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Praticamente um ano depois de Javier Milei ter afirmado numa famosa entrevista com o jornalista conservador americano Tucker Carlson que não faria negócios com a China e com “nenhum comunista” caso fosse eleito, o hoje presidente da Argentina teve uma mudança total de opinião sobre o gigante asiático. Em entrevista na noite de domingo (29), ele não só afirmou que a China é um “sócio comercial interessante” como confirmou uma visita ao país.
Milei deu as declarações em entrevista na Casa Rosada à atriz e apresentadora Susana Giménez, e comentou que a única coisa que os chineses pedem é que não os incomodem em matéria comercial.
Em setembro de 2023, antes da eleição presidencial, ele havia afirmado a Carlson ser um defensor da liberdade, da paz, da democracia e que “os comunistas não entram aí, os chineses não entram aí”.
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Segundo o presidente, ele aceitou inclusive participar de uma reunião de cúpula conjunta entre a China e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), inicialmente marcada para janeiro de 2025. Essa comunidade de 32 nações foi fundada em 2011 pelo então presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Pragmatismo econômico
Os grandes jornais argentinos tentaram nesta segunda-feira responder o motivo de tal virada no discurso e foram unânimes em afirmar que houve uma opção pelo pragmatismo, uma vez que a economia argentina precisa dos chineses.
Um exemplo disso foi a decisão chinesa de renovar para até 2026 o chamado swap cambial, uma troca de moedas, entre os BCs dos dois países firmado ainda no governo anterior. Sem conseguir alavancar suas reservas, a Argentina usou parte do swap no ano passado para o pagamento das importações e intervenção no mercado de câmbio.
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A Argentina também quer acelerar a retomada das obras como das barragens Jorge Cepernic e Néstor Kirchner, em Santa Cruz, informou o jornal La Nación. Estar bem coberto financeiramente também ajuda nas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Existe ainda o tema da balança comercial do país. O jornal ouviu o consultor e especialista em comércio internacional Marcelo Elizondo, que citou a alta de 24% nas vendas argentinas de soja, cevada e sorgo para a China, que somaram US$ 2,5 bilhões apenas no primeiro semestre de 2024 – em todo o ano passado, essas exportações somaram US$ 5,1 bilhões.
Já as importações, que atingiram US$ 14 bilhões em 2023, diminuirão como resultado da recessão deste ano. “Milei quer sair da armadilha e não quer correr riscos. Há razões comerciais e o presidente também espera mais investimentos da China”, disse Elizondo ao La Nación.
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O Ministério de Relações Exteriores, encabeçado por Diana Mondino, afirmou o país “nunca teve grandes problemas no vínculo, além do fato de não sermos amigos”. Mas registrou que houve uma aproximação recente durante a visita de integrantes do governo em Nova York, para a Assembleia Geral das Nações Unidas.
Uma primeira viagem está marcada pela Secretária Geral da Presidência, Karina Milei, irmã do presidente. Ela vai se encontrar em novembro em Xangai com empresários locais. “A realidade é que Argentina e China têm uma relação comercial importante. Há investimentos da China na Argentina, há a questão do swap que a China tem com a Argentina”, disse o chefe da Casa Civil, Guillermo Francos, em entrevista à Rádio Mitre. “Portanto, há uma série de relações nas quais a China sempre agiu de forma eficaz e respondeu às exigências que o nosso país formulou em situações complexas”, acrescentou Francos.
Desencontros
Nos quase dez meses de gestão libertária na Argentina, foram vários os atritos com os interesses da China. Houve, por exemplo, encontro entre Mondino e diplomatas de Taiwan. O ex-chefe de gabinete Nicolás Posse também para “inspecionar” a base aeroespacial que a China tem em Neuquén, em resposta a um pedido do embaixador norte-americano Marc Stanley.
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A China também ficou contrariada com a desistência de Milei na adesão argentina ao BRICS, o bloco de nações liderado pela China, Brasil, Rússia, Índia e África do Sul.
O jornal especula também qual será o comportamento de Milei entre os pares nessa reunião. No último encontro da Celac, realizado em São Vicente e Granadinas, estiveram presentes o colombiano Gustavo Petro, a quem o argentino já chamou de assassino, e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, chamado de corrupto.
O venezuelano Nicolás Maduro também compareceu, bem como o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, que ouviu na semana passada severas críticas a respeito da organização no discurso de Milei perante a ONU.