Peso se desvaloriza e Bolsa cai no México com vitória expressiva de Claudia Sheinbaum

Temor no mercado é que a conquista de maioria qualificada no Congresso pelo partido da situação, o Morena, permita o avanço sem obstáculos de uma reforma constitucional

Roberto de Lira

Claudia Sheinbaum, da coalizão governista Vamos Continuar Fazendo História (Reprodução/X, ex-Twitter)
Claudia Sheinbaum, da coalizão governista Vamos Continuar Fazendo História (Reprodução/X, ex-Twitter)

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A dimensão da vitória da candidata de centro-esquerda Claudia Sheinbaum para a presidência do México no domingo gerou forte impacto nos mercados locais nesta segunda-feira (3). O peso está em queda de mais de 2% ante o dólar desde a abertura dos negócios e os índices da Bolsa de Valores do México (BMV) estão em retração de mais de 4%.

A reação está menos ligada à já esperada vitória da candidata do partido Morena, do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, e mais relacionada à provável conquista da maioria qualificada de dois terços do Congresso pelos governistas, que permitiria um avanço sem obstáculos de reformas na Constituição.

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De acordo com a última atualização do Instituto Nacional Eleitoral (INE), com mais de 86% dos votos contados, Claudia Sheinbaum lidera com 58,9% dos votos, ante 28,0% da oposicionistas Xóchitl Galvéz. E as sondagens apontam para uma vantagem similar nas eleições se senadores e deputados pela coligação da situação.

O Financial Times destaca que o peso mexicano chegou a cair 2,8% para 17,55 em relação ao dólar, seu nível mais baixo desde novembro passado.

“O resultado abre um cenário de maior risco político e incerteza para o ambiente de negócios”, disse ao FT a empresa de risco político Integralia. “As ameaças ao sistema de freios e contrapesos do México são maiores.”

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Já na Bolsa, o jornal El Economista destaca que o principal índice, S&P/BMV IPC, que reúne as ações locais mais negociadas, caiu 4,15% nesta manhã, para 52.888,14 pontos. Enquanto isso, o FTSE BIVA, da Bolsa de Valores Institucional (Biva), perdia 4,14%, para 1.080,09 pontos.

O iShares MSCI Mexico ETF (EWW), o maior fundo negociado em bolsa dos EUA que acompanha as ações mexicanas, chegou a cair 7,9%, o maior valor intradiário desde junho de 2020. A EWW teve mais de 890.000 ações negociadas até as 10h05 em Nova York, quase cinco vezes a média de 20 dias, mostraram dados compilados pela Bloomberg. Os títulos em dólar pouco mudaram depois de caírem no início do dia.

Dentro do índice de referência da BMV, todas as ações estão sendo negociadas com prejuízo nesta segunda-feira. As ações do Banco Regional, mais conhecido como BanRegio, lideravam a queda, com 10,87%, seguidas pelas do BanBajío, com 10,25%.

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A Bloomberg lembra que os resultados das eleições parlamentares determinarão se o Morena estará em condições de aprovar uma série de propostas feitas por López Obrador em fevereiro. Esses projetos incluíam planos para reduzir o número de parlamentares e permitir a eleição direta de ministros da Suprema Corte.

As mudanças sugerem ainda a eliminação de reguladores independentes, como a comissão antitruste, bem como o estabelecimento de novas obrigações previdenciárias e aumentos obrigatórios do salário-mínimo.

Segundo operadores do mercado, tal resultado pode minar o apetite por ativos do México, incluindo o peso, que vinha sendo uma das principais moedas em termos de desempenho este ano em relação ao dólar.

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O peso estava desafiando os apelos de que estaria sobrevalorizado e continuou a subir, com os laços estreitos do México com os EUA protegendo a moeda do dólar forte que abalou outras nações em desenvolvimento. Também foi apoiado por um banco central “hawkish”, que tem sido o mais lento da América Latina em reduzir os custos dos empréstimos.

Embora a volatilidade permaneça, os primeiros sinais enviados pela nova presidente não apontam para um divórcio com o mercado. A Bloomberg lembra que que, em seu primeiro discurso após eleita, Sheinbaum prometeu respeitar a autonomia do banco central e a disciplina fiscal, pedindo mais investimento em energia renovável e prometendo promover o investimento estrangeiro.