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SÃO PAULO – Meses após o início da pandemia do novo coronavírus, as mudanças sociais e econômicas que aconteceram para que o mundo se adaptasse à nova realidade são perceptíveis. Mas o que será da humanidade nos próximo anos ou décadas?
Para entender como a sociedade deve se comportar no futuro próximo, o UBS, um dos maiores bancos de investimentos do mundo, realizou uma pesquisa que aponta os principais pilares que devem impactar o desenvolvimento humano nos próximos anos.
Batizada de “Future Humans – Changing lifestyles, rising opportunities”, a pesquisa elenca as três principais áreas que devem sofrer significativas mudanças no futuro: educação, saúde e o bem-estar das pessoas.
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“A humanidade está enfrentando duas tendências importantes. Nos próximos 30 anos, a população crescerá e a idade média também aumentará. Essas tendências demográficas estão acontecendo em meio a enormes mudanças estruturais. A quarta revolução industrial – impulsionada pela automação e conectividade – e as novas dinâmicas entre pessoas vão alterar dramaticamente a forma como a economia global funciona. E todas essas questões estão interligadas”, diz a pesquisa.
Educação: o que, quando e como aprendemos
Segundo o UBS, a tecnologia pode tornar as pessoas mais produtivas por mais tempo, mas isso exigirá novas habilidade e o tipo certo de educação.
Por isso, a pesquisa diz que a educação, como atividade de aprimoramento de habilidades técnicas e sociais, não poderá mais simplesmente ser uma jornada com começo, meio e fim, deve ser um processo contínuo. Isso significa que o aprendizado não se encerra na escola, continua também com os treinamentos no trabalho.
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“A aprendizagem mecânica produz trabalhadores cujas habilidades se tornam redundantes assim que o livro que eles memorizaram fica desatualizado. A educação não terminará mais com a obtenção de um diploma ou certificado, as pessoas precisam aprender mais sobre ser flexível e desafiar o status quo“, diz um trecho do estudo.
A quarta revolução industrial, impulsionada pela automação e a conectividade entre os objetos, já transformou diversas indústrias e setores da economia – e com a educação não seria diferente.
Para o UBS, na era digital, a educação precisa dar mais ênfase ao desenvolvimento de habilidades que não podem ser facilmente automatizadas. São elas: flexibilidade, criatividade e inovação, habilidades de desenvolvimento tecnológico e habilidades intrapessoais.
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“A educação será a chave para um futuro melhor. Os programas de treinamento administrados pelo governo têm sido historicamente malsucedidos. Então, precisamos da experiência e da iniciativa do setor empresarial para fornecer as habilidades relevantes para os funcionários do futuro”, disse o professor Christopher Pissarides, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 2010, em entrevista aos pesquisadores.
No entanto, o professor não vê a tecnologia revolucionando todos os aspectos da vida educacional, salas de aula não devem deixar de existir, mesmo com a expansão do ensino à distancia, por exemplo.
Para ele, é preciso ter em mente o impacto da educação presencial no desenvolvimento pessoal dos alunos, especialmente no caso das crianças mais novas. Segundo o especialista, a tecnologia aplicada à educação deverá ser um complemento para o trabalho do professor, e não um substituto.
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“Novas tecnologias capacitadoras ampliarão o acesso à aprendizagem e melhorarão sua qualidade em escala. Serão mudanças na forma como aprendemos, e isso abre inúmeras oportunidades de investimento em empresas de edtech, por exemplo“, diz.
Com o fechamento de escolas em todo mundo, as instituições de ensino tiveram que ir para o online de maneira forçada, surgindo uma necessidade de soluções rápidas, treinamento e capacitação de profissionais, além do investimento em recursos digitais.
Saúde: remodelando nossa saúde para a era digital
Segundo o estudo, os pacientes do futuro assumirão uma responsabilidade maior, em termos financeiros, por sua saúde e sentirão cada vez mais os avanços da tecnologia, com o aprimoramento das experiências com médicos, hospitais e tratamentos.
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Os consumidores devem passar a priorizar ações que os mantenham saudáveis de forma permanente e mudar o entendimento sobre a saúde como um serviço episódico para um processo vitalício, de gerenciamento e manutenção de uma boa qualidade de vida.
“Um ecossistema de saúde mais voltado para a tecnologia permitirá essa mudança, abrindo novas maneiras de gerenciar a saúde. O gerenciamento digital do caso clínico de um paciente oferece um vislumbre da abordagem personalizada do amanhã para as doenças crônicas, por exemplo”, diz um trecho da pesquisa.
Outro fator que pode mudar para sempre nossa relação com a saúde como serviço é o recente boom da telemedicina.
“A telemedicina aponta para uma mudança permanente do atendimento, pois a tecnologia remota facilita tratamentos mais eficientes e personalizados, além de permitir menos visitas ao hospital”, diz a pesquisa.
Segundo o UBS, a Covid-19 ilustrou o valor e a importância da telemedicina e da tecnologia para a saúde de forma mais geral, com pacientes e médicos aderindo às mudanças no setor e elogiando muitas delas, diante da necessidade atual, com médicos sobrecarregados e pacientes com medo de irem a hospitais.
“Os millennials [geração nascida entre os anos 1980 e 2000] estão mais dispostos a usar soluções digitais de saúde e compartilhar dados de saúde com empresas de tecnologia, sugerindo uma tendência de maior adoção dessas práticas à medida que essa geração envelhece”, diz outro trecho da pesquisa.
Outro ponto levantado pelo estudo é sobre como a tecnologia oferece melhorias significativas no acesso à saúde por parte de comunidades em situações mais vulneráveis.
“As tecnologias de drones são usadas para fornecer bancos de sangue e medicamentos essenciais para regiões com difícil acesso, enquanto os aplicativos móveis permitem que médicos experientes orientem cirurgiões durante procedimentos em áreas remotas”, diz a pesquisa.
Além disso, o banco elenca as dez principais tecnologias que podem revolucionar para sempre o setor da saúde: realidade virtual e realidade aumentada para tratamentos; desenvolvimento de tecnologias de diagnostico por smartphones; biópsias líquidas para detecção precoce do câncer; modificações genéticas; terapias genéticas para doenças comuns; medicina regenerativa; impressão 3D de células; uso de inteligência artificial para diagnósticos; genômica espacial e o uso de robôs cuidadores.
Felicidade e bem-estar: mudanças cada vez mais rápidas
Segundo o UBS, durante as últimas décadas, a humanidade viu muitos fatores relacionados ao bem-estar e à felicidade caminharem na direção certa. A prosperidade econômica está crescendo, o acesso a recursos e serviços críticos foi ampliado e as pessoas estão mais conectadas do que nunca com o avanço da digitalização.
Apesar dessas tendências, as preocupações com a saúde mental estão aumentando, já que as pessoas estão ficando cada vez mais preocupadas e ansiosas com o futuro, especialmente os mais jovens.
Nos Estados Unidos, a depressão entre adolescente aumentou 63% de 2007 a 2017 e, segundo um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre saúde mental e os efeitos da Covid-19, a economia global perde US$ 1 trilhão a cada ano por causa da depressão e da ansiedade. Segundo o UBS, a tecnologia pode contribuir para esses distúrbios.
“Na próxima década, a geração dos millennials começará a atingir a meia-idade, e um número maior de pessoas da geração Z [nascidos após os anos 2000 e 2010] chegará à idade adulta. Ambos os grupos são ‘nativos digitais’ e, à medida que esse grupo demográfico obcecado por tecnologia passa a representar uma parcela maior da população, podemos esperar que as horas gastas em dispositivos digitais aumentem ainda mais”, diz um trecho da pesquisa.
Mas, o estudo pondera que a relação entre tecnologia e piora da saúde mental não é tão direta assim. Para o UBS, o tempo gasto aprendendo algo novo no ambiente virtual provavelmente tem um impacto mental diferente do tempo gasto nas redes sociais.
Um estudo da Universidade da Pensilvânia descobriu que gastar menos tempo nas redes sociais pode diminuir drasticamente os sentimentos de solidão e depressão. Ou seja, isso não quer dizer que a pessoa deve se desconectar da tecnologia, mas sim achar outro propósito para seu uso.
“Os efeitos do isolamento causado pela Covid-19 fizeram as pessoas questionarem o que significa estar por conta própria, sozinho. E também forçou muitos de nós a não procurar os outros para nos fazer felizes, mas sim o que podemos fazer para cultivar nossa própria felicidade, nossa própria saúde mental e bem-estar”, explica no estudo Daniel Cordaro, especialista em psicologia da emoção e ex-professor da Universidade de Yale.
Cordaro espera que, no futuro, possamos desenvolver relacionamentos completamente novos com a tecnologia – longe da gratificação instantânea e da dependência causada pelas mídias sociais.
“Precisamos da tecnologia, mas devemos usá-la como uma ferramenta para o desenvolvimento e crescimento pessoal”, acredita.