Escolhido por Trump, JD Vance reforça campanha conflituosa nos EUA, diz analista

Para Ryan Bohl, analista sênior de geopolítica na consultoria americana RANE, possível trégua na tensão política local tem prazo de validade curto

Marcos Mortari

Senador dos EUA, JD Vance, em evento realizado pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em Youngstown, Ohio, (REUTERS/Shannon Stapleton/File Photo)
Senador dos EUA, JD Vance, em evento realizado pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em Youngstown, Ohio, (REUTERS/Shannon Stapleton/File Photo)

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A decisão do ex-presidente Donald Trump de anunciar o senador JD Vance (Partido Republicano, Ohio) como vice em sua chapa para as eleições nos Estados Unidos reforça a percepção de que uma possível trégua na tensão política local tem prazo de validade curto, segundo Ryan Bohl, analista sênior de geopolítica na consultoria americana RANE.

Em entrevista concedida ao InfoMoney nesta segunda-feira (15), o especialista disse que, a despeito das apostas por discursos menos conflituosos na Convenção Nacional do Partido Republicano, que selará nesta semana a candidatura de Trump à Casa Branca, os efeitos da polarização devem voltar à tona em breve com o avanço das campanhas.

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“No curto prazo, há um chamado das duas campanhas para distensionar a retórica. (…) Agora, no longo prazo, será mais difícil sustentar essa posição”, avalia Bohl. Ele sustenta que, desde o atentado contra Trump, no último sábado (13), não houve mudanças estruturais nas percepções das distintas forças políticas no país.

“Não muitas ideias mudaram por esse evento. Diversos estereótipos foram reforçados em várias direções. A esquerda já acredita no que irá acreditar e a direita já acredita no que irá acreditar, e não há mais um centro restante nos EUA”, diz o especialista.

“Como resultado, as campanhas vão voltar a ser conflituosas. Eu apostaria que, em cerca de um mês, quando um novo ciclo continuar a avançar, Biden voltará a chamar Trump um ditador, autoritário, e Trump voltará a chamar Biden muito fraco, traidor dos Estados Unidos”, aposta.

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Nesta segunda-feira (15), apenas dois dias após ser atingido de raspão por um tiro durante comício em Butler (estado da Pensilvânia), Trump anunciou JD Vance para ser seu companheiro de chapa nas eleições presidenciais americanas. Vance, de 39 anos, já foi crítico feroz do ex-presidente, mas os dois se aproximaram durante as eleições em que o agora vice na chapa conquistou um assento para o Senado. No Legislativo, ele virou porta-voz de posições de Trump, chegando inclusive a questionar a legitimidade da eleição de 2020, que selou vitória de Joe Biden, que agora tenta a reeleição.

Para Bohl, a escolha reforça a tendência beligerante das campanhas para a corrida presidencial na maior economia do mundo. “Obviamente, JD Vance foi escolhido muito antes da tentativa de assassinato. E essa escolha foi claramente feita olhando para a base [republicana]“, observa.

“Ele é muito popular na base republicana, muitas de suas ideias são populares, como America First (EUA primeiro, mote de campanha de Trump), crenças em um governo com fortes poderes, particularmente o poder da Presidência para remodelar a cultura americana para favorecer a direita. São todas políticas muito conflituosas e muito divisivas. Isso reforça por que eu não espero que Trump seria capaz de manter o tom moderado. Só se passaram 3 dias da tentativa de assassinato. Será mais fácil para esse discurso imediato parecer conciliatório, [mas] será difícil para ele manter-se conectado a ele nos próximos meses”, prossegue o especialista.

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Segundo Bohl, tradicionalmente candidatos a vice na política americana trazem às campanhas agendas mais radicais, que normalmente os titulares da chapa têm espaço mais reduzido para vocalizar. Mas este não parece ser o caso do desenho costurado para a campanha Republicana de 2024. “Podemos esperar que JD Vance possa dizer coisas mais radicais, por exemplo. Mas Trump gosta de ser a estrela do próprio show”, conclui.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.