Sistema que transporta água pela Terra está desequilibrado pela 1ª vez na história

Relatório da Comissão Global sobre a Economia da Água alerta sobre impactos na produção de alimentos e em economias do mundo todo

Maria Luiza Dourado

Seca no Rio Madeira. REUTERS/Bruno Kelly
Seca no Rio Madeira. REUTERS/Bruno Kelly

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Um relatório publicado pela Comissão Global sobre a Economia da Água revelou o inédito desequilíbrio do ciclo global da água, um desvio causado pela ação humana que vem gerando uma crescente catástrofe hídrica.

Segundo o estudo, o uso destrutivo da terra e a má gestão dos recursos hídricos se uniram à crise climática, resultando em “uma pressão sem precedentes” sobre o ciclo da água, que se torna cada vez mais escasso, afetando diretamente a agricultura e o abastecimento urbano.

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Atualmente, quase 3 bilhões de pessoas enfrentam escassez de água, e esse número pode crescer rapidamente sem a adoção urgente de ações, de acordo com o relatório. A previsão é que a crise hídrica comprometa mais de 50% da produção global de alimentos e reduza o PIB de diversos países em 8%, em média, até 2050.

Para Johan Rockström, co-presidente da comissão e autor do relatório, a humanidade está empurrando o ciclo global da água para fora de equilíbrio, e a precipitação (chuvas), fonte de toda água doce, pode não ser mais confiável. Isso se deve à interdependência entre o que a pesquisa chama de “água azul”, presente em lagos e rios, e “água verde”, que é a umidade armazenada no solo e nas plantas. O estudo explica que metade de toda a chuva que cai na Terra vem da “água verde”, resultante da liberação de vapor d’água pelas plantas.

Além de serem bancos de “água verde”, áreas de vegetação armazenam carbono, contribuindo para o resfriamento do planeta. Contudo, sua destruição, causada principalmente pelo desmatamento, tem esgotado esses sumidouros de carbono e alimentado o aquecimento global, que seca paisagens, reduz a umidade e aumenta o risco de incêndios.

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A Comissão Global sobre a Economia da Água estima que, em média, as pessoas necessitam de cerca de 4.000 litros de água por dia para uma “vida digna”, um volume muito superior à capacidade de fornecimento da maioria das regiões.

Soluções

Segundo o relatório, cortes significativos na poluição e uma melhor gestão dos recursos naturais são essenciais para enfrentar esse desafio, assim como uma colaboração internacional, uma vez que decisões em um país podem impactar a disponibilidade de água em outros.

Os autores do estudo pedem que os governos reconheçam o ciclo da água como um “bem comum” e reestruturem a economia, valorizando a água e desencorajando o desperdício.

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Para Ngozi Okonjo-Iweala, diretora-geral da Organização Mundial do Comércio e coautora do levantamento, a crise hídrica é trágica, mas pode ser vista como uma oportunidade para transformar a economia da água.

Maria Luiza Dourado

Repórter de Finanças do InfoMoney. É formada pela Cásper Líbero e possui especialização em Economia pela Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.