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O forte discurso proferido na terça-feira (24) pelo presidente Javier Milei na 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York, no qual atacou o que considera uma tendência socialista da organização, gerou forte polêmica na Argentina, segundo opiniões colhidas pelos jornais La Nación e Clarín. Intelectuais e ex-diplomatas criticaram o que viram como um clara opção pelo isolacionismo, quanto apoiadores e partidários defenderam a citada escolha pela liberdade feita pelo líder ultraliberal.
Parte das críticas vieram por conta do abandono do Pacto do Futuro, aprovado por 143 países, incluindo Estados Unidos e Israel, que Milei considera como seus faróis na política externa, conforme lembrou o diário espanhol El País.
Foi lembrado que a recusa da Argentina em participar da votação se assemelha na prática à rejeição que outros países explicitaram sobre o Pacto, incluindo Coréia do Norte, Rússia, Irã, Bielorrússia e Nicarágua.
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A Anistia Internacional, segundo o Clarín, comentou que a Argentina se tornou o único país do mundo a se dissociar do Pacto, que ratifica o compromisso duradouro com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
“O Pacto inclui cinco eixos: paz e segurança internacionais; desenvolvimento sustentável e financiamento para o desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação e cooperação digital; jovens e gerações futuras; e a transformação da governança global”, diz a organização.
Também inclui diferentes disposições, como a necessidade de combater as mudanças climáticas, avançar em direção à igualdade de gênero e fortalecer o sistema multilateral e suas instituições.
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As críticas mais fortes a Milei vieram de intelectuais. O jornal La Nación cita o advogado e sociólogo Roberto Gargarella, que ressaltou na rede X “a vergonha de ter como representante um presidente assim, anticientífico, negador de provas, bruto, plagiador, grosseiro, desrespeitoso, da pior forma ideológica”.
Para Gerardo Aboy Carlés, doutor em Ciência Política, disse que “o opróbrio [vergonha] que o inapresentável na ONU significou nos acompanhará por anos”.
“Vamos para a guerra? Não seria mais sensato aplicar recursos para apagar o incêndio em Córdoba?”, perguntou a escritora Claudia Piñeiro sobre a promessa de Milei de que o país abandonaria “a posição de neutralidade histórica” para se colocar “na vanguarda da luta em defesa da liberdade”.
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“Olá, mundo. Desculpas. Milhões de argentinos não são representados por esse homem, e nós o repudiamos”, alertou a ensaísta e advogada Claudia Cesaroni. “O mundo nos conhecia por Eva, por Che, por Borges, por Martha Argerich, por Diego, por Lucrecia Martel, por Messi. Agora ele nos conhece como presidente ‘Milady’. Argentina, antes e depois da lobotomia”, lamentou o escritor Marcelo Figueras.
Para o cientista político Lucas Romero, Milei foi à ONU para “representar a si mesmo”. “O discurso de um fascista paranoico na ONU. Um dos maiores erros da história diplomática argentina”, disse Pablo Avelluto, ex-ministro no governo de Mauricio Macri.
“Esse hábito de querer ditar uma palestra para o mundo, de ser sempre provocativo, de não aceitar que existem tradições que devem ser respeitadas é muito desagradável e equivocado. Uma coisa é uma revolução, em que todos os códigos são quebrados, e outra é ser mais um elo do sistema”, disse o escritor Marcelo Gioffré.
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Elogios
Mas nem tudo foram críticas. O intelectual liberal Alberto Benegas Lynch Jr. achou o discurso “extraordinário”, num post no X que recebeu agradecimentos do próprio Milei.
O cientista político e ensaísta Agustín Laje considerou que Milei deu “um exemplo de liberdade e democracia para o mundo inteiro”. “A Agenda 2030 foi desenhada por apenas 87 pessoas que o povo não elegeu e, pior, nem conhece”, criticou Laje.
Políticos ligados a Milei também disseram ter gostado do discurso. “Chega de morno”, escreveu o deputado de Mendoza, Álvaro Martínez, que recentemente trocou o PRO pelo La Libertad Avanza, partido do presidente.
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“Javier Milei acaba de anunciar perante a ONU que, a partir deste dia, a República Argentina abandonará a posição de neutralidade histórica que nos caracterizou e estará na vanguarda da luta em defesa da liberdade”, disse.
Sua colega, Carolina Piparo, descreveu o discurso de Milei na ONU como “brilhante”. Damian Arabia, deputado pelo PRO e ligado a Patricia Bullrich, afirmou que “é a primeira vez que vejo na ONU que um presidente expõe o duplo padrão de ditaduras como Cuba e Venezuela fazerem parte do Conselho de Direitos Humanos e países onde as mulheres não são livres fazerem parte do Comitê Antidiscriminação”.
“O comércio garante a paz! Onde o comércio entra, as balas não entram! O presidente Javier Milei diz com absoluta razão, alertando para as contradições e fracassos da ONU e sua agenda 2030”, comentou o ministro radical da Defesa, Luis Petri.