Equador passa a exigir visto para chineses após aumento de fluxo migratório

Entre 2023 e 2024, mais de 32 mil cidadãos chineses ficaram no país após o prazo permitido de 90 dias, o que fortalece a tese de que o Equador virou um local de trânsito para quem quer imigrar ilegalmente para os EUA

Roberto de Lira

Bandeira do Equador (Foto: Shutterstock)
Bandeira do Equador (Foto: Shutterstock)

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Após o que classificou como um “aumento incomum do fluxo migratório”, o Equador anunciou que está retomando a exigência de vistos de turistas para chineses que querem entrar no país.

A decisão adotada pelo governo de Daniel Noboa é, na verdade, uma revisão da  política de “portas abertas” estabelecida em 2015 na gestão de Rafael Correa e se deu em um contexto de aumento da imigração ilegal.

Pela nova orientação, viajantes de nacionalidade chinesa terão que entrar em território equatoriano com visto a partir de 1º de julho. O jornal El Universo conta que o governo constatou que nos últimos meses muitos cidadãos chineses que chegaram ao Equador não saíram dentro do prazo permitido, que é de 90 dias a partir da entrada no território nacional.

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De acordo com dados divulgados pelo Ministério de Relações Exteriores, entre 2023 e 2024, o fluxo de entrada chegou a 66.189 pessoas e o fluxo de saída foi de 34.209, o que significa que cerca de 32 mil pessoas registraram sua entrada, mas aparentemente não deixaram o território equatoriano.

O governo alertou que vários relatórios de organizações internacionais e instituições migratórias indicam que a maior parte do fluxo de cidadãos chineses é direcionada para os Estados Unidos, principalmente através do Darien, um trecho de floresta densa que atravessa o norte da Colômbia e o sul do Panamá.

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Carlos Estarellas Velázquez, professor especialista em direito internacional, disse ao jornal que a exigência de visto é adequada, pois considera que o país se tornou um “paraíso migratório” e um local de trânsito pelo fato de o direito à cidadania universal ter sido estabelecido na Constituição.

“Acho que situações semelhantes também devem ser tomadas com outros países, de outras nacionalidades, onde as pessoas entraram como turistas e ficaram ilegalmente no país”, avaliou.

Já William Murillo, responsável pela organização 1800-Migrante pelos Direitos dos Migrantes, diz que é importante que o governo Noboa mude a política de “portas abertas” estabelecida por Correa.

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“O Equador tornou-se, ano após ano, um país de trânsito justamente porque não há maiores controles. E vimos nos últimos anos que o crime organizado está usando o Equador como principal porta de entrada para o continente, da Europa, da África e do Oriente Médio”, afirmou.

Ele também explica que o governo Noboa deve usar a nova política migratória anunciada com a China para “mudar a política de portas abertas como moeda de troca e negociação com os Estados Unidos”, porque, em sua opinião, a medida “ajuda mais os EUA” a impedir a entrada de mais cidadãos estrangeiros do que ao próprio Equador.

Enquanto isso, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, disse que seu país se opõe firmemente a qualquer forma de imigração ilegal. “Nos últimos anos, as agências de aplicação da lei chinesas tomaram medidas fortes para combater crimes que dificultam a gestão das fronteiras nacionais e mantiveram uma postura rigorosa e de alta pressão contra todos os tipos de imigrantes ilegais”, disse.

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Lin destacou que o acordo de isenção de visto entre China e Equador tem desempenhado até agora um “papel importante e positivo” no intercâmbio de pessoal e na cooperação entre os dois países.

No entanto, ele não mencionou se essa decisão será recíproca e impedirá que cidadãos equatorianos entrem no gigante asiático sem visto no futuro. Atualmente, viajantes com passaporte equatoriano podem entrar na China por 30 dias sem visto.