Hamas, Fatah e outras facções palestinas concordam em formar governo de unidade

Diálogo de reconciliação entre 14 facções palestinas foi realizado na China; 17 anos de conflitos de poder enfraqueceram as aspirações políticas palestinas

Reuters

Chanceler chinês Wang Yi recebe Mahmoud al-Aloul (Fatah) e Mussa Abu Marzuk (Hamas) -  23/7/2024 (Foto: Pedro Pardo/Pool via Reuters)
Chanceler chinês Wang Yi recebe Mahmoud al-Aloul (Fatah) e Mussa Abu Marzuk (Hamas) - 23/7/2024 (Foto: Pedro Pardo/Pool via Reuters)

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Pequim/Cairo (Reuters) – As facções palestinas, incluindo os rivais Hamas e Fatah, concordaram em acabar com suas divisões e formar um governo interino de unidade nacional durante negociações na China que terminaram nesta terça-feira (23), informou o Ministério das Relações Exteriores da China.

A Declaração de Pequim foi assinada na cerimônia de encerramento de um diálogo de reconciliação entre 14 facções palestinas realizado na capital da China de 21 a 23 de julho.

Esforços anteriores do Egito e de outros países árabes para reconciliar o Hamas e o Fatah não conseguiram pôr fim a 17 anos de conflitos de divisão de poder que enfraqueceram as aspirações políticas palestinas, e ainda não se sabe se esse acordo sobreviverá às realidades locais.

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A reunião foi realizada em meio a tentativas dos mediadores internacionais de chegar a um acordo de cessar-fogo para Gaza, sendo que um dos pontos de atrito é o plano futuro – como o enclave administrado pelo Hamas será governado quando a guerra que começou em 7 de outubro terminar.

Hussam Badran, oficial sênior do Hamas, disse que o ponto mais importante da Declaração de Pequim foi a formação de um governo de unidade nacional palestino para administrar os assuntos dos palestinos.

“Isso cria uma barreira formidável contra todas as intervenções regionais e internacionais que buscam impor realidades contra os interesses de nosso povo na administração dos assuntos palestinos no pós-guerra”, disse Badran.

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Duas autoridades do Fatah contatadas pela Reuters não quiseram comentar.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que seu objetivo é destruir o grupo Hamas, apoiado pelo Irã, e se opõe a que ele tenha qualquer papel na administração de Gaza no pós-guerra.

“Em vez de rejeitar o terrorismo, Mahmoud Abbas (líder do Fatah) abraça os assassinos e estupradores do Hamas, revelando sua verdadeira face. Na realidade, isso não acontecerá porque o domínio do Hamas será esmagado, e Abbas estará observando Gaza de longe. A segurança de Israel permanecerá exclusivamente nas mãos de Israel”, afirmou o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, no X.

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Badran disse que o governo de unidade nacional administrará os assuntos dos palestinos em Gaza e na Cisjordânia, supervisionará a reconstrução e preparará as condições para as eleições.

Atualmente, o Hamas governa Gaza e o Fatah forma a espinha dorsal da Autoridade Palestina, que tem controle limitado na Cisjordânia ocupada por Israel.

Os detalhes do acordo não definiram um cronograma para a formação de um novo governo. Em março, o presidente palestino Mahmoud Abbas, que chefia o Fatah, nomeou um novo governo liderado por um de seus assessores mais próximos, Mohammad Mustafa.

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Ashraf Abouelhoul, especialista em assuntos palestinos, disse que declarações anteriores semelhantes não foram implementadas e nada aconteceria sem a aprovação dos Estados Unidos.

“Formar um governo de unidade com o Hamas é rejeitado por Estados Unidos, Israel e Reino Unido. Há um consenso entre esses países para excluir o Hamas de qualquer papel no dia seguinte à guerra”, disse Abouelhoul.

“O que aconteceu na China não passou de uma reunião, um evento comemorativo, mas é impossível resolver os problemas entre as facções palestinas em apenas três dias”, afirmou Abouelhoul, editor-chefe do jornal estatal egípcio Al-Ahram.