A quase centenária marca Modess é relançada pela Ever Green depois de 15 anos longe das prateleiras

A brasileira Ever Green relança a marca de 1930, que foi da J&J e é sinônimo de absorvente; intenção é ter 10% do mercado até 2025

Estadão Conteúdo

Embalagem antiga do Modess, quando o produto era produzido pela J&J (Foto: Divulgação/J&J)
Embalagem antiga do Modess, quando o produto era produzido pela J&J (Foto: Divulgação/J&J)

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A quase centenária marca Modess, sinônimo de absorvente higiênico e primeiro descartável do item produzido no País, está de volta. A Ever Green, fabricante nacional de produtos descartáveis de cuidados pessoais, relançou a marca em todo o território nacional. Modess vai batizar a linha de absorventes premium da companhia, que já tem produtos de linha econômica e preço intermediário, com as marcas Definity e Naturalmente, respectivamente.

A marca Modess volta depois de 15 anos fora do mercado. Originalmente, o nome era da multinacional Johnson & Johnson. A Ever Green não detalha como passou a ter domínio da marca. A área jurídica da companhia limita-se a informar que, em 2019, solicitou o registro ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). No ano passado, Modess foi concedida à empresa, que passou a ter o direito de uso exclusivo no País.

Na prática, o retorno de Modess ocorre pela via jurídica da caducidade, usada também por outras empresas para obter o domínio de marcas icônicas. No ano passado, esse movimento aconteceu, por exemplo, com o sabonete Gessy. A marca era da multinacional Unilever e voltou ao mercado, após um período inativa, pelas mãos da brasileira Clariq.

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De acordo com a Lei de Propriedade Industrial (9279/1996), depois de registrada, a marca tem até cinco anos para ser colocada em uso. Passado esse período, precisa ser usada ininterruptamente. Se a marca não for usada por cinco anos, poderá ser alvo de processo de caducidade.

Segundo advogados especializados em propriedade intelectual e patentes, qualquer pessoa pode requisitar a caducidade de uma marca ao INPI, mediante processo, desde que comprove que ela não está ativa. E, com isso, obter o registro de domínio da marca.

Procurada, a Johnson & Johnson informa, por meio de nota que “não possui a marca Modess em seu portfólio e, atualmente, atua no mercado com a marca Sempre Livre”. Segundo a empresa, desde a chegada de Sempre Livre no Brasil, em setembro de 1974, a marca é pioneira em diversos lançamentos que consolidaram a sua importância e tradição no País, como na introdução dos absorventes com abas, absorventes noturnos, na tecnologia neutralizadora de odores e no formato anatômico. A companhia diz que a marca trouxe para a sociedade discussões relevantes, como a importância da dignidade menstrual.

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Venda de Modess, produto lançado em 1927
Venda de Modess, produto lançado em 1927. O produto enfrentou dificuldades até de publicidade e a Johnson & Johnson chegou a desenvolver estratégias como a da ‘compra silenciosa’: as mulheres compravam cupons e podiam trocá-los pelo produto nas lojas sem precisar dizer uma única palavra (Foto: Divulgação / Johnson & Johnson)

Modess tem forte lembrança

Apesar de estar desde 2008 fora do mercado, Modess resiste na memória das brasileiras. Pesquisa feita pela Ever Green mostrou que Modess ocupa a quarta posição na lembrança das consumidoras, atrás de marcas de multinacionais Sempre Livre, da Johnson & Johnson; Always, da Procter & Gamble, e Intimus, da Kimberly-Clark.

“O recall de Modess é impressionante, existe uma lembrança afetiva muito forte entre as mulheres com mais de 30 anos”, diz o CEO da Ever Green, Amauri Hong. Ele conta que a meta da companhia é, em dois anos, ter 10% do mercado de absorventes higiênicos com Modess e as duas marcas da empresa que estão no mercado, e que a Modess seja a número um entre as marcas de fabricantes nacionais. A venda de absorventes gira R$ 4 bilhões por ano.

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Para concretizar o plano, a empresa, que também fabrica fralda infantil e geriátrica e lenço umedecido, vai investir, até 2025, R$ 35 milhões na ampliação da capacidade de produção e capacitação. A marca Modess vai absorver um terço dos recursos.

Hong não revela o faturamento atual da empresa familiar, que está há 36 anos no mercado. As três fábricas da companhia – duas instaladas em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e uma em Maracanaú (CE) – têm capacidade total de produção de 200 milhões de tiras por mês, de todos os itens que a empresa produz. Segundo o executivo, a meta é que a receita da companhia atinja R$ 500 milhões até 2025 e que a marca Modess responda por 20% dessa cifra. “Nosso plano é ambicioso.”

A médio prazo, a companhia também pretende expandir a marca Modess para outras categorias de descartáveis, como fraldas para incontinência urinária, protetores de seios, sabonete íntimo, por exemplo. “Mas, neste ano, vamos fincar bandeira em menstruação”, diz Hong.

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Ele destaca a preocupação da marca Modess com a sustentabilidade e o meio ambiente. Por isso, criou uma calcinha absorvente reutilizável, mais barata e sem uso de plástico. “As pessoas não querem usar um produto descartável.” Além disso, todo o time que trabalha na reconstrução da marca é formado por mulheres, para estar mais próximo das suas demandas.

Recall da marca não é tudo

Cecília Russo Troiano, sócia da consultoria especializada em marcas TroianoBranding, diz que a empresa terá grandes desafios para recolocar a marca no mercado e ser bem-sucedida. “Pelas iniciativas tomadas pela outras marcas – Intimus, Sempre Livre e Always -, hoje o mercado de absorventes é bem diferente da época em que a marca Modess existia, porque as mulheres são diferentes”, observa.

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Segundo a especialista, as marcas hoje falam de pobreza menstrual e da questão do empoderamento feminino, além das evoluções tecnológicas do próprio produto. “Tenho uma visão que recall não é tudo”, diz Cecília.

Na sua avaliação, a memória da marca é apenas uma das dimensões. Ela pondera que, embora não tenha uma pesquisa, acredita que a empresa terá de reverter a imagem de uma marca mais antiga, apesar de ser também uma marca de confiança. E o investimento nesse sentido deverá ser grande, porque os concorrentes são multinacionais de peso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.