Entenda o “rug pull”, golpe de criptomoedas que abala Milei na Argentina

Presidente argentino é acusado de inflar valor de token antes de sua desvalorização abrupta; entenda a suposta fraude

Paulo Barros

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O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta mais de 100 processos na Justiça argentina relacionados à promoção da criptomoeda $LIBRA, que sofreu uma desvalorização abrupta após uma publicação do mandatário “hermano” nas redes sociais. Segundo registros acessíveis publicamente em tecnologia blockchain, confirmados pelo InfoMoney, o ativo digital foi criado cerca de 3 minutos antes da postagem de Milei, que foi apagada pouco depois de ir ao ar.

O caso levantou suspeitas de um golpe conhecido como “rug pull”, uma prática fraudulenta comum no universo das criptomoedas. Mas afinal, o que é um rug pull e como ele funciona?

O que é rug pull?

O termo “rug pull” pode ser traduzido como “puxada de tapete” e descreve um golpe no qual os criadores de uma criptomoeda ou projeto digital incentivam investidores a comprarem o ativo, prometendo altos retornos e benefícios futuros.

Após atrair um grande volume de compradores e inflar o valor do token, os desenvolvedores vendem rapidamente suas próprias participações e abandonam o projeto, resultando em uma queda abrupta no preço. Com isso, os investidores que ainda possuem o ativo sofrem grandes prejuízos, enquanto os fraudadores lucram com a alta artificial.

Esse tipo de fraude se tornou comum no mercado cripto, especialmente entre projetos sem regulamentação ou transparência. Em muitos casos, os tokens envolvidos no golpe não possuem utilidade real, servindo apenas como um mecanismo para atrair e enganar investidores.

O caso Milei e a suspeita de rug pull

Na última sexta-feira (14), Javier Milei publicou um post no X promovendo a criptomoeda $LIBRA, afirmando que o ativo tinha o objetivo de “estimular o crescimento econômico e financiar pequenos negócios”.

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O post gerou um grande aumento no volume de compras do token, fazendo seu preço disparar. No entanto, algumas horas depois, o presidente apagou a publicação, alegando que não tinha conhecimento detalhado do projeto e que decidiu retirar o post para evitar especulação.

Com a exclusão da postagem e a perda de credibilidade do ativo, o token desabou no mercado, resultando em milhões de dólares em perdas para investidores.

Criptomoeda promovida por Milei “evaporou” em questão de horas (Foto: Reprodução/Dexscreener)

Indícios de golpe

A situação fez com que surgissem as primeiras acusações de um possível rug pull, já que a criptomoeda valorizou de forma expressiva antes de seu colapso, um movimento típico desse tipo de golpe.

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Mais tarde, veio à tona um outro elemento típico desse tipo de fraude: segundo dados da blockchain, uma única carteira digital detinha a maioria dos tokens $LIBRA criados. Estima-se que cerca de 80% tenha ficado nas mãos dos criadores.

De acordo com a empresa de inteligência de criptomoeda Lookonchain, pelo menos duas carteiras digitais vinculadas ao projeto Libra embolsaram US$ 107,3 milhões, entre unidades de criptomoedas USD Coin (USDC) e Solana (SOL).

Milei pode ser responsabilizado?

Até o momento, a Justiça argentina está analisando se a postagem de Milei teve um impacto direto na manipulação do mercado e se o presidente ou sua equipe tiveram vantagem financeira direta com o colapso da criptomoeda.

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De acordo com a Associated Press, advogados que entraram com ações judiciais contra Milei argumentam que o presidente teve papel essencial na valorização artificial do ativo, o que pode configurar fraude financeira.

A Casa Rosada negou qualquer envolvimento de Milei no projeto e alegou que o presidente frequentemente compartilha iniciativas privadas sem vínculo direto com elas. No entanto, o governo admitiu que Milei e sua equipe se reuniram com os desenvolvedores da criptomoeda antes do escândalo.

Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas