“Novo caminho”: Kamala Harris aceita nomeação com promessa de luta pela classe média

Em contraste a Biden e seus discursos amplos sobre a importância da democracia, Harris falou de maneira clara sobre a proteção dos direitos reprodutivos e a ampliação das oportunidades econômicas e políticas

Bloomberg

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Kamala Harris, Vice-presidente dos Estados Unidos, aceitou formalmente a nomeação presidencial pelo Partido Democrata na madrugada desta sexta-feira (23), proferindo um discurso profundamente pessoal, no qual prometeu priorizar a luta pela classe média e pelos direitos reprodutivos dos americanos.

Harris e seus colegas democratas passaram uma semana reunidos em Chicago, estendendo a mão aos eleitores indecisos que precisarão conquistar para retomar a Casa Branca.

Seu discurso canalizou esse ímpeto, ao mesmo tempo em que enfrentou diretamente os ataques republicanos, usando sua biografia para argumentar que ela estava melhor posicionada para lidar com questões como economia, imigração e criminalidade — temas tradicionalmente vistos como vulnerabilidades democratas. Ela criticou seu oponente, Donald Trump, dizendo que ele está mais interessado em si mesmo do que nos eleitores.

Harris é a primeira mulher negra e asiática a liderar a chapa de um grande partido, e sua ascensão à nomeação apenas um mês após o Presidente Joe Biden retirar sua candidatura é sem precedentes na era moderna.

Harris apresentou sua candidatura como um caminho para o futuro de uma nação marcada por anos de pandemia e divisões políticas.

“Nossa nação, com esta eleição, tem uma oportunidade preciosa e efêmera de superar a amargura, o cinismo e as batalhas divisivas do passado”, disse Harris. “Uma chance de traçar um novo caminho. Não como membros de qualquer partido ou facção, mas como americanos.”

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A semana foi marcada por temas ligados a patriotismo e liberdade, terreno que os democratas normalmente cediam a Trump e aos republicanos. Em vez dos argumentos sobre a importância da democracia oferecidos por Biden durante seus quatro anos de mandato, Harris falou de maneira clara sobre a proteção dos direitos reprodutivos e a ampliação das oportunidades econômicas e políticas.

“América, vamos mostrar uns aos outros e ao mundo quem somos e o que defendemos. Liberdade, oportunidade, compaixão, dignidade, justiça e possibilidades infinitas”, disse Harris.

Ela também afinou — e simplificou — seu argumento contra seu oponente republicano.

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“Em muitos aspectos, Donald Trump é um homem pouco sério”, disse Harris. “Mas as consequências de colocar Donald Trump de volta na Casa Branca são extremamente sérias.”

Apesar disso, grandes partes do discurso pareceram dedicadas a rebater as críticas republicanas de que ela seria inexperiente. Harris recorreu fortemente ao seu passado como promotora, senadora e vice-presidente para oferecer detalhes sobre como abordaria a política externa e a legislação bipartidária.

Trump reagiu a Harris em uma entrevista exibida na Fox News imediatamente após seu discurso. “A maior reação é: por que ela não fez as coisas das quais está reclamando?”, disse Trump. “Todas essas coisas que ela falou, vamos fazer isso, vamos fazer aquilo. Vamos fazer tudo. Mas ela não fez nada disso.”

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Rebranding do Partido

Cada noite da convenção — pontuada por apresentações musicais e aparições de celebridades, incluindo a participação de Oprah Winfrey — foi construída para o grande momento de Harris, ao mesmo tempo em que serviu como um microcosmo da rápida transformação do Partido Democrata na imagem da nova candidata.

Na segunda-feira, um emocionado Biden passou o bastão. Na terça, Barack e Michelle Obama saudaram Harris como a herdeira de seu movimento político inovador, empolgando os eleitores fiéis do partido com uma dura acusação contra Trump. O candidato a vice-presidente Tim Walz, o “guerreiro feliz” dos democratas, encerrou o penúltimo dia com um discurso repleto de referências ao futebol e à liberdade, direcionado aos eleitores do Rust Belt, que provavelmente decidirão a eleição.

A própria Harris apareceu na terça-feira em um comício na mesma arena em Milwaukee onde os republicanos realizaram sua convenção. Esse comício foi parcialmente transmitido ao vivo para Chicago — um sinal do entusiasmo em torno de sua candidatura.

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A lista de oradores de quinta-feira foi projetada para demonstrar a ampla coalizão que Harris precisará costurar para prevalecer no Dia da Eleição. Ela foi apresentada pelo governador Roy Cooper, da Carolina do Norte, um democrata que cultivou um profundo apoio em seu estado-chave, e que a saudou como alguém “que nunca se contentaria com menos”.

“Temos muitas grandes lutas à nossa frente, e temos uma grande lutadora pronta para enfrentá-las”, disse ele.

A presença de Cooper na noite enfatizou até que ponto Harris expandiu o caminho dos democratas para a vitória eleitoral, recuperando rapidamente a posição em estados do Sul.

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A programação também incluiu a governadora Gretchen Whitmer, de Michigan, que pintou Harris como uma mão firme, provocando Trump por ser desconectado e desdenhoso em relação ao seu estado natal.

“Um dia, quando você está apenas tentando tirar todo mundo de casa, um alerta de notícias soa — algo aconteceu, algo deu errado”, disse ela. “Você vai perguntar: ‘Minha família vai ficar bem?’ E depois vai perguntar: ‘Quem diabos está no comando? E se for ele?’”

Carga Emocional

Al Sharpton apresentou membros dos “Cinco do Central Park”, um grupo erroneamente condenado quando adolescentes por um ataque e estupro em 1989. Posteriormente, Trump comprou um anúncio de página inteira pedindo a imposição da pena de morte antes mesmo da condenação, algo que críticos denunciaram como racista.

“Nossa juventude foi roubada de nós todos os dias enquanto entrávamos no tribunal — as pessoas gritavam conosco, nos ameaçavam por causa de Donald Trump”, disse Korey Wise, um dos homens exonerados.

O senador Mark Kelly, do estado-chave do Arizona, e sua esposa, Gabby Giffords, trouxeram carga emocional à convenção, com a ex-congressista detalhando sua tentativa de assassinato em um apelo por medidas de segurança contra armas.

Apresentações musicais de The Chicks e Pink animaram a plateia, especialmente as mulheres da Geração X e Millennials mais velhas, que formam a base de apoio de Harris. Mas havia especulação em Chicago de que um endosso de alto nível de uma estrela pop ainda maior poderia ser revelado — deixando alguns na multidão momentaneamente desapontados.

Bancada de Talentos

As atividades da semana também destacaram as tentativas dos democratas de capitalizar uma crescente bancada de novas estrelas em estados-chave, com espaços proeminentes de discurso concedidos a uma série de autoridades eleitas que se acredita terem ambições presidenciais próprias — incluindo os governadores Wes Moore de Maryland, JB Pritzker de Illinois e Josh Shapiro da Pensilvânia.

Mas a presença deles também destacou uma unidade, ainda que temporária. Rivais ideológicos como a congressista de Nova York Alexandria Ocasio-Cortez e o governador de Kentucky Andy Beshear participaram juntos das atividades democráticas.

Ainda assim, divisões foram evidentes em Chicago. Fora do United Center, manifestantes organizaram múltiplas manifestações contra a guerra de Israel em Gaza. Dentro do perímetro, alguns delegados se incomodaram com a decisão de não incluir um americano palestino na programação.

Os pais de um refém capturado pelo Hamas falaram na convenção, mas, fora isso, o conflito em curso no Oriente Médio foi mencionado apenas de forma esparsa durante as atividades. Harris reconheceu essas divisões, enquanto a maioria dos outros oradores evitou o conflito completamente.

“A escala do sofrimento é de partir o coração”, disse ela. “O Presidente Biden e eu estamos trabalhando para acabar com essa guerra de forma que Israel esteja seguro, os reféns sejam libertados, o sofrimento em Gaza termine, e o povo palestino possa realizar seu direito à dignidade, segurança, liberdade e autodeterminação.”