Eleições nos EUA: o que acontece após desistência de Biden?

Veja datas para ficar de olho, quem poderá assumir vaga além de Kamala Harris e como mudança pode afetar campanha do favorito Trump

Equipe InfoMoney

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou neste domingo (21) sua desistência da corrida eleitoral para a Casa Branca, e endossou a candidatura da vice-presidente Kamala Harris. No entanto, o caminho até as eleições ainda está longe de uma definição – apesar de faltarem apenas quatro meses para o pleito.

Mas, quais são as possibilidades que se desenham para o partido da situação a partir daqui? Confira, a seguir, as opções que os democratas têm na mesa para enfrentar Donald Trump em novembro, e quais são os cenários mais prováveis, segundo a opinião de analistas.

Quem assume no lugar de Biden?

Joe Biden ofereceu apoio a Kamala Harris, mas isso não significa que ela será automaticamente a candidata democrata à presidência. Isso porque nem Biden havia ainda sido oficializado como candidato, e tampouco Kamala é unanimidade dentro do partido.

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Um dos motivos é a rejeição da vice em estados considerados chave para decidir as eleições, conhecidos como swing states. Além disso, há outros nomes correndo por fora e que, pelas regras do partido Democrata, ainda podem pleitear a formação da chapa.

O mercado de apostas dos EUA, que costuma ser um bom termômetro para a opinião pública por lá, coloca como opções alternativas à Kamala, neste domingo:

Outros nomes que já ventilados anteriormente, mas não têm destaque no mercado de apostas, são:

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Quem é o favorito agora?

Segundo dados compilados pelo site Real Clear Polling divulgados na noite de domingo, o mercado de apostas coloca 59,5% de chances de Donald Trump vencer a disputa em novembro e voltar à Casa Branca, 2,5 ponto a menos do no sábado (20), antes da desistência de Biden. Kamala Harris aparece com 30,5%% das apostas, mais de 12 pontos acima do visto na véspera. Em terceiro lugar está a ex-primeira dama dos EUA, Michelle Obama, com 3,6%, ante 2,8% no sábado.

Na sequência, vários nomes com menos de 2% das apostas. O governador da Califórnia, Gavin Newson, perdeu posições e aparece com 1% no compilado de casas de apostas, atrás da governadora de Michigan, Gretchen Whitmer (1,3%), do democrata que deseja concorrer como independente Robert Kennedy Jr. (1,4%) e da candidata derrotada por Trump em 2016, Hillary Clinton (1,5%).

(Foto: Reprodução/Real Clear Polling)

O que joga a favor de Kamala

Kamala tem alguns ativos que poderá explorar na corrida pela indicação do partido. Um deles é o fato de que, apesar de ser vice, ela não é tão conhecida do público, o que em tese deixaria aberta a possibilidade de reversão da rejeição registrada em alguns estados.

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Outro ponto positivo – e talvez o mais importante – seja o acesso às doações já realizada à campanha, que somavam na ordem de US$ 91 milhões até final de maio.

Como Kamala também está nos documentos de registro da campanha, muitos especialistas acreditam que o dinheiro poderia ser transferido para ela se ela estiver na chapa. Mas há algum debate sobre se Biden precisaria ser oficialmente nomeado primeiro como candidato do partido antes que uma transferência pudesse ser feita.

No caso de uma chapa totalmente nova, nada feito: os esforços de doação, que podem ser hercúleos em condições normais de uma campanha presidencial nos EUA, teriam que ser começados do zero a pouco tempo do dia da votação – o que daria nova vantagem para o já favorito Donald Trump.

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Como desistência afeta Trump?

Logo após Biden confirmar que estava deixando a disputa, Donald Trump ironizou o apoio do rival a Kama Harris e disse que seria mais fácil vencê-la do que o atual presidente. Mas, analistas opinam que não deverá ser bem assim.

Maurício Moura, sócio do fundo Gauss Zaftra e professor da Universidade George Washington, há perspectiva de melhora nas chances eleitorais dos democratas porque a disputa deixa de ser sobre as condições de saúde de Biden e volta a colocar o foco sobre a volta de Trump.

“Independentemente de quem seja o candidato ou a candidata [democrata], vamos entrar no campo [da narrativa]: ‘você quer Trump de volta ou não?’. Essa pergunta vai ganhar mais força do que se o presidente tem condições de continuar ou não – tema que ficou muito forte depois do debate”, argumenta.

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“Trump estava vivendo o mundo ideal de qualquer campanha. Estavam falando do adversário, e não dele. Trabalhando em campanha eleitoral, aprendi uma expressão que diz: ‘quando seu adversário está errando, você deixa ele errar’. Era o que estava acontecendo, só se falava no Biden”, analisa Moura.

Quem escolhe o candidato?

A escolha oficial do candidato democrata será conhecida na Convenção Nacional Democrata, que será realizada de 19 a 22 de agosto.

Os possíveis novos nomes que podem surgir para disputar a vaga contra Kamala, no entanto, deverão apresentar a documentação ao partido até o dia 7 de agosto.

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Segundo Elaine Kamarck, membro sênior do think tank Brookings Institution e do Comitê Nacional Democrata e autora do livro “Primary Politics“, “Biden passou os últimos meses acumulando quase 4.000 delegados democratas ao vencer as eleições primárias nos estados e territórios dos EUA. Normalmente, esses delegados votariam nele para ser o candidato presidencial oficial do partido, mas as regras não os vinculam nem os obrigam a fazer isso”, disse em entrevista à Reuters.

A especialista destaca que os delegados podem votar de acordo com sua consciência, principalmente com Biden “liberando” seus delegados ao desistir da campanha.

Mas isso também pode significar que eles tenham o desejo de voltar em nomes diferentes do de Kamala.

Como substituto será escolhido?

Segundo Kamarck, pode haver uma espécie de vale-tudo entre os pesos pesados democratas que disputam o cargo. De acordo com a Ballotpedia, espera-se que haja cerca de 4.672 delegados em 2024, incluindo 3.933 delegados prometidos e 739 chamados superdelegados (membros seniores do partido).

Para garantir a indicação, um candidato precisaria obter a maioria — ou seja, mais votos do que todos os outros juntos.

Se ninguém conseguir isso, haverá uma “convenção intermediada”, na qual os delegados agirão como agentes livres e negociarão com a liderança do partido.

As regras seriam estabelecidas e haveria votações nominais para os nomes indicados.

E se não houver consenso?

Podem ser necessárias várias rodadas de votação para que alguém obtenha a maioria e se torne o candidato, explica Kamarck. “A última convenção intermediada em que os democratas não conseguiram indicar um candidato na primeira votação foi em 1952”.