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Enquanto manifestantes venezuelanos vão às ruas para exigir que o presidente Nicolás Maduro assuma a derrota após uma eleição controversa, ativistas pelos direitos digitais dizem que o governo está usando a tecnologia para atingir e intimidar seus críticos.
Autoridades têm pedido que cidadãos façam relatos online de “ameaças” de manifestantes. A especialista em direitos digitais, Raisa Urribarri, disse que canais sociais pró-governo que compartilham imagens de prisões também estão alimentando um “clima de terror”.
“A estratégia do governo Maduro… é instalar o terror na população para que eles não saiam para protestar”, disse Urribarri, consultora independente de direitos digitais e professora emérita da Universidade de Andes, na Venezuela.
O governo não respondeu a um pedido por comentário em um primeiro momento.
Na semana passada, a autoridade eleitoral declarou que Maduro havia conquistado um terceiro mandato com 51% dos votos. O anúncio provocou alegações generalizadas de fraude.
O governo afirmou que os protestos fazem parte do que disse ser uma tentativa de golpe apoiada pelos Estados Unidos.
Maduro disse no domingo que mais de 2.000 pessoas foram presas em associação a “crimes” nas manifestações e que aqueles considerados culpados receberão “punição máxima”.
Ativistas pelos direitos digitais afirmam que o governo venezuelano usou ferramentas tecnológicas para identificar, intimidar e perseguir dissidentes políticos, jornalistas e defensores dos direitos humanos.
O VenApp — única maneira de cidadãos relatarem problemas com serviços como água e fornecimento de eletricidade ao governo — foi atualizado após as eleições com uma página para denúncias de “guarimbas fascistas”.
O termo literalmente significa “protestos fascistas” e é comumente utilizado por autoridades para se referir a protestos da oposição.
Desde então, o aplicativo foi removido das lojas online da Apple e do Google. Usuários na Venezuela disseram que ele ainda é compartilhado por outros canais, mas a página para denunciar manifestantes não está mais carregando.
De qualquer maneira, a campanha efetivamente facilitou “acusações em massa nas quais venezuelanos delatam as atividades online e offline de seus vizinhos”, disse Andrés Azpúrua, diretor da VE Sin Filtro, projeto de vigilância que documenta desligamentos da internet no país.
(Reportagem de Diana Baptista na Cidade do México, Lucia Cholakian Herrera em Buenos Aires e Avi Asher-Schapiro em Los Angeles)