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O espetáculo cultural das touradas, que remonta a quase 500 anos de história, pode estar com dias contados na Cidade do México. Após algumas proibições temporárias ordenadas pela Justiça Federal do país, o fim da prática deve ser apreciado pelo Congresso da capital mexicana entre fevereiro e março deste ano.
No início do mês, o Instituto Eleitoral da Cidade do México (IECM) notificou o Congresso da capital que foi dado um parecer positivo ao pedido feito por uma iniciativa cidadã defendendo a proibição de espetáculos públicos, privados e itinerantes com animais, especialmente as touradas, embora tenham sido citados outros eventos como rinhas de galos.
A iniciativa cidadã é um mecanismo de democracia direta por meio do qual os cidadãos apresentam ao Congresso projetos de criação, modificação, reforma e revogação de leis ou decretos. no âmbito de sua competência. Para que um pedido tenha tratamento preferencial pelo Legislativo local é preciso um apoio mínimo de 0,25% dos eleitores. As mais de 27 mil assinaturas colhidas representam o apoio de 0,35% da lista nominal de eleitores da capital.
Mesmo com os protestos tanto internos como no exterior estejam crescendo – até o ex-Beatle Paul McCartney tem emprestado sua imagem para combater as touradas – o tema envolve questões culturais, políticas e até econômicas. Portanto, não há consenso sobre o fim das corridas de touros ou mesmo sobre mudanças que possam mudar os eventos e atenuar o sofrimento dos animais.
O InfoMoney listou alguns dados, informações e curiosidades sobre o tema. Veja abaixo:
Quando começaram as touradas no México?
No México, a tauromaquia – nome dado à prática de tourear os animais – começou com a conquista espanhola. Embora haja relatos de touradas em 1526, oficialmente a primeira teria ocorrido em13 de agosto de 1529, para festejar a tomada de Tenochtitlán. Esse evento aconteceu na Plaza Mayor, uma vez que não havia um lugar dedicado para esse fim. Em 1946, foi inaugurada a Plaza México, a maior do mundo, com capacidade para mais de 46 mil espectadores. Esse é o local que tem recebido mais sanções da Justiça Federal desde 2022.
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Onde ainda se praticam touradas legalmente? Onde são proibidas?
Sete países em todo o mundo ainda realizam espetáculos ou feiras taurinas: Equador, Espanha, França, México, Peru, Portugal e Venezuela. Em alguns desses países, há regiões que já aboliram a prática, como nas comunidades autônomas espanholas das Canárias e Catalunha. Em outros, modificações foram adotadas – em Portugal, por exemplo, o animal não é morto em frente ao público; no Equador, a morte do touro está proibida. O Congresso da Colômbia votou pela proibição total no ano passado. No México, apenas quatro dos 32 estados proibiram de vez a “fiesta brava”.
O que dizem os defensores da proibição?
Basicamente, os ativistas antitaurinos citam a violência física e psicológica contra os animais, que são seres sencientes. As condições de criação e transporte dos animais à arena também são criticadas. Durante uma tourada, que dura cerca de 20 minutos, o touro bravo é submetido a ferimentos que têm por objetivo reduzir sua força e agilidade, nos chamados terços das “varas”, e das “bandarilhas”, quando o animal perde muito sangue. No terço da “muleta”, o toureiro matador enfia uma espada curva de dois gumes, com 80 centímetros de comprimento, visando ao coração do touro. Se não acertar o alvo precisamente, a espada causa lesões nos pulmões e nos tubos bronquiais, fazendo o touro sufocar. Se ainda assim ele não morrer, uma adaga chamada de “descabello” é usada em um “golpe de graça”, cortando a medula espinhal.
O que dizem os defensores da manutenção?
O argumento mais usado pelos defensores da tauromaquia no Mexico é que essa é a atividade cultural de assistência massiva mais antiga do país, com quase 500 anos – mais antiga portanto que a devoção à Virgem de Guadalupe, padroeira da América. Para entidades do setor, a tourada é parte inalienável da identidade do povo e sua existência permite a conservação de patrimônios culturais das localidades onde ela é praticada. Há ainda uma defesa dos direitos constitucionais de aceso à cultura; ao desenvolvimento livre da personalidade; à livre expressão artística; à liberdade de trabalho; e da atividade econômica – a cadeia como um todo empregaria entre 20 mil e 30 mil pessoas. A raça de touros bravos, também alegam o defensores, foi criada especificamente para esse fim e seria extinta sem as touradas. Também dizem que os animais não sofrem – o sofrimento seria um “aprendizado humano” – e que eles não entenderiam o conceito da morte.