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Surpresos e felizes, prisioneiros escapavam das prisões sírias neste domingo, gritando de alegria enquanto deixavam um dos sistemas carcerários mais duros do mundo e caminhavam para a liberdade após o colapso do governo de Bashar al-Assad.
A queda de Bashar al-Assad: o fim da dinastia que governou a Síria por 50 anos
Por toda a Síria, famílias choravam ao se reunirem com filhos, irmãos, cônjuges e pais que haviam desaparecido há anos no implacável sistema prisional da dinastia de Assad, que governou por cinco décadas.
Um vídeo verificado pela Reuters mostrou prisioneiros recém-libertados correndo pelas ruas de Damasco, levantando os dedos de ambas as mãos para mostrar quantos anos haviam passado na prisão, perguntando aos transeuntes o que havia acontecido, sem entender que Assad havia caído.
“Derrubamos o regime!”, gritou uma voz, e o prisioneiro gritou e pulou de alegria.
Veja em vídeo como está a Síria após a queda de Bashar al-Assad
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Um homem assistindo aos prisioneiros correrem pelas ruas ao amanhecer levou as mãos à cabeça, exclamando com espanto: “Meu Deus, os prisioneiros!”
Durante a guerra civil que começou em 2011, as forças de segurança mantiveram centenas de milhares de pessoas presas em campos de detenção onde organizações internacionais de direitos humanos dizem que a tortura era uma prática universal. As famílias frequentemente não recebiam informações sobre o destino de seus entes queridos.
Conforme os insurgentes tomavam uma cidade após outra em uma campanha vertiginosa de oito dias, a libertação das prisões estavam frequentemente entre seus primeiros objetivos. As prisões mais notórias em Damasco e ao redor foram finalmente abertas na última noite do levante e nas primeiras horas de domingo.
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Quando chegaram à prisão de Sednaya, os rebeldes dispararam contra a fechadura do portão, mostrou um vídeo, usando mais disparos para abrir portas fechadas que levavam às celas. Homens se escapavam pelos corredores e por um pátio, gritando e ajudando a abrir mais celas.
Em um vídeo publicado pela agência de notícias Step, um homem de cabelos grisalhos saltou nos braços de parentes em um abraço incrédulo, os três homens se agarrando e chorando de alegria, antes que um caísse de joelhos, ainda segurando as pernas do homem libertado.
A Reuters não pôde verificar imediatamente a localização de alguns dos vídeos, embora ninguém tenha contestado que prisões foram abertas em todo o país.
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O que dizem lideranças rebeldes da Síria
Rebeldes sírios declararam ter deposto o presidente Bashar al-Assad após assumirem o controle de Damasco no domingo. Eles afirmaram ter entrado na capital sem nenhum sinal de mobilização do exército.
Milhares de pessoas em carros e a pé se reuniram em uma praça principal de Damasco acenando e cantando “Liberdade”. Pessoas foram vistas caminhando dentro do Palácio Presidencial Al-Rawda, e algumas saíram carregando móveis de dentro dele.
“Comemoramos com o povo sírio a notícia da libertação de nossos prisioneiros e de suas correntes”, disseram os rebeldes. O principal comandante do grupo, Abu Mohammed al-Golani, disse que não havia espaço para voltar atrás.
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“O futuro é nosso”, disse al-Golani em uma declaração lida na TV estatal da Síria depois que suas forças tomaram Damasco.
Como a queda de Assad repercutiu
O ritmo dos acontecimentos surpreendeu as capitais árabes e levantou preocupações sobre uma nova onda de instabilidade em uma região já em tumulto após a disseminação do conflito depois do ataque liderado pelo Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 e a consequente guerra de Gaza.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que a queda de Assad foi um resultado direto dos golpes que Israel desferiu contra o Irã e seu aliado Hezbollah.
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O presidente francês Emmanuel Macron disse que “o estado bárbaro caiu” e prestou homenagem ao povo sírio.
Quais devem ser os próximos passos na Síria
Quando as comemorações se dissiparem, os novos líderes da Síria enfrentarão a difícil tarefa de tentar proporcionar estabilidade a um país diversificado com facções concorrentes que precisarão de bilhões de dólares em ajuda e investimentos para se reconstruírem.
A longa guerra civil da Síria, que eclodiu em 2011 como uma revolta contra o governo de Assad, transformou cidades em escombros e matou centenas de milhares de pessoas.
As partes interessadas vão da Turquia aos Estados Unidos, dos islamistas aos curdos.
Um possível desafio poderia ser o ressurgimento do Estado Islâmico, que impôs um reinado de terror em grandes áreas da Síria e do Iraque e dirigiu operações externas durante seu auge.
O governo do presidente Joe Biden estava monitorando os acontecimentos, mas não ajustou o posicionamento dos cerca de 900 soldados na Síria até o momento, disseram autoridades norte-americanas à Reuters.
Ressaltando as mudanças relâmpago, a embaixada do Irã foi invadida por rebeldes sírios, informou a Press TV de língua inglesa do Irã.
O Irã, cuja elite da Guarda Revolucionária enfrentou ataques mortais de Israel na Síria, deu uma resposta comedida. Seu Ministério das Relações Exteriores disse que o destino da Síria é de responsabilidade exclusiva do povo sírio e deve ser perseguido sem imposição estrangeira ou intervenção destrutiva.
O Hezbollah, sediado no Líbano, que forneceu apoio crucial a Assad durante anos, retirou todas as suas forças da Síria no sábado, quando as facções rebeldes se aproximaram de Damasco, disseram duas fontes de segurança libanesas à Reuters.
Assad, que não havia se pronunciado em público desde o repentino avanço rebelde há uma semana, saiu de Damasco no início do domingo.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que Assad havia deixado o cargo e partido do país após dar ordens para uma transferência pacífica do poder.
A coalizão rebelde síria disse que continuava trabalhando para concluir a transferência de poder no país para um órgão governamental de transição com plenos poderes executivos.
“A grande revolução síria passou do estágio de luta para derrubar o regime de Assad para a luta para construir juntos uma Síria que seja condizente com os sacrifícios de seu povo”, informaram parte dos rebeldes em comunicado.
Segurança em instalações militares
Os líderes rebeldes sírios garantiram a segurança das instalações militares russas no país, bem como dos edifícios diplomáticos, disseram fontes russas familiarizadas sobre a situação no domingo, 8. As informações são da Dow Jones Newswires.
A Rússia mantém um centro naval no porto mediterrâneo de Tartus e na base aérea de Khmeimim, no noroeste da Síria, desde que os militares de Moscou ajudaram o presidente Bashar al-Assad a recuperar a maior parte do país, depois de os protestos nacionais que eclodiram em 2011 ameaçarem o seu governo.
A queda do regime de Assad ameaça limitar a capacidade da Rússia de demarcar seu poder no Oriente Médio. A mídia estatal russa informou no domingo que Assad recebeu asilo na Rússia.