Israel proíbe agência de ajuda a palestinos da ONU de operar em território israelense

Parlamentares que redigiram a lei citaram o envolvimento de alguns funcionários da UNRWA no ataque de 2023 no sul de Israel e o fato de alguns funcionários serem membros do Hamas

Reuters

Palestinos deslocados fogem da parte norte de Gaza, em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza - 23/10/2024 (Foto: Hassan Al-Zaanin/Reuters)
Palestinos deslocados fogem da parte norte de Gaza, em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza - 23/10/2024 (Foto: Hassan Al-Zaanin/Reuters)

Publicidade

Jerusalém (Reuters) – Israel aprovou uma lei nesta segunda-feira (29) proibindo a agência de refugiados palestinos da Organização das Nações Unidas, a UNRWA, de operar no país, legislação que pode gerar impactos no trabalho da agência em uma Gaza devastada pela guerra.

Os parlamentares que redigiram a lei citaram o envolvimento de alguns funcionários da UNRWA no ataque de 7 de outubro de 2023 no sul de Israel e o fato de alguns funcionários serem membros do Hamas e de outros grupos armados.

A legislação preocupa a ONU e alguns dos aliados ocidentais de Israel, que temem que isso possa piorar ainda mais a situação humanitária já grave em Gaza, onde Israel luta contra militantes do Hamas há um ano. A proibição não se refere a operações nos territórios palestinos ou em outros lugares.

Continua depois da publicidade

“Os funcionários da UNRWA envolvidos em atividades terroristas contra Israel precisam ser responsabilizados. Como evitar uma crise humanitária também é essencial, a ajuda humanitária sustentada deve permanecer disponível em Gaza agora e no futuro”, publicou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nas redes sociais após a votação.

“Nos 90 dias antes de essa legislação entrar em vigor — e depois — estamos prontos para trabalhar com nossos parceiros internacionais para garantir que Israel continue a facilitar a ajuda humanitária aos civis em Gaza de uma forma que não ameace a segurança de Israel.”

O Parlamento também aprovou um adendo à nova lei dizendo que as autoridades israelenses não poderiam mais ter contato com a UNRWA, mas que exceções a isso poderiam ser feitas no futuro.

Continua depois da publicidade

O chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, chamou a votação de um “precedente perigoso” que se opõe à carta da ONU e viola a obrigação de Israel sob a lei internacional.

“Essa é a mais recente campanha em andamento para desacreditar a UNRWA e deslegitimar seu papel no fornecimento de assistência e serviços de desenvolvimento humano para os refugiados palestinos”, escreveu ele na plataforma de mídia social X.

A UNRWA, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina, emprega dezenas de milhares de trabalhadores e oferece educação, saúde e ajuda a milhões de palestinos em Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Líbano e Síria.

Continua depois da publicidade

A agência tem relações tensas com Israel faz tempo, mas os laços se deterioraram drasticamente desde o início da guerra em Gaza, e Israel tem pedido repetidamente que a UNRWA seja desativada, com suas responsabilidades sendo transferidas para outras agências da ONU.

Demissões

A ONU disse em agosto que nove funcionários da UNRWA poderiam estar envolvidos no ataque de 7 de outubro e foram demitidos. Foi descoberto que um comandante do Hamas no Líbano — morto no mês passado em ataque israelense — era ex-funcionário da UNRWA. Outro comandante, morto em Gaza na semana passada, trabalhava simultaneamente como funcionário de ajuda humanitária.

“Se as Nações Unidas não estiverem dispostas a limpar esta organização do terrorismo, dos ativistas do Hamas, então teremos que tomar medidas para garantir que eles não possam prejudicar nosso povo novamente”, disse a parlamentar israelense Sharren Haskel.

Continua depois da publicidade

“A comunidade internacional poderia ter assumido a responsabilidade e garantido o uso de organizações adequadas para facilitar a ajuda humanitária, como o Programa Mundial de Alimentos, a Unicef e muitas outras que operam ao redor do mundo”, acrescentou Haskel.

Uma porta-voz da UNRWA disse antes da votação que a lei proposta seria um “desastre” e teria um impacto sério nas operações humanitárias em Gaza e na Cisjordânia ocupada.

“Sabemos que tentativas anteriores de substituir a UNRWA e fornecer assistência humanitária falharam miseravelmente”, disse Juliette Touma, a principal porta-voz da organização.

Continua depois da publicidade

“É um absurdo que um Estado-membro das Nações Unidas esteja tentando desmantelar uma agência da ONU que também é a maior provedora de assistência humanitária em Gaza.”

A lei provavelmente afetará diretamente as instituições da UNRWA em Jerusalém Oriental, que Israel anexou em um movimento não reconhecido no exterior.

Outro dos autores da lei, Boaz Bismuth, disse que o trabalho da UNRWA lá tem sido contraproducente há anos. “Se você realmente quer estabilidade, se você realmente quer segurança, se você quer paz de verdade no Oriente Médio, organizações como a UNRWA não o levarão a isso”, disse Bismuth.

Israel tem enfrentado forte pressão internacional para fazer mais para aliviar a crise humanitária em Gaza e para levar mais ajuda às pessoas deslocadas pela campanha israelense.

Antes da aprovação da lei, ministros das Relações Exteriores da França, Alemanha, Reino Unido, Japão, Coreia do Sul, Canadá e Austrália emitiram uma declaração expressando “grave preocupação”.

“É crucial que a UNRWA e outras organizações e agências da ONU sejam totalmente capazes de fornecer ajuda humanitária e assistência àqueles que mais precisam, cumprindo seus mandatos de forma eficaz”, disse o comunicado.

ACESSO GRATUITO

CARTEIRA DE BONDS