Publicidade
Às vésperas do aniversário de 30 anos do maior atentado terrorista da Argentina, contra o prédio da Associação Mutual Israelita-Argentina (AMIA), um jornal ligado ao governo iraniano fez um editorial com uma ameaça ao governo argentino. “Teerã não esquecerá as políticas anti-iranianas de Buenos Aires (…) no momento certo e na posição certa, imporá seu próprio jogo ao inimigo e o fará lamentar sua inimizade com o Irã”, escreveu o Teerã Times.
O editorial é só mais um capítulo nas queixas constantes que o regime iraniano tem feito pela simpatia demonstrada do governo de Javier Milei para com Israel. O país foi o segundo a ser visitado pelo presidente argentino desde sua posse, em dezembro.
Em fevereiro, Milei anunciou inclusive a intenção de transferir a embaixada argentina em Israel de Tel Aviv para a parte ocidental de Jerusalém, plano que foi reforçado em entrevistas recentes. Há poucos dias, o governo de Milei declarou o Hamas uma organização terrorista.
Continua depois da publicidade
Em abril, a Câmara de Cassação Criminal argentina assinou uma sentença afirmando que os ataques à embaixada de Israel e à AMIA responderam a “um projeto político e estratégico” do Irã e que foram realizados pela organização terrorista Hezbollah, no que se configurou em um crime contra a humanidade.
Além disso, a Câmara dos Deputados deve receber um projeto de lei anunciado pelos ministros da Justiça e Segurança, Mariano Cuneo Libarona, e Patricia Bullrich, para julgar à revelia por genocídio ou crimes contra a humanidade os cidadãos iranianos acusados do ataque.
Atentado e investigações
No dia 18 de julho de 1994, um carro-bomba explodiu na sede da associação, em Buenos Aires, matando 85 pessoas e ferindo mais de 300. Esse ataque se seguiu a outro, realizado dois anos antes, no prédio da Embaixada de Israel na capital argentina e que havia vitimado 29 pessoas.
Investigações apontaram que os ataques teriam sido organizados pelo grupo paramilitar xiita libanês Hezbollah, patrocinado pela República Islâmica do Irã, mas o governo iraniano tem historicamente negado qualquer participação.
O texto publicado no último domingo no jornal de Teerã citou que o palácio presidencial da Argentina tem reiterado suas “alegações infundadas sobre o envolvimento do Irã nos ataques”. A publicação sustenta que há outras hipóteses como a de um ataque vindo do próprio lado israelense ou uma vingança e punição do governo do então presidente Carlos Menem contra os “sionistas argentinos”.
A suspeita inicial disse o jornal, veio de um comentário apressado do ministro do Interior argentino na época, que acabou por criar uma história que seria alimentada ao longo dos anos pelo FBI e pelo Mossad.
Continua depois da publicidade
“Fantoche”
O artigo sustenta que Milei não esconde seu interesse pelos “sionistas” e o chamou de fantoche de Israel. O texto diz ainda que isso ocorre enquanto os governos da América Latina estão desenvolvendo e expandindo suas relações com o Irã e aproveitando as capacidades políticas e econômicas do país como uma potência regional e um importante ator global.
A política de Milei, portanto, estaria colocando em risco os interesses nacionais da Argentina, segundo o jornal. E o texto finaliza com a ameaça já citada.