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Por mais de uma década, a venda de ingressos para o Burning Man, um festival sobre contracultura realizado num cenário de Mad Max e frequentado por ultrarricos, nunca durou mais do que minutos. Mas neste ano foi diferente. Há duas semanas do início do festival, ainda há entradas disponíveis, que não devem se esgotar.
Ainda não está claro o que causou o baixo interesse pelo evento neste ano, mas especialistas levantam alguns pontos que podem ajudar a explicar a situação, como a crise climática e a instabilidade econômica.
O Burning Man acontece todos os anos no deserto de Nevada, nos EUA, onde os participantes criam uma comunidade chamada “Black Rock City”. O evento dura cerca de sete dias e os ingressos se esgotaram todos os anos desde 2011.
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A capacidade do evento fica na faixa de 70 mil pessoas. No ano passado, foi de 74.126. Os organizadores do festival decidem quantos ingressos vender a cada ano.
O festival em si sempre foi desafiador. São vários dias em um ambiente desértico que, nas melhores condições climáticas, oscila entre dias quentes e noites frias, com tempestades de poeira e umidade baixa.
Porém, os últimos anos impuseram mais dificuldades. Primeiro, os cancelamentos em 2020 e 2021 devido à pandemia de Covid-19. Depois vieram temperaturas recordes em 2022 e chuvas intensas em 2023 que transformaram o local em um mar de lama, aprisionando os participantes por dias sem água, comida ou combustível.
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“Os últimos anos foram difíceis para o clima e para a capacidade de planejar adequadamente”, afirmou Kaden Sinclair, que participou do Burning Man 14 vezes desde 2004, mas não irá este ano. Segundo ele, as altas temperaturas dificultam aproveitar o evento, que “se torna um inferno”.
Além do clima extremo, a situação financeira também pode ter influenciado a adesão deste ano. Os ingressos para o Burning Man custam a partir de US$ 575 (R$ 3.150), mas os custos podem ser muito mais altos, considerando questões de alimentação, conforto na estadia e as artes que são feitas no festival.
A organizadora do evento, Marian Goodell, disse ao jornal The New York Times que muitos frequentadores têm falado sobre pular edições por questões financeiras.
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Para alguns participantes, não esgotar é algo positivo que pode levar o evento “de volta às raízes”. Alysia Dynamik, que participa do evento desde 2010, disse ao jornal The Guardian que muitos participantes dos últimos anos não eram comprometidos com os princípios de “autossuficiência radical” do festival e agora, “culturalmente, a maioria das pessoas não sente necessariamente que é algo ruim voltar à pré-escassez.”