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Iwao Hakamada, um japonês de 88 anos, foi considerado inocente de múltiplos assassinatos em um julgamento que levantou questionamentos sobre o uso da pena de morte no Japão. Hakamada passou quase meio século no corredor da morte — acredita-se que ele detém o recorde mundial de mais tempo nessa condição.
Em 1968, Hakamada foi condenado à morte após ser considerado culpado pelo assassinato de seu chefe, sua esposa e seus dois filhos adolescentes, além de ter incendiado a casa da família. Desde então, ele sempre alegou ser inocente, afirmando que a polícia o forçou a confessar e que as provas contra ele foram fabricadas.
Hakamada, ex-boxeador profissional, foi libertado em 2014, quando novas provas surgiram e um novo julgamento foi ordenado. O juiz responsável pelo caso, Koshi Kunii, reconheceu que três provas, incluindo a “confissão” de Hakamada, foram manipuladas, criticando os “interrogatórios desumanos” que ele sofreu.
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Antes do veredicto desta quinta-feira (26), a irmã de Hakamada, Hideko, expressou esperança de que a batalha judicial finalmente chegasse ao fim. Ela tem lutado incansavelmente por justiça para o irmão, cuja saúde física e mental se deteriorou durante os anos na prisão.
O veredicto foi um alívio para Hakamada, que não estava presente na decisão e foi representado pela irmã. A absolvição é um marco importante em um caso que se tornou emblemático para os opositores da pena de morte no Japão.
O tribunal superior de Tóquio havia inicialmente decidido não reabrir o caso, mas reverteu essa decisão após ordens do tribunal supremo japonês. Centenas de apoiadores se reuniram do lado de fora do tribunal, esperando garantir um lugar na galeria e segurando faixas pedindo a absolvição de Hakamada.
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Ativistas afirmaram que a experiência de Hakamada expôs falhas significativas no sistema de justiça criminal do Japão e a crueldade da pena de morte. No Japão, prisioneiros do corredor da morte são notificados de suas execuções apenas horas antes e não têm a oportunidade de se comunicar com advogados ou familiares.
A pena de morte continua a ter forte apoio público no Japão, com uma pesquisa de 2019 mostrando que 80% dos entrevistados consideravam a pena capital “inevitável”. O caso de Hakamada é apenas um dos muitos exemplos do que críticos chamam de “sistema de justiça refém” no Japão, onde suspeitos frequentemente enfrentam longos períodos de detenção e intimidação durante os interrogatórios.