Governo francês pode implodir após moções de desconfiança da esquerda e da direita

A frágil coalizão de Michel Barnier deve ser primeiro governo francês a ser forçado a sair por um voto de desconfiança desde 1962

Reuters

Visão geral durante debate sobre projeto de lei de financiamento da seguridade social de 2025 na Assembleia Nacional em Paris -  02/12/2024 (Foto: Sarah Meyssonnier/Reuters)
Visão geral durante debate sobre projeto de lei de financiamento da seguridade social de 2025 na Assembleia Nacional em Paris - 02/12/2024 (Foto: Sarah Meyssonnier/Reuters)

Publicidade

PARIS (Reuters) – É praticamente certo um colapso do governo francês no final desta semana, após partidos de extrema-direita e de esquerda apresentarem moções de desconfiança nesta segunda-feira (2) contra o primeiro-ministro, Michel Barnier.

Investidores imediatamente puniram ativos franceses, com os últimos acontecimentos mergulhando a segunda maior economia da zona do euro em uma crise política ainda maior e sérias dúvidas sobre a aprovação do orçamento anual.

“Os franceses estão fartos”, disse a jornalistas a líder do Reagrupamento Nacional (RN), Marine Le Pen, afirmando que Barnier, que se tornou primeiro-ministro apenas no início de setembro, havia piorado as coisas e precisava ser afastado. “Estamos propondo uma moção de desconfiança contra o governo”, disse.

Continua depois da publicidade

A menos que haja uma surpresa de última hora, a frágil coalizão de Barnier será o primeiro governo francês a ser forçado a sair por um voto de desconfiança desde 1962.

Um colapso do governo deixaria um buraco no coração da Europa, com a Alemanha também em período eleitoral, e semanas antes da reentrada do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca.

Os parlamentares do RN e a esquerda juntos têm votos suficientes para derrubar Barnier, e Le Pen confirmou que seu partido votará a favor da proposta de desconfiança da coalizão de esquerda, além da oferecida pela RN. É provável que a votação seja realizada na próxima quarta-feira.

Continua depois da publicidade

Os partidos anunciaram suas moções de desconfiança após Barnier dizer, nesta segunda-feira, que tentaria aprovar um projeto de lei de seguridade social no Parlamento sem uma votação, quando uma concessão de última hora se mostrou insuficiente para obter o apoio do RN.

“Diante dessa enésima negação da democracia, censuraremos o governo”, afirmou Mathilde Panot, da organização de esquerda França Insubmissa.

“Estamos vivendo um caos político por causa do governo de Michel Barnier e da presidência de Emmanuel Macron.”

Continua depois da publicidade

O spread entre os títulos franceses e o benchmark alemão aumentou ainda mais, e a liquidação do euro ganhou ritmo.

Desde que Macron convocou eleições antecipadas no início de junho, o CAC 40 da França caiu quase 10% e é a maior queda entre as principais economias da UE. Ele fechou estável nesta segunda-feira, depois de cair mais de 1% no início do dia.

Apelo

Barnier pediu aos parlamentares que não apoiem o voto de desconfiança. “Chegamos à hora da verdade… os franceses não nos perdoarão por colocarmos os interesses dos indivíduos acima do futuro do país”, disse, com o destino de seu governo nas mãos do Parlamento fragmentado, resultado de uma eleição inconclusiva convocada por Macron em junho.

Continua depois da publicidade

O governo minoritário de Barnier contava com o apoio do RN para sua sobrevivência. O projeto de lei orçamentária, que busca controlar o crescente déficit público da França por meio de 60 bilhões de euros em aumentos de impostos e cortes de gastos, rompeu esse tênue vínculo.

A comitiva de Barnier e o grupo de Le Pen culparam um ao outro e disseram terem feito tudo o que podiam para chegar a um acordo e que estavam abertos ao diálogo.