demonstra confiança na conclusão da compra da Corsan 

Aquisição da estatal gaúcha demandará R$ 16 bilhões em investimentos e foi alvo de contestações na Justiça nos últimos dias 

Rikardy Tooge

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Após confirmar a compra da gaúcha Corsan, em um leilão nesta terça-feira (20) que marcou a primeira privatização de uma empresa estadual de saneamento no país, a Aegea já trabalha os próximos passos para consolidar a nova aquisição, que exigiu uma oferta R$ 4,15 bilhões, além da obrigação de investir R$ 12 bilhões nos próximos dez ano.

André Pires, CFO da Aegea, diz que, a despeito das contestações judiciais que ocorreram durante o processo de desestatização da Corsan, a avaliação é de que não haverá problemas para o fechamento do negócio, previsto para o dia 20 de março do ano que vem.

“Nós acompanhamos todo o processo [de privatização] e entendemos que os últimos pedidos de esclarecimento foram razoáveis – e estamos à disposição para ajudar [daqui para frente]. Nosso pensamento segue o mesmo, de que faremos a assinatura do contrato conforme o edital”, afirma Pires, em entrevista ao InfoMoney.

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Para além da disputa judicial, o executivo destaca que o ativo já era um antigo interesse da Aegea, uma vez que possui sinergia com uma Parceria Público Privada (PPP) que a companhia tem na região metropolitana de Porto Alegre.

Aliás, a concessão dos serviços de saneamento da capital do Rio Grande do Sul, apontada por agentes de mercado como uma das principais licitações que poderão ocorrer em 2023, ganha ainda mais foco no radar da empresa.

“Nós estudamos a Corsan tem bastante tempo, é um ativo que fazia sentido para a gente, assim como a concessão de Porto Alegre [que está em consulta pública]. Obviamente é um ativo que passa a ser ainda mais interessante para nós”, prossegue André Pires.

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Criada em 1966, a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) opera o tratamento de água e esgoto em 317 municípios gaúchos, com 97% da população atendida com acesso à água potável e apenas 20% com tratamento de esgoto disponível.

Entenda o caso

Na noite de segunda-feira (19), o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Lelio Bentes Corrêa, autorizou a continuidade do processo de desestatização da Corsan, em uma pendenga jurídica entre o sindicato que representa funcionários da empresa e governo do estado que vinha se arrastando nos últimos dias, com idas e vindas de decisões liminares.

Nesta última decisão, Corrêa atendeu um pedido da Procuradoria-Geral do Rio Grande do (PGE-RS), que argumento que havia risco de dano irreparável à economia e à ordem administrativa do estado caso o leilão não fosse autorizado.

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A PGE apontou que a desestatização “não gera qualquer risco” em relação às obrigações patronais. Por fim, reiterou que a paralisação do processo licitatório às vésperas da sessão pública de leilão acarretaria danos graves ao processo de desestatização, que foi estruturado com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desde 2021 e “contou com análise integral e aprofundada de diversos órgãos de controle”.

Estrutura de capital

Após o TST destravar o certame, o consórcio composto por Aegea, Perfin e Kinea arrematou a Corsan por R$ 4,15 bilhões, com ágio de 1,15% em relação ao valor do edital. Para financiar a compra, a Aegea utilizará uma parte com a emissão de dívidas e outra do próprio caixa da companhia.

A empresa também estuda operação parecida para garantir os R$ 12 bilhões restantes exigidos para o cumprimento das metas do marco legal do saneamento, que preconiza que, até 2033, 99% da população deva ter acesso à água potável e 90% à coleta e tratamento de esgoto.

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“O mercado de capitais é um parceiro nosso em todos os projetos, mas nossos acionistas estão dispostos a injetar dinheiro em capex, se for necessário”, diz o CFO da Aegea, empresa de capital fechado que pertence ao grupo Equipav, ao investidor estatal de Cingapura GIC e à Itaúsa (ITSA4).

Apesar de a Corsan afirmar não ter caixa para aplicar os R$ 12 bilhões necessários, ainda é uma empresa que apresentou bom desempenho financeiro no último trimestre. Segundo o edital de privatização, a companhia registrou receita operacional líquida de R$ 952,3 milhões no primeiro trimestre do ano, com margem de 39,5% e lucro líquido de R$ 186 milhões.

Investimentos nos últimos anos

Ao contrário da estatal gaúcha, a Aegea não prevê dificuldades na captação de recursos no mercado privado e utiliza como exemplo os resultados do primeiro ano da operação Águas do Rio, em que a Aegea assumiu a operação de água e saneamento da Cedae em 26 municípios do Rio de Janeiro, além da maior parte da capital do estado.

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Segundo o último balanço da empresa, de janeiro a setembro, a operação carioca – que está em seu primeiro ano de atividade – registrou receita líquida de R$ 3,8 bilhões, com lucro líquido de R$ 392,4 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, em inglês) foi de R$ 1,1 bilhão. Os números vieram acima da expectativa da empresa.

“É um negócio com estabilidade de receita e que gera retorno”, reforça André Pires, que lembrou ainda que a companhia obteve na semana passada um financiamento de R$ 19,3 bilhões junto ao BNDES para investir nas obras necessária para a operação do Rio de Janeiro.

André Pires, CFO da Aegea (Divulgação)
André Pires, CFO da Aegea: mercado de capitais será importante para financiar compra da Corsan (Divulgação)

Além disso, em setembro, a Aegea assumiu dois blocos que antes eram operados pela empresa de saneamento do Ceará (Cagece) por R$ 19 bilhões e a necessidade de R$ 6,2 bilhões em investimentos nos próximos anos.

No primeiro bloco, na região de Juazeiro do Norte, a companhia desembolsou R$ 7,6 bilhões, com deságio de 27,9%. O segundo lote, que envolve a capital Fortaleza e sua região metropolitana, custou R$ 11,4 bilhões, com desconto de 37,9% frente ao edital.

A Aegea registrou receita operacional líquida de R$ 948,7 milhões no terceiro trimestre deste ano, com crescimento de 21,6% sobre igual período de 2021. O lucro líquido, no entanto, recuou 29,5%, para R$ 98,6 milhões, com Ebitda de R$ 644,3 milhões (alta de 35,6%).

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br